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Osmar Dias segue indeciso sobre os rumos das alianças políticas. | Jonathan Campos
Osmar Dias segue indeciso sobre os rumos das alianças políticas.| Foto: Jonathan Campos

Tentando descansar na chácara de Quatro Barras, recolhido ao apartamento da Sete de Setembro ou mesmo dando expediente no escritório da rua da Glória, o ex-senador Osmar Dias não tem sossego. Vem sendo pressionado por todos os lados para que defina o quanto antes o rumo que pretende dar ao seu futuro político.

Pré-candidato ao governo do estado pela terceira vez, Osmar anda se sentindo no Morro das Tentações. Segundo a Bíblia, logo após ter sido batizado por João Batista, Cristo subiu ao monte de Jericó onde, por quarenta dias e quarenta noites jejuando, foi assediado pelo diabo, que lhe oferecia todos os reinos do mundo se “prostrado me adorares”. Evidentemente, Cristo recusou todas as ofertas.

É o que tem feito também Osmar Dias. Teima em permanecer no PDT apesar dos apelos do irmão senador Alvaro Dias, que quer levá-lo para o Podemos e com ele fazer uma dobradinha político-fraternal: Alvaro para presidente da República, Osmar para o governo do estado.

Enquanto isso, recebe afagos do PSB, partido aliado de Beto Richa e que, em todas as últimas eleições, comportou-se como um “puxadinho” do PSDB. Exemplo mais evidente desta aliança é o companheirismo que une Beto ao deputado Luciano Ducci, que desde os tempos em que era vice-prefeito de Curitiba liderava o socialismo paranaense.

O PSB também formou bancada poderosa na Assembleia Legislativa. Deputados insatisfeitos com o jeito prepotente de Requião saíram do PMDB e se abrigaram no PSB para que pudessem ficar à vontade ao lado de Beto Richa. Luiz Cláudio Romanelli e Alexandre Curi são os mais proeminentes trânsfugas do PMDB que se aninharam confortavelmente no PSB.

Vêm do PSB as mais insistentes tentações para que Osmar Dias deixe de vez o PDT. Oferecem-lhe a candidatura ao governo do estado e, de quebra, o apoio tácito ou escancarado do governador Beto Richa, que pretende se candidatar a senador. Ou seja, a estrutura capilar que o PSDB mantém em quase todos os municípios do estado também seria colocada ao seu dispor.

Osmar tem até agora resistido a essa tentação. Demonstra que não quer proximidade com o grupo de Richa, talvez com mesma intensidade com que Cristo recusou as ofertas do demônio.

Outro que anda louco pela companhia de Osmar é o senador Roberto Requião. Insiste no discurso de que é candidato a governador, mas sabe que suas chances de se manter ativo na política é buscar a reeleição para o Senado. Isolado dentro do próprio PMDB que preside, contestado por algumas correntes consideráveis do partido, vê-se quase tão perdido quanto cego em tiroteio. Está à procura de um candidato forte a governador que carregue sua candidatura a senador.

Osmar também refuga a hipótese. Já acumulou experiência para saber que a companhia de Requião não lhe faz bem. Em 2010, quando se candidatou a governador concorrendo contra Beto Richa, Osmar o levou como seu companheiro de chapa. Foi uma troca injusta: Osmar se contaminou com os índices de rejeição a Requião e este se beneficiou do seu prestígio: elegeu-se senador e Osmar foi derrotado para o governo.

A intenção de Requião vai mais longe: é a de afastar qualquer possibilidade de Osmar ter de optar por também disputar o Senado. Neste caso, dois candidatos fortes se oporiam à intenção de Requião se reeleger, pois teria de derrotar simultaneamente Beto Richa e Osmar – uma missão que se afigura impossível.

A encruzilha mais forte, no entanto, é representada pela candidatura do irmão à Presidência. Se Osmar ficar no PDT e não aderir ao Podemos, politicamente estará comprometido com o candidato pedetista Ciro Gomes e não terá como subir no mesmo palanque de Alvaro. Mas também não lhe ficará bem trabalhar contra o irmão.

Se for para o Podemos, é possível que se beneficie da preferência do eleitorado paranaense que, pelas pesquisas, promete votar maciçamente em Alvaro. Mas que estrutura lhe oferecerá o Podemos, ainda um “nanico” com pouco tempo para propaganda na televisão e sem presença forte, como partido, nos grotões do estado?

As tentações são muitas. Osmar analisa cada uma delas e até agora tem dito não a todas. A seu favor, conta apenas com o tempo que ainda tem para se definir. Tem até abril do ano que vem. Daqui seis meses poderá sentir, por exemplo, se o eventual crescimento de Alvaro Dias como candidato a presidente pode lhe servir de ponte segura para a travessia até o Palácio Iguaçu.

De fato, a última pesquisa Datafolha já coloca o senador Alvaro Dias como candidato potencialmente viável. Aparece com – dependendo do cenário – 4% ou 5% das preferências em nível nacional, atrás apenas de Lula (se este for candidato), Bolsonaro, Dória (ou Alckmin) e Marina Silva. Está empatado com Ciro Gomes.

Se Lula não for candidato, o PT não apresenta outro nome capaz de substituí-lo com índice que represente perigo. Da mesma forma, as pesquisas já indicam também algum nível de saturação em relação ao prefeito João Doria, assim como cientistas políticos consideram que Bolsonaro tende a se enfraquecer ao longo da campanha. Marina Silva sofre do problema de definhamento à medida que ela precisa se mostrar ao eleitorado.

Considerado o quadro atual e considerando também que de todos os candidatos a menor taxa de rejeição é de Alvaro; e que o eleitorado, pela mesma pesquisa Datafolha, diz preferir candidato com experiência administrativa e sem envolvimento com corrupção, pode-se abrir para Alvaro Dias um caminho largo não frequentado por quase todos os demais concorrentes.

Diante disso, pode não ficar fora de cogitação que, até abril, Osmar Dias acabe por optar pelo Podemos. Livra-se da tentação dos que querem enredá-lo com alianças que ele próprio repele e do incômodo de natureza familiar de não poder apoiar o irmão.

Faltam bem mais do que 40 dias e 40 noites para Osmar descer do Monte de Jericó.

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