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Olho vivo

Veicular 1

Rodam pelas ruas e estradas do Paraná quase 5,5 milhões de veículos. É a terceira maior frota do país, abaixo apenas das de São Paulo e Minas. Diante desse imenso mercado, que não para de crescer, imagine o quanto uma empresa poderia faturar se pudesse cobrar de cada proprietário uma taxa de, digamos, R$ 40,00 por ano, ao longo de 20 anos. Já fez a conta? Isso mesmo: R$ 220 milhões por ano vezes 20 anos dá R$ 4,4 bilhões.

Veicular 2

É mais ou menos este o potencial valor de um novo negócio que o decreto 4.712, assinado por Beto Richa dia 23 de maio, vai abrir no estado. O decreto autoriza o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) a abrir licitação para contratar empresa para fazer a "inspeção veicular", que visa a verificar se automóveis, caminhões e motos estão funcionando dentro de padrões ambientalmente aceitáveis. A empresa poderá reprovar aqueles que, por exemplo, estejam emitindo muita fumaça, muito ruído ou que apresentem vazamentos. Se não forem consertados, sairão de circulação.

Veicular 3

A inspeção está prevista em leis e resoluções federais e alguns estados ou municípios já a implantaram. A capital paulista – com 6 milhões de veículos – foi a pioneira. Pioneira também em suspeitas de fraudes investigadas pelo Ministério Público de SP. Lá, este ano, a taxa é de R$ 44,36. No Paraná grandes grupos empresariais – alguns já bem identificados – estão de olho no novo filão milionário e prontos para participar da licitação a ser lançada em breve.

O prefeito Luciano Ducci, médico, ex-secretário municipal de Saúde e premiado condutor de alguns bons programas na área da saúde pública – como o Mãe Curitiba –, esperava que pudesse ser reconhecido nas urnas pelos bons serviços prestados ao setor. Ele ainda não perdeu a esperança, mas enfrenta fortes dores de cabeça com o funcionamento deficiente que o sistema vem apresentando nos últimos meses – exatamente no ano em que busca a reeleição.

Filas de pacientes, demora exagerada nos atendimentos, unidades 24 horas que às vezes só funcionam 12, falta de médicos e outros profissionais – tudo isso tem provocado reclamações azedas da população que depende dos serviços gratuitos dos postos espalhados pela cidade. Pelo menos duas mortes recentes foram registradas em razão das deficiências.

Sabe-se agora que uma das causas está na informática. O problema começou no início desse ano, quando os prontuários dos pacientes foram "migrados" para um outro software instalado pelo ICI (Instituto Curitiba de Informática). Além de travamentos constantes, aconteceu também o pior: o sistema não "lia" os prontuários produzidos na versão antiga ou embaralhava os dados, trocando nomes, doenças, datas dos atendimentos anteriores, diagnósticos, exames etc. Às vezes, informações sigilosas, de conhecimento apenas do paciente e do médico, ficam disponíveis para qualquer um.

A balbúrdia obrigou muitos postos a retroceder ao século passado, voltando a preencher formulários à mão. Prestadores de serviços (laboratórios, clínicas, hospitais), com faturas a receber por serviços prestados, nem sempre conseguem acessar o sistema. Agendamentos de consultas e exames são perdidos, provocando transtornos graves e generalizados em toda a estrutura.

Além de discutido repetidamente nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde (CMS) – órgão que reúne as autoridades da área e representantes dos usuários –, o problema já foi parar também no Ministério Público. Está com o promotor Marco Antonio Teixeira uma montanha de reclamações de pacientes, fornecedores e profissionais que atuam no sistema público. A investigação já foi aberta.

Membros do próprio Conselho também recorreram ao MP e já questionaram a secretaria municipal de Saúde. A coluna teve acesso ao ofício assinado pelo conselheiro Michel Deolindo, dentista que trabalha num posto da periferia, no qual ele relaciona cinco perguntas e pede aos gestores da saúde municipal solução urgente para os problemas que aponta. Encaminhado no início de abril, o ofício ainda não recebeu resposta.

Procuradas pela coluna, fontes do Instituto Curitiba de Informática e da secretaria municipal de Saúde não desmentem a existência de problemas pontuais, negam a dimensão de gravidade que vem sendo difundida e asseguram que as soluções já estão em fase final. Garantem, também, que nenhum prontuário foi perdido ou inutilizado e que o acesso a eles será totalmente recuperado.

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