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Popularidade do governador Beto Richa em Curitiba é baixa. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Popularidade do governador Beto Richa em Curitiba é baixa.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Depois de enfrentar turbulências em sequência desde que foi reeleito, o governador Beto Richa (PSDB) vive momentos de rara calmaria à frente do Palácio Iguaçu.

Conseguiu emplacar aliados nas prefeituras da maior parte do Paraná – com destaque para Curitiba – e se vê a uma distância relativamente segura do caos financeiro enfrentado por outros estados.

A bonança política, porém, não se reflete nas ruas, onde a grande maioria ainda desaprova a gestão do tucano. “Não posso me apegar a pesquisas. Estou concentrando minhas energias em ser um bom governante, em recuperar cada vez mais a capacidade do estado de investir”, afirma.

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Para quem se reelegeu no primeiro turno em 2014 contra adversários pesados – os senadores Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) – e com um discurso de “casa em ordem”, “máquina azeitada” e “o melhor está por vir”, Richa, ao contrário do que se podia imaginar, passou quase dois anos apagando incêndios.

Foi um período de ajustes fiscais, greves do funcionalismo, denúncias de corrupção e o episódio da Batalha do Centro Cívico.

O reflexo de uma agenda tão negativa está na popularidade do governador. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas realizado há um mês aponta que 71,4% dos curitibanos – principal eleitorado do tucano − desaprovam a administração estadual.

No campo político, por outro lado, Beto Richa vislumbra um cenário de surpreendente calmaria no atual mandato. Nas eleições municipais de outubro, conseguiu eleger Rafael Greca (PMN) na capital e dezenas de aliados pelo interior.

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Além disso, manteve as contas do estado – ainda que com medidas impopulares como o adiamento do reajuste dos servidores – num nível completamente diferente de estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que decretaram situação de calamidade financeira.

À reportagem, Richa atribui essa calmaria ao “ajuste das contas do estado”. Segundo ele, as medidas tomadas até agora permitiram uma “folga de caixa” para investimentos pelo estado, pagamento em dia de servidores e fornecedores e não paralisação de obras.

“Vejo com tristeza as maiores economias do Brasil decretando calamidade financeira. Já o Paraná dá exemplo de uma gestão responsável e com planejamento, permitindo resultados positivos em todas as áreas”, afirma o tucano. “O reconhecimento da sociedade quando faz essa comparação com outros estados acabará acontecendo.”

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Questionado por que esse cenário desenhado por ele não se reflete em pesquisas de opinião, ele diz não ligar para isso, citando, por exemplo, que os levantamentos não apontavam a vitória dele no primeiro turno em 2010 e 2014.

Para o governador, era natural que sua popularidade caísse diante das” medidas impopulares” que tomou. “Não me arrependo de ter tomado essas decisões e tenho a consciência tranquila, porque, a cada resultado, o Paraná é destaque positivo no cenário nacional, mostrando que elas foram acertadas e bem-sucedidas. Mas é claro que espero que a recuperação [da minha popularidade] acabe acontecendo.”

A preocupação de Beto Richa nesse sentido cresce na medida em que se aproxima a próxima eleição. Tudo leva a crer que ele renunciará ao governo do estado em abril de 2018 para poder concorrer a uma das duas cadeiras que estarão em disputa pelo Paraná.

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Número dois no Executivo estadual desde março do ano passado, Valdir Rossoni (PSDB) afirma que uma das explicações para a calmaria política no Centro Cívico é a unidade que a Casa Civil tem procurado dar ao governo.

Segundo ele, a orientação ao secretariado é se comprometer fielmente às propostas que o governador Beto Richa (PSDB) fez aos paranaenses. “Temos certeza de que estamos fazendo o correto. Com o tempo, isso vai aparecer nas pesquisas, não vai ser de uma hora para outra”, afirma.

Já o líder do PT na Assembleia Legislativa, deputado Professor Lemos, diz que a aparente calmaria do governo Richa não corresponde à realidade. Ele afirma que os servidores seguem insatisfeitos com a postura do governo de protelar o pagamento do reajuste salarial e de promoções e progressões atrasadas, enquanto a população foi injustamente penalizada pela incompetência do tucano.

“O governo do Paraná foi o primeiro a tomar medidas contra a crise porque foi o primeiro a quebrar. Ele [Richa] encerrou o primeiro mandato sem conseguir honrar a folha nem pagar fornecedores”, ataca. “O governador vai sair sem ter deixado uma única marca positiva, um único programa criado. Isso explica a rejeição dele.”

