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A polícia dos Estados Unidos é conhecida como sendo especialmente violenta. Não se passa muito tempo sem que haja um novo escândalo causado por uma morte de cidadãos baleados por policiais. De todos os estados americanos, a Califórnia foi o que teve mais assassinatos de civis por policiais em 2015. De acordo com o site The Counted, mantido pelo jornal britânico The Guardian, foram 210 mortes de janeiro a dezembro.

Em número de mortes, a Califórnia é uma aberração mesmo pelos padrões americanos. O segundo lugar neste ranking foi o Texas, com menos de metade dos casos. O terceiro lugar, a Flórida, teve 71 mortes em confronto. O quarto lugar entre 50 estados já teve “apenas” 44 mortes. No Brasil, porém, a Califórnia ainda estaria numa posição confortável caso fosse comparada com os maiores estados.

O Paraná tem menos de um terço da população da Califórnia. Lá, são 38 milhões de habitantes. Aqui, somos 11 milhões. Mesmo assim, o Paraná teve mais mortes causadas pela polícia do que a Califórnia. E não estamos falando em termos proporcionais – e sim em números absolutos. Lá, de janeiro a novembro, que é o período para o qual os dados estão disponíveis dos dois lados, foram 188 casos. Aqui, foram 196.

Os números do Paraná foram liberados recentemente pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Maurício Tortato, em entrevista exclusiva ao repórter Diego Ribeiro, desta Gazeta. Já é um avanço que o coronel tenha se interessado em dar transparência aos números – antes, nem isso havia. Mas a quantidade de casos em que supostamente alguém reagiu à prisão ou à ação policial e acabou morto é espantosa.

Pior ainda é que algumas das poucas medidas que anteriormente haviam sido tomadas para coibir esse tipo de violência policial acabaram sendo eliminadas pelo caminho. É o caso do rastreamento das viaturas por GPS, por exemplo. O fato de a viatura ser monitorada revelou por exemplo que policiais haviam matado cinco pessoas a sangue frio num matagal do Santa Cândida em 2009. Sem o GPS, teria prevalecido a farsa de que os cinco foram baleados em confronto e levados direto ao hospital – o desvio foi mostrado pela tecnologia cujo contrato não foi renovado.

Mas esse tipo de ferramenta jamais irá resolver, por si, o problema da violência policial no país. Há muito mais a ser feito. É preciso reduzir as taxas de criminalidade. É preciso diminuir as condições para que o crime seja uma tentação para quem cresce em comunidades desamparadas. É preciso que se punam os policiais violentos, que as investigações sejam sérias e levadas até o fim.

Mas é preciso, acima de tudo, que se mude a mentalidade da população. A polícia continua agindo dessa maneira, em grande medida, porque tem apoio popular para isso. Políticos prometem que a polícia “vem e vem quente” porque sabem que isso rende votos. Secretários de segurança deixam que seus policiais façam o que fazem não só por medo de enfrentar a tropa – mas porque conseguem dividendos políticos com isso.

A cada vez que se noticiam os índices de violência policial, a primeira reação que se vê nas redes sociais é de gente comemorando o fato de a polícia estar matando. Uma sociedade em que esse tipo de comentário é não só possível como prevalente tem um grave problema a enfrentar.

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