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 | Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
| Foto: Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Casos de tráfico de influência, como os revelados pela Operação Porto Seguro, são resultado de uma cultura do clientelismo, que vigora no Brasil desde suas origens. A avaliação é de Roberto Romano, professor de Filosofia e Ética Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

De que forma o poder público pode agir para combater o tráfico de influência?

Eu vejo que nós, como país, surgimos no seio do absolutismo. Esse regime é aquele que consegue alicerçar o poder na base do clientelismo, na troca de favores e de privilégios. Essa tradição foi sendo vivida pela sociedade, que passou a considerá-la base de sua existência. Hoje o provimento de cargos públicos é feito sem padrões objetivos, como eficiência e idoneidade. É apenas retribuição de favores políticos. Os funcionários comissionados nada mais são do que agentes eleitorais pagos com dinheiro público. Todas as políticas públicas estão concentradas no poder federal; tudo se decide a partir de Brasília. Isso faz com que os municípios precisem de intermediários, que vão cobrar pedágio por isso. Enquanto não houver autonomia para os municípios, tudo que se fizer para combater a corrupção será paliativo.

O governo federal deve editar em breve um decreto que estabelece a "ficha limpa" na administração pública. Essa pode ser uma medida eficaz ou é um paliativo?

Quando falo em medidas paliativas, não quer dizer que elas não tenham sua importância. A Lei da Ficha Limpa ajudou a criar uma consciência cidadã. As campanhas educativas ajudam nisso também. Mas é necessário modificar a estrutura federativa para que o governo não precise comprar o Congresso.

Falta estabelecer mecanismos para instituir uma separação entre o público e o privado?

Sem dúvida, essa separação é essencialmente liberal e democrática. O Brasil não é nenhum dos dois. É um gigante absolutista e imperial. Nós não tivemos uma revolução democrática, todas as tentativas nesse sentido foram reprimidas pelo poder central.

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