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Amanhã, 21, completa exatamente um mês que a Gazeta do Povo e o programa Fantástico da Rede Globo trouxeram a público o conteúdo de um vídeo que colocou sob suspeita a higidez da última campanha de Beto Richa: nele, dinheiro era visto sendo entregue por pessoa de confiança do prefeito a filiados do PRTB que desistiram de se candidatar a vereador para apoiar a reeleição de Richa, já que o partido se coligara com outro.

O conjunto da obra mostrava indícios de caixa 2 – crime eleitoral punível até com a perda do mandato dos políticos que se beneficiam desse tipo de ilegalidade contábil. Não parece ser o caso de Richa, pois a denúncia só apareceu quando estavam esgotados os prazos legais em que deveria ser formalizada na Justiça Eleitoral.

Se, para alívio de Beto Richa, o problema, portanto, não chegará a tanto, serviu-lhe por outro lado para perceber que, primeiro, não pode cometer erro tão crasso na condução de uma campanha e, segundo, que precisa ter uma estrutura melhor preparada para enfrentar eventuais dificuldades do gênero que possam surgir em futuras campanhas eleitorais.

O prefeito agora está na Itália, em férias, de cabeça mais fria. Imagina-se (embora não se possa ter certeza!) que já tenha chegado à primeira e mais óbvia conclusão – a de que é feio, perigoso e prejudicial se envolver com gente capaz de tomar decisões políticas a troco de R$ 1.600,00 ou na esperança mercenária de ganhar empreguinho público transitório.

Isso já aconteceu e o tempo não volta atrás. Mas, se arrependimento matasse, estariam todos enterrados os que montaram a estratégia de defesa colocada em campo logo após a passagem do tufão, naqueles dias agitados de junho.

Vejam só quantos erros, um em cima do outro:

a) Dois dias depois da eclosão da denúncia, o "gabinete da crise" de Beto Richa resolveu apresentar outra fita para acusar o acusador, uma pantomímica entrevista com o personagem principal do primeiro vídeo, o repassador do dinheiro. Acusar o acusador é coisa que políticos experientes jamais fazem quando não sabem o poder e a quantidade de munição de que o acusador ainda dispõe. Deu no que deu: como acusadores foram acusados, é lógico que os acusadores voltaram a acusar! Foi a partir daí, por exemplo, que se soube que a casa onde funcionava o "comitê" dos agraciados com a gratificação de R$ 1.600,00 era alugada em nome do próprio Beto Richa. Que se soube também que entre os envolvidos havia funcionário fantastama da prefeitura. E que, no esforço de apagar pistas, esteve-se muito perto de se cometer um crime de ameaça.

b) Outro erro foi querer atribuir as denúncias a terceiros, como se os terceiros fossem mais importantes do que as próprias denúncias. Primeiro colaram na testa do senador Alvaro Dias de que seria ele o mentor da criação dos embaraços ao prefeito. Depois, ao governador Roberto Requião e seu secretário de Segurança. Por fim, bem ao estilo Jânio Quadros, o "gabinete da crise" chegou a atribuir a agonia a forças ocultas interessadas em fazer chantagens.

c) Houve uma linha mestra na defesa: o prefeito Beto Richa estava sendo vítima do próprio sucesso, já que a motivação dos denunciantes era o fato de ele figurar como favorito das pesquisas nas eleições para o governo do estado em 2010. Ao lançar esse argumento, foi preciso assumir que Beto é mesmo candidato, acabando com seu discurso de bom prefeito e com o álibi de que só se decidiria no ano que vem.

d) Dentre todos os erros, outro igualmente muito grave foi cometido: a turma de Beto Richa (e até o próprio) passou a atacar a imprensa – último recurso dos que (como o faz agora o senador José Sarney) se sentem incapazes de lidar apenas com fatos.

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