
Sorriso aberto, cabelos grisalhos meticulosamente penteados, gestos calculados. Assim como nos tempos de triunfo, antes de ser alvo de impeachment e deixar a Presidência da República, em 1992, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) voltou ontem à ribalta tendo como palco a Comissão de Infraestrutura, presidida por ele. Na primeira reunião, marcada para as 8h30 e iniciada com seis minutos de atraso, Collor adotou o antigo estilo "caçador de marajás" e aprovou ato de impacto midiático: a partir de agora, as autoridades indicadas para as agências reguladoras e sabatinadas na comissão terão de passar por um duro processo seletivo, além de comprovar que não têm débito fiscal no âmbito federal, estadual e municipal.
"Pelo que está no ato, não adianta só ter um padrinho forte. Queremos extrair o máximo dos candidatos. Além da idoneidade e isenção, que o indicado nos mostre sua visão estratégica, seus objetivos, o que pretende fazer nas agências. É importante que tenhamos uma noção exata de quem é verdadeiramente o indicado", argumentou Collor. "Se todos os indicados tiverem que trazer esses documentos todos e demonstrar sua capacidade para dirigir o órgão, ninguém conseguirá ser aprovado aqui", ironizou o senador Jaime Campos (DEM-MT). Collor estima que cerca de 50 autoridades são sabatinadas anualmente na Comissão de Infraestrutura.
Com o livro de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) debaixo do braço, o ex-presidente rebateu as declarações da oposição de que iria presidir a comissão na condição de "parceiro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". "Serei um parceiro dos interesses nacionais", disse. Diante da plateia atenta, ele aproveitou para criticar o governo: condenou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado na venda de veículos e renegociação de dívidas dos municípios inadimplentes, anunciada pelo presidente Lula durante encontro com prefeitos no mês passado.
"Nenhuma política dará resultado, como o pacote habitacional anunciado pela ministra Dilma (Rousseff, da Casa Civil), se não for resolvido o problema de inadimplência nos municípios. Não adianta anunciar pacote de habitação antes de equacionar a dívida dos municípios", afirmou o ex-presidente da República. "A redução do IPI traz muita vantagem para os estados produtores. Mas os estados consumidores estão sendo enormemente penalizados. Vou tentar fazer articulações junto ao governo para que essa regra não atinja os estados consumidores", prometeu.
A maioria dos 23 senadores da comissão fez questão de prestigiar a primeira reunião presidida por Collor.
-
Dino fecha o cerco a senadores indecisos para confirmar ida ao STF
-
Saiba quem foram os parlamentares de oposição que mais se destacaram em 2023, segundo think tank
-
Da neutralidade à omissão, da omissão à cumplicidade
-
Cúpula do Mercosul: Macron, Milei e Maduro frustram “liderança” de Lula na América do Sul