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Sábado é o dia em que a maioria das pessoas acorda mais cansada. Faz sentido: todos trabalhamos, no mínimo, cinco dias por semana. Sem contar que tem gente que emenda o sábado na labuta. Ou o domingo. Ou tem plantão. E, quando chega o fim de semana de folga, todos estão moídos. Ou melhor, quase todos.

Os deputados estaduais têm tudo para ser uma exceção. Devem ter acordado hoje tranquilos e descansados. Se tiverem trabalhado nos últimos três dias, afinal de contas, terá sido em tarefas que não têm absolutamente nada a ver com aquelas para as quais nós os pagamos. Regiamente, diga-se de passagem.

Passa-se o seguinte. Em tempos não eleitorais, e quando não estão em um dos três meses do recesso habitual, os deputados fazem sessões quatro vezes por semana. De segunda a quarta-feira, à tarde. Na quinta, já fazem o trabalho pela manhã. Assim, à tarde, já podem voltar para suas cidades. Suas "bases", como dizem. Para atender ao seu eleitorado. Já não é uma carga de trabalho pesada, convenhamos.

Em períodos eleitorais, mais interessados em visitar as bases para garantir a reeleição, eles cancelam a sessão de quinta. O que não fala muito bem deles, eticamente. E transferem a sessão de quarta para mais cedo. Assim, já no começo da tarde estão na estrada: repita-se, fazendo algo que não tem nada a ver com os salários que pagamos com o suor de nossos bolsos.

Se na eleição os quatro dias de trabalho viram três, nesta semana viraram dois. É que os deputados encontraram ainda mais um artifício para trabalhar menos. Na terça-feira, fizeram duas sessões à tarde. Isso prolongou o trabalho deles em aproximadamente duas horas. E acharam que a segunda sessão da terça poderia muito bem substituir a de quarta. Sendo assim, na terça à noite já estavam na estrada.

Ou seja: os deputados estaduais paranaenses conseguiram, na semana que passou, inventar um prodígio: o fim de semana prolongado de cinco dias. Como disse: se trabalharam de quarta para cá, foi unicamente com o objetivo de renovar o seu mandato. Afinal, quem não quer mais quatro anos garantidos em um emprego como este?

Curioso é que isso aconteça justamente numa semana em que os deputados aprovaram um avanço significativo, gigante mesmo, para a política do estado. A Lei da Transparência, proposta pela sociedade civil (OAB e Apajufe à frente), depois dos escândalos descobertos na Assembleia pela Gazeta do Povo e pela RPC TV, foi aprovada quase por unanimidade.

Vai trazer melhorias importantes. Finalmente ficam para o passado os atos e diários secretos. As nomeações de fantasmas. Os desvios de dinheiro que não tinham como ser comprovados. Tudo terá de ser publicado no Diário Oficial do Estado e na internet. Fim de papo.

No entanto, é importante mostrar que essa lei só saiu do papel e foi aprovada por pressão popular. Foi porque milhares de pessoas assinaram manifestos como o do movimento O Paraná que Que­­­remos. Foi porque milhares de pessoas enfrentaram o frio da Rua XV e das ruas do interior para protestar. E não porque os deputados simplesmente, do nada, aprenderam que transparência é algo que devam defender.

Fica a lição. Quando nos mobilizamos, as coisas mudam. Chegou a vez de cobrar que os deputados nos respeitem em outros aspectos também. Por exemplo, não aceitando a bizarria de criar em benefício próprio um feriadão inexistente, só para lhes facilitar a reeleição.

* No mês que passa, esta coluna completa quatro anos de existência. O autor agradece aos que dedicaram cinco minutos por sábado para lê-lo.

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