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O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, retomou o diálogo interrompido com o PMDB sobre a possibilidade de se candidatar pelo partido a presidente da República em 2010. Na semana passada, aproveitou uma agenda em Brasília para conversar com Michel Temer, presidente do PMDB, e com o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Desta vez, o governador foi assertivo e falou em data. Disse que se até 31 de março o PSDB não resolvesse realizar as prévias para escolher o candidato a presidente ele deixaria o partido e poderia se filiar ao PMDB.

Pôs as coisas nos seguintes termos: continuaria nas próximas semanas a "bater o bumbo" em defesa das prévias e, se não conseguisse, estaria à vontade, teria motivação e discurso para sair.

Provavelmente também uma justificativa para evitar a perda do mandato de governador um ano antes do prazo de desincompatibilização, por causa da restrição legal à troca de partidos.

O discurso de Aécio, caso viesse mesmo a concretizar a decisão, incluiria a denúncia da "ditadura das elites partidárias" e o anúncio da disposição de cumprir o destino desejado "pelo povo de Minas", além da retomada da trajetória do tio-avô, Tancredo Neves, interrompida pela morte antes da posse na Presidência, em abril de 1985.

Talvez não por coincidência o governador tenha dado o prazo de 31 de março na conversa com o PMDB. Teria abril à disposição caso a providência se fizesse necessária.

O PMDB, cujo presidente, Michel Temer, dias antes considerara "fato vencido" a hipótese de Aécio Neves trocar de partido, deu à conversa a devida proporção: acha que há mais chance de o PSDB