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Cerca de 25 mil pessoas voltaram ao Centro Cívico um ano depois da batalha. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Cerca de 25 mil pessoas voltaram ao Centro Cívico um ano depois da batalha.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Em 29 de abril de 2015, professores e servidores estaduais manifestavam em frente à Assembleia Legislativa do Paraná contra o projeto de lei encaminhado pelo Executivo para autorizar a utilização do Fundo Previdenciário para equilibrar as contas do estado. O resultado é conhecido: mais de 200 pessoas saíram feridas depois de uma ação da Polícia Militar, que utilizou bombas de efeito moral e balas de borracha contra os servidores.

Naquele 29 de abril, o governador Beto Richa (PSDB) não estava no Palácio Iguaçu, vizinho da Alep, e despachava do Chapéu Pensador, no bosque da Copel. Na última sexta-feira (29), novamente, cinco quilômetros separaram o governador dos manifestantes que voltaram ao Centro Cívico para relembrar os acontecimentos de um ano atrás. O “afastamento” do governo representa, para os servidores, a manutenção dos impasses com a entidades sindicais, principalmente a APP, que representa os professores.

Mesmo sem a separação física, para o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, Richa está distante da busca por soluções para o conflito contínuo com os professores. De acordo com o professor, de um ano para cá, algumas portas se abriram no Palácio Iguaçu, mas não do gabinete do governador. “De fato há mais negociação. Mas, desde o começo do seu segundo mandato, o governador não participa de reuniões da categoria, como chegou a fazer anteriormente e terceirizou o papel aos seus secretários”, disse.

O chefe da Casa Civil Valdir Rossoni contrapõe os argumentos de Leão. “Estamos olhando para a frente. Temos tido várias reuniões, mas temos que administrar o estado, não apenas os desejos da APP”, disse. “Nossas pautas estão sendo recebidas, mas pouca coisa é solucionada. Os secretários não podem tomar decisões pelo governador, que deveria estar fazendo essa mediação”, comentou o representante da APP.

Consequência

Uma das provas dessa falta de entendimento ficou evidente nesta sexta. Em reunião com a APP na quinta-feira (28), Rossoni avisou que as faltas dos servidores decorrentes da participação nas manifestações vão gerar descontos na folha de pagamento. “Todo trabalhador que não comparece tem desconto, isso não é uma exceção”, reiterou.

Já o presidente da APP afirmou que a questão ainda está em aberto e que uma nova reunião foi marcada para a próxima quarta-feira (4) para fechar a questão. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, 45% das 2,1 mil escolas da rede pública estadual fecharam por causa da manifestação, enquanto 32% funcionaram parcialmente e 23% permaneceram abertas.

Efeitos negativos

Para o cientista político da UFPR Sergio Braga, o desgaste provocado pela conhecida “Batalha do Centro Cívico”, no ano passado, ainda produz muitos efeitos negativos sobre a possibilidade de diálogo entre governo e servidores estaduais. “É um conflito que ainda deixa cicatrizes que demoram tempo para diminuir. Mesmo assim, não deve haver esquecimento [sobre o ato], o governo Beto Richa ficou marcado”, avalia.

Para o especialista, a falta de responsabilização – ou mesmo de admissão de culpa – do governo sobre possíveis excessos cometidos na ação policial de 29 de abril ajuda a manter uma clima de animosidade com os envolvidos no episódio. “O deputado [Fernando] Francischini [então secretário de segurança do Paraná], por exemplo, continua insistindo em desqualificar os professores frente à ação da polícia”, diz.

Segundo Braga, a manutenção clara de uma política de ajustes ficais também prejudica a recuperação da imagem do governador. “Ele não precisa se deixar levar por esse clima de animosidade. Para melhorar a situação, ele tem que reabrir o diálogo, manter a grandeza de estadista e melhor dialogar com o Legislativo. Só assim ele poderá explicar abertamente porque a política fiscal é dessa forma”, aponta.

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