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Pirro era um rei casca-grossa que mandava no Épiro, uma região do Noroeste da Grécia. Apontado como o segundo melhor estrategista militar da antiguidade, depois de Alexandre Magno, meteu-se numa roubada durante uma campanha contra os romanos no sul da Itália, em 279 a.C.

Após ganhar a Batalha de Ásculo, que custou 3,5 mil mortes, recebeu os cumprimentos de um subordinado e respondeu com uma frase que o colocou na história: “mais uma vitória dessas e estou perdido”.

Estrategicamente, teria sido melhor perder para Aécio ou Marina. Ambos teriam tomado exatamente as mesmas medidas amargas que a presidente, e então cairia no colo dos petistas a bandeira da crítica.

Mais de dois milênios depois, em outro tipo de guerra inventada pelos gregos, a democracia, Dilma Rousseff e o exército petista usaram todas as armas disponíveis para vencer os oponentes e se manter no poder.

Trituraram a imagem de uma ex-aliada, Marina Silva, e depois reverteram na unha a vantagem do mais tradicional rival, o PSDB de Aécio Neves. Prometeram que não plantariam juros para colher inflação, que não mexeriam nos direitos trabalhistas nem que a vaca tossisse e que não cometeriam o “escândalo” de cortar ministérios.

Passados nove meses de mandato, a vitória de Dilma em 2014 se mostrou tão pírrica que foi necessário montar um novo governo. A nova configuração da Esplanada é um Frankenstein. Um monstrengo com tronco do PMDB do Senado, membros do PMDB da Câmara e cabeça do PT de Lula.

Da Dilma desenvolvimentista, que pregava de maneira destrambelhada um Estado indutor da economia, não sobrou nem um coração amargurado. Estrategicamente, teria sido melhor perder para Aécio ou Marina. Ambos teriam tomado exatamente as mesmas medidas amargas que a presidente, e então cairia no colo dos petistas a bandeira da crítica e o falatório de que com eles poderia ser tudo diferente.

A verdadeira derrota do PT não foi a reforma da semana passada e o encolhimento ministerial, mas a perspectiva que se abre pela frente. Ninguém garante que as crises com o Congresso vão se resolver de uma hora para outra.

O PMDB permanece multifacetado e a cara do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ainda coloca medo, mesmo com as denúncias de que teria mais de US$ 5 milhões em contas secretas na Suíça.

Em primeiro lugar, não se sabe qual será o grau de autonomia dos novos ministros. Até agora, a principal reclamação dos peemedebistas era não receber pastas com “porteira fechada”, ou seja, que pudessem se beneficiar das joias da coroa de cabo a rabo.

Na Saúde, por exemplo, é considerado fundamental indicar o comando da Fundação Nacional da Saúde, na Ciência e Tecnologia, da Agência Espacial Brasileira, e por aí vai.

Centralizadora por excelência, Dilma fez da Casa Civil no primeiro mandato um braço interventor em diversas pastas comandadas por aliados. A presidente não recebia a maioria dos ministros porque, de fato, eles eram apenas decorativos. Agora a banda deve tocar de um jeito bem diferente.

Se não for assim, há chances concretas de que o PMDB e demais aliados batam o pé por novas e novas reformas e, claro, por mais poder. Se não for pela via da livre e espontânea pressão, pode ser pelas ameaças de impeachment.

Aliás, se não for afastado nos próximos dias, Cunha deve rejeitar a denúncia por crime de responsabilidade do ex-petista Hélio Bicudo nos próximos dias e, em jogo casado com a oposição, iniciar indiretamente o processo.

Resta a Dilma cruzar os dedos e torcer para a cartada das últimas negociações surtir algum efeito. Pirro, quatro anos depois da famosa Batalha de Ásculo, tirou o time da Itália e, mesmo enfraquecido, meteu-se em outros confrontos perto de casa, até morrer em 272 a.C.

Depois das eleições do ano passado, a presidente concentra as energias para suportar a travessia até 2018, ao custo de um esfacelamento definitivo do petismo.

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