Dois anos de turbulência

Reeleito ainda no primeiro turno em 2014 com o slogan “o melhor está por vir”, o governador Beto Richa (PSDB) passou os dois primeiros anos do segundo mandato num inferno astral permanente. Foram ajustes fiscais, greves, denúncias de corrupção no governo e a fatídica Batalha do Centro Cívico. Agora, vendo os outros estados mergulhados na crise e tendo emplacado prefeitos aliados na maior parte do estado − incluindo Curitiba −, o tucano vislumbra um 2017 mais tranquilo. Relembre os momentos mais turbulentos do segundo governo Richa:

1. Dezembro de 2014

Sob crítica pesadas, Richa promoveu um tarifaço logo após ter sido eleito com o discurso de que as contas do estado estavam em ordem. Aumentou de 12% para 18% a alíquota do ICMS sobre até 95 mil itens de consumo popular; em 40% a alíquota do IPVA; e em um ponto porcentual a do ICMS do álcool e da gasolina.

2. Janeiro de 2015

Em crise financeira, o Executivo estadual não conseguiu cumprir com o pagamento do abono de férias e a rescisão de todos os professores temporários. Naquele mês, o governador chegou a adiar o pagamento do salário dele, da vice e do secretariado. Para pagar a folha de pessoal, Richa teve de pedir socorro aos outros poderes do estado.

3. Fevereiro de 2015

O governo anunciou um contingenciamento de R$ 11 bilhões no orçamento daquele ano − montante correspondente a 25% de todo o caixa do estado − até que as receitas melhorassem. Em paralelo, o envio ao Legislativo de um pacote de austeridade provocou a invasão e ocupação do plenário da Casa.

4. Março de 2015

Parente de Richa, o empresário Luiz Abi Antoun foi preso pela Operação Voldemort sob a acusação de ser o mentor de um esquema que teria fraudado licitações no governo.

5. Abril de 2015

Ao tentar aprovar reformas na Paranaprevidência, uma batalha campal entre servidores públicos e a Polícia Militar terminou com 213 feridos em frente à Assembleia Legislativa.

6. Maio de 2015

O auditor fiscal Luiz Antônio de Souza afirmou que a campanha de reeleição de Richa recebeu R$ 2 milhões arrecadados com o esquema de corrupção na Receita Estadual investigado pela Operação Publicano.

7. Junho de 2015

Após um primeiro semestre letivo praticamente perdido em virtude da paralisação dos professores da rede estadual, os docentes decidiram encerrar a greve da categoria e voltar às salas de aula.

8. Outubro de 2015

Após receber dezenas de críticas, o governo desistiu de fechar escolas por economia com aluguel de prédios.

9. Dezembro de 2015

O governo entrou em rota de colisão com o Judiciário ao cortar o repasse ao Tribunal de Justiça em R$ 100 milhões. À época, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, chamou os outros órgãos estaduais de “ilhas de prosperidade” e “privilegiados”, alegando que “esbanjam” recursos públicos.

10. Janeiro de 2016

Depoimentos colhidos no âmbito da Operação Quadro Negro, cujo escândalo estourou na metade de 2015 e que apura o desvio de recursos destinados a obras de escolas estaduais, sugeriram que o esquema de corrupção teria beneficiado a campanha de reeleição de Richa em 2014.

11. Março de 2016

O Superior Tribunal de Justiça autorizou abertura de inquérito contra Richa para apurar o suposto envolvimento dele no esquema de corrupção na Receita Estadual.

12. Julho de 2016

Ainda sob constante ajuste fiscal, o governo anunciou que não teria condições de cumprir com o cronograma previsto para pagar o reajuste salarial aos servidores e, ao mesmo tempo, garantir o pagamento de promoções e progressões na carreira do funcionalismo.

13. Outubro de 2016

Os professores da rede pública estadual cruzaram os braços por duas semanas após o envio à Assembleia do projeto adiando por tempo indeterminado o pagamento do reajuste do funcionalismo previsto para janeiro deste ano.

14. Novembro de 2016

Por pouco mais de um mês, alunos contrários à reforma do ensino médio proposta pelo governo federal ocuparam escolas por todo o estado. No ápice do movimento, 831 prédios foram ocupados pelos estudantes.

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