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Funcionários da Camargo Corrêa que chegaram para trabalhar, ontem pela manhã, encontraram a empresa fechada pela PF. Empreiteira disse ter sido invadida e negou acusações | Odival Reis/Agência O Globo
Funcionários da Camargo Corrêa que chegaram para trabalhar, ontem pela manhã, encontraram a empresa fechada pela PF. Empreiteira disse ter sido invadida e negou acusações| Foto: Odival Reis/Agência O Globo

A Polícia Federal prendeu ontem, em São Paulo e no Rio de Janeiro, quatro diretores e duas secretárias da construtora Camargo Corrêa, além de quatro doleiros. Eles são acusados de crime financeiro, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A quadrilha, que agia dentro da empreiteira, teria enviado pelo menos R$ 20 milhões ilegalmente ao exterior. A Operação Castelo de Areia, como foi batizada, também investiga o envolvimento da empresa, uma das maiores do país, em fraudes em licitações públicas e por fazer doações ilícitas a campanhas eleitorais.

Segundo a PF, a quadrilha movimentava o dinheiro por meio de empresas de fachada e de operações conhecidas como dólar-cabo, que não têm registro no Banco Central. O esquema lavaria o dinheiro através do depósito em conta brasileira de doleiros que possuem contas no exterior, para transferência ao destino final do dinheiro.

O delegado regional de combate ao crime organizado da superintendência da PF em São Paulo, José Alberto Iegas, ressaltou, no entanto, não ser possível dizer no momento se o dinheiro remetido ilegalmente era da empreiteira ou dos executivos da empresa.

Os quatro executivos da Camargo Corrêa detidos são Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Francisco Bianchi e Raggi Badra Neto. "Todos integravam, por serem diretores, a elite da administração da empresa. Esses diretores, através de empresas offshore, faziam remessas de quantias ao exterior. São várias as remessas duvidosas", disse o delegado.

As secretárias da empresa detidas – Marisa Berti Iaquino e Darcy Flores Alvarenga – também participariam da operação do esquema. E os quatro doleiros envolvidos são Jose Diney Mattos, Jadair Fernandes de Almeida, Maristela Brunet e Kurt Paul Pickel. Todos os pedidos de prisão foram decretados pelo juiz Fausto Martins De Sanctis, o mesmo da Operação Satiagraha.

O Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo, que trabalhou em conjunto com a PF, informou que a investigação apura ainda indícios de obras superfaturadas construídas pela Camargo Corrêa, além do financiamento ilegal de campanhas eleitorais.

Em nota, o MPF disse que a investigação se deparou com pelo menos uma obra superfaturada: a da refinaria Abreu Lima, em Suape, Pernambuco – encomendada pela Petrobras e que está sendo erguida em sociedade com a PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela. O superfaturamente da obra, segundo a promotora Karen Louise Jeanette Kahn, teria sido de R$ 70 milhões.

Segundo o MPF, o suposto esquema de corrupção teria desviado o dinheiro de obras públicas superfaturadas para abastecer contas ilegais no Uruguai, nas Ilhas Cayman, no Caribe, na Suíça e na Alemanha.

Já sobre as doações ilegais para partidos políticos, o Ministério Público esclareceu que ainda é preciso apurar quem são as pessoas e ou campanhas políticas beneficiárias dos recursos. Mas grampos telefônicos autorizados indicam que pelo menos sete partidos receberam doações ilegais: PSDB, PPS, PSB, PDT, DEM, PP e PMDB.

Embora não tenha sido preso ontem, um dos sócios da construtora, Fernando Arruda Botelho, é um dos alvos da investigação por ter supostamente participado da distribuição de dinheiro ilegal da empreiteira para partidos. Ele estaria agindo em nome da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entidade da qual é vice-presidente. A Fiesp negou as acusações.

Já a Camargo Corrêa manifestou, em nota, "sua perplexidade diante dos fatos ocorridos", sobretudo pelo fato de os seus funcionários terem sido presos dentro de sua sede, em São Paulo. A empreiteira considerou que "foi invadida". O Centro Empresarial Camargo Corrêa, em São Paulo, abriga várias em presas do grupo e a entrada principal foi fechada pela PF. Cerca de 1,8 mil funcionários trabalham no local e eles tiveram de esperar do lado de fora até que a operação acabasse.

A construtora rebateu ainda a suspeita de que possa ter realizado atos ilegais. Na nota, a Camargo Corrêa ressalta que "cumpre rigorosamente com todas as suas obrigações legais".

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