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Cada um tem sua teoria favorita sobre como melhorar a política brasileira. Uma coisa é certa: solução mágica não há. Aliás, em política, nem existem “soluções”, no sentido definitivo da palavra, porque sempre vai haver problemas. Utopias, por definição, não existem. Por isso é que precisa haver política.

E já que precisa haver política, minha segunda teoria favorita de como melhorar as coisas é simples: democratizar os partidos políticos. Hoje, os partidos são os únicos que podem apresentar candidatos no Brasil. O presidente da República precisa sair de um partido, assim como o vereador da cidade mais distante do interior do Acre. E, no entanto, nossos partidos são uma tragédia.

A desgraça se chama cartorialismo. Todos os grandes partidos do país hoje são de propriedade de uma pequena elite que usa sua máquina como quer. Não é preciso ouvir filiados nem fazer prévias para escolher quem será candidato. Os petistas costumavam dizer que no PSDB o candidato à Presidência era escolhido em uma mesa de jantar, com quatro ou cinco tucanos tomando um bom vinho. No PT de hoje, a diferença é que Dilma foi escolhida por um só cacique.

Os outros grandes não são diferentes. Diga um partido com mais de cinco deputados federais e certamente vai ser possível apontar seus caciques, tanto em Brasília quanto nos estados. Com pouca gente no comando, eles fazem os acordos que querem e nem precisam combinar com os russos, que nesse caso somos nós. Os russos simplesmente não palpitam – a não ser que entrem de sola no meio do jogo, como aconteceu algumas vezes recentemente.

Reclama-se muito da bancada evangélica, mas uma coisa há que se conceder. É um caso raro na política brasileira em que os eleitores e os eleitos têm alguma relação orgânica. O deputado evangélico que votar contra o que diz a cartilha está ferrado. Alguns partidos ideológicos também são assim, como mostrou o PSol recentemente expulsando um de seus parcos representantes em Brasília. Ou a Rede, que não aceitou filiações de gente que vota a favor de desmatamento. De resto, impera a distância entre povo e partido. E os donos do partido partilham o poder sem nos convidar para discutir o assunto.

Esse é um ponto. Mas obviamente não pode ser o principal. Porque não basta mudar uma regra (ou várias, na verdade) e achar que isso vai nos transformar na Suécia.

Se há alguma coisa que pode fazer o Brasil ser melhor de fato não é um juiz, um deputado ou um presidente. Não é uma regra. Somos nós. Não só participando da política partidária e encontrando meios de democratizar as instituições. Mas participando da vida da comunidade, criando bem os nossos filhos, sendo generosos, evitando a cultura do ódio. Lendo. Tentando entender o mundo à nossa volta, com muita paciência e pouca raiva. Estudando. Ensinando. Sendo melhores do que somos.

Há quem tenha o dom de dizer coisas profundas da maneira mais simples. Voltaire escreveu uma das mais engraçadas sátiras da história da literatura para rebater a filosofia de Leibniz. No seu Cândido, tudo dá errado para mostrar que o otimismo pregado pelo filósofo do livro era uma tolice. Mas, mesmo que não estivéssemos “no melhor dos mundos possíveis”, Voltaire diz que há uma coisa a se fazer. E essa coisa é cuidar do nosso jardim.

Simples assim.

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