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Se a bancada de 30 deputados federais do Paraná servir de termômetro para o restante do país, não vai ser fácil para Dilma Rousseff a discussão sobre impeachment na Câmara. Entre segunda e terça-feira da semana passada, todos foram procurados pela Gazeta do Povo para se manifestar sobre os efeitos de uma possível rejeição das contas da presidente pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que se concretizou na quarta-feira à noite. O questionamento feito aos parlamentares foi objetivo: a decisão negativa do TCU é motivo para abertura de processo de impeachment?

Catorze disseram que sim, nove que não, quatro afirmaram não ter opinião formada e três não responderam. Impressiona a quantidade de filiados a partidos “independentes” ou “aliados” da presidente que se posicionaram favoravelmente. Foram sete – dois do PR (Fernando Giacobo e Luiz Nishimori), dois do PP (Dilceu Sperafico e Marcelo Belinati), um do PMDB (Osmar Serraglio), um do PSD (Evandro Roman) e um do PSC (Edmar Arruda).

Vale ressaltar que o PR controla o Ministério dos Transportes; o PP, a Integração Nacional; o PSD. as Cidades; e o PMDB, desde a semana passada, outras sete pastas, incluindo a cobiçada Saúde. Em português claro: o loteamento partidário, mesmo elevado à velocidade máxima, não vai salvar a pele de Dilma. Pior, a cada mexida na Esplanada, o governo provoca uma ciumeira danada que acaba não compensando as mudanças.

Apostar todas as fichas da reforma ministerial no PMDB foi um erro matemático. Sozinhos, os peemedebistas têm 66 deputados. Juntos, PSD, PP e PR têm 107.

Descontentar esses partidos médios é um jogo arriscado, que custou a Dilma na quarta-feira passada o terceiro adiamento seguido da votação dos vetos-bombas, na última quarta-feira. Sem contar a birra de petistas. E, é claro, a impossibilidade de fidelizar os cerca de 40% dos peemedebistas que seguem Eduardo Cunha até debaixo d’água – e que, por consequência, estão sempre dispostos a triturar Dilma.

Nesse contexto, os paranaenses são perfeitos como parâmetro. A bancada do estado é a sexta maior da Câmara (tem apenas uma cadeira a menos que o Rio Grande do Sul) e segue uma proporção partidária bastante fiel ao conjunto de 513 parlamentares. Cerca de 20 são deputados do baixo clero, distantes das decisões de cúpula.

Contando que parte dos indecisos e dos que não se pronunciaram nas entrevistas possivelmente também considere que a reprovação das contas é motivo para abertura de impeachment, supera-se facilmente a maioria absoluta da bancada. Só isso indica que o primeiro passo para o começo do processo é muitíssimo viável.

Se o presidente da Câmara cumprir o roteiro combinado com a oposição e arquivar nesta semana o pedido de impeachment formulado pelo advogado e ex-petista Hélio Bicudo, será necessária somente maioria simples para reverter a decisão em plenário. Ou seja, metade mais um dos presentes à sessão da votação, a partir de um quórum mínimo de 257 deputados. Na hipótese mais desfavorável a Dilma, 129 votos seriam suficientes para dar o pontapé dos trâmites de impedimento.

Da atual bancada federal paranaense, apenas Rubens Bueno (PPS) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) eram deputados durante o impeachment de Fernando Collor, em 1992. Ambos votaram contra o ex-presidente e hoje trabalham arduamente pelo afastamento de Dilma.

Bueno, que na época era filiado ao PSDB, prevê um efeito bola de neve caso o processo comece a andar. “Na hora de falar no microfone, de peito aberto, se você é a favor ou contra o impeachment, todos vão sentir o peso”, disse ele, sobre o resultado de uma possível votação final – que depende de maioria de dois terços (342 deputados). Como comparação, nesse estágio, apenas dois paranaenses votaram contra o impeachment de Collor – Abelardo Lupion (PFL) e Basílio Villani (PDS).

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