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As notícias sobre as aposentadorias que os ex-governantes do Paraná recebem e continuam solicitando falam muito sobre os nossos últimos mandatários: nenhum escapou à regra, todos decidiram colocar no bolso os R$ 24,8 mil que a lei (muito provavelmente inconstitucional) lhes garante. São dez ex-governadores vivos. Nenhum resistiu à tentação. Mesmo sem ter contribuído, se acharam no direito de se beneficiar dos nossos impostos.

Isso mostra que, para os nossos governantes, o cargo os torna especiais. Não apenas por aquele momento em que são o primeiro entre seus pares. Mas para o resto da vida. Acreditam que têm direito divino não só ao poder, mas às benesses que ele garante. Eter­na­mente.

A história das aposentadorias também fala muito sobre a Assembleia Legislativa do Paraná. Acusado recentemente de todos os tipos de descalabro, já nos anos 80 o nosso Legislativo aprontava das suas. Na hora de fazer a Cons­tituição do Paraná, deu um jeito de incluir uma benfeitoria a mais para os políticos da terra. Ben­feitoria que custa hoje R$ 4,5 mi­­lhões aos paranenses. O que, claro, não é problema deles.

Assembleia, aliás, que continua aprovando benefícios para a classe política a rodo. Na legislatura passada, começou aprovando um plano de aposentadoria para os próprios deputados. Que, claro, contaria com um generoso – e involuntário – aporte dos cidadãos do Paraná. Nossos deputados merecem, é claro (pelo menos na visão deles). E terminaram a legislatura aprovando uma absurda pensão mesmo para as viúvas de ex-governadores que permaneceram menos de um ano no cargo. É esse tipo de coisa que coloca o estado nas manchetes dos jornais nacionais...

Por fim, as aposentadorias de nossos ex-governadores fala muito sobre a relação equivocada entre Legislativo e Executivo no Paraná. Explica muita coisa, na verdade, se quisermos ver um pouco além do fato em si.

Afinal, há muito tempo ouve-se falar dos desmandos na As­­sembleia, certo? Gerações de jornalistas, embora não tivessem as provas que embasaram a série Diários Secretos, ouviram suspeitas e rumores sobre os comandantes do Legislativo. Na verdade, mes­­mo fora do jornalismo, quem nunca ouviu as mesmas histórias?

E, no entanto, absolutamente todos os nossos governadores fizeram pactos com esses comandantes da Assembleia. Não os enfrentaram, não os denunciaram, não tentaram bancar investigações que prejudicassem os esquemas que por tantos anos tiraram dinheiro da população para fins escusos. Nem os governadores que usavam discurso de ética e moral, nem mesmo os valentões que governaram o estado nos últimos 40 anos enfrentaram o poder estabelecido na Assembleia. Mes­­mo sabendo dos desvios que ocorriam, nada fizeram.

Por quê? As aposentadorias ajudam a responder. São um belo exemplo de como esses governantes se beneficiaram da relação promíscua que tiveram com o Legislativo. Faziam vista grossa a tudo. E, em compensação, ganhavam benefícios polpudos, vitalícios, que estariam à sua espera, mensalmente, para sempre.

A simbiose entre o governo do Paraná e a Assembleia sempre existiu. E os dois lados se beneficiaram amplamente com isso. Quem perdeu, claro, fomos nós. Resta cobrar que isso acabe logo. Porque até agora, tudo indica, as coisas continuam exatamente iguais ao que foram antes.

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