Explicações 1
Há três semanas, sob o título “Roupa suja na Cruz Vermelha”, esta coluna resumiu um ato do Conselho Superior do Ministério Público Estadual determinando a reabertura de investigações sobre procedimentos supostamente irregulares que estariam ocorrendo na filial paranaense da Cruz Vermelha Brasileira (CVB). O procurador Rodrigo Chemin Guimarães, relator do processo, percebeu falhas num inquérito dado como concluído e arquivado, e recomendou a designação de outro promotor para prosseguir a apuração.
Explicações 2
Embora muito mais extenso, o relatório de Chemin levantou três indagações principais que a coluna reproduziu:
• Por que o hospital da CVB manda lavar roupas de cama numa lavanderia de Ponta Grossa, a 100 km de distância e em quantidades acima dos parâmetros reconhecidos pelo Ministério da Saúde como aceitáveis?
• Por que uma empresa privada, da qual o presidente da CVB é sócio-gerente, recebe recursos da Cruz Vermelha?
• Que destino tomou um aparelho de litotripsia (usado para remover cálculos renais) que desapareceu do hospital? Teria sido entregue a uma clínica particular?
Explicações 3
Antes da publicação, em 13 de setembro, esta coluna procurou o presidente da CVB, o médico Jerônimo Fortunato, para ouvir sua versão a respeito dos fatos. Não obteve retorno. Somente no último dia 28 Jerônimo procurou a Redação para dar explicações sobre os três pontos:
• A Lavanderia L’Acqua, de Ponta Grossa, embora distante, é a que cumpre com maior rigor as normas de higiene definidas pela Anvisa. O hospital da CVB não é a única instituição de Curitiba a contratar os serviços da L’Acqua; até mesmo a Secretaria Municipal de Saúde, segundo ele, recorre à mesma empresa.
• A empresa Scardoa & G.Taborda Ltda., da qual é sócio majoritário, é apenas uma repassadora de honorários aos médicos e outros profissionais que prestam serviços ao hospital; cumpre apenas uma função burocrática.
• Sobre o aparelho de litotripsia que teria sumido, Fortunato explica que, na verdade, ele virou sucata. Antiquado e já sem peças de reposição, a CVB se desfez dele por considerá-lo inservível.
Explicações 4
O presidente da CVB disse desconhecer os termos do relatório do procurador Chemin , mas que está disposto, quando convocado, a prestar estes e outros esclarecimentos que lhe forem solicitados. “Não tenho medo do Ministério Público”, afirmou, para concluir que se considera vítima de perseguição pessoal por parte um profissional médico que atua no hospital.
Prevê-se para esta quinta-feira (1º) o anúncio da reforma ministerial prometida pela presidente Dilma Rousseff. Mais do que melhorar a gestão, sua intenção é desarticular a rebeldia do PMDB, que a ameaça de impeachment e de criar despesas que comprometem o ajuste fiscal em que o governo está empenhado. A presidente daria ao partido de Temer, Cunha e Renan – seus três maiores caciques – o comando de sete ministérios.
A reforma interessa ao Paraná: há um único nome do estado na lista de peemedebistas que a legenda pôs à disposição para escolha de Dilma. Trata-se do deputado Sérgio Souza, que, como suplente de Gleisi Hoffmann (enquanto esta ocupou a Casa Civil), exerceu por três anos o mandato de senador. Na Câmara, Souza faz parte de comissões importantes, como a CCJ, e toca a CPI dos Fundos de Pensão.
O lugar para o qual supostamente o paranaense seria indicado é o Ministério dos Portos, considerado estratégico para o estado em razão da posição secundária que o governo federal tem dado o Porto de Paranaguá nos planos de modernização. Se tiver a caneta na mão como ministro, Souza teria como principal missão desarticular a ação de grupos privados instalados em Paranaguá e que temem a concorrência de futuros empreendimentos portuários na baía.
Um dos empecilhos à atração de investidores é a existência de uma linha poligonal instituída pela Lei dos Portos, no governo Fernando Henrique, que inviabiliza a instalação de novos terminais privados dentro de seus limites. A Justiça Federal tem dado ganho de causa aos adversários da abertura – caso da decisão da 1.ª Vara Federal de Paranaguá, divulgada ontem, que mantém paralisados todos os procedimentos de mudança da poligonal.
Enquanto isso, o porto paranaense vai perdendo posições para Santos e terminais de outros estados, já abertos pelo governo federal a concessões de áreas à iniciativa privada.
Até ontem à noite, contudo, permanecia sob escuridão a eventual escolha de Souza para o ministério.
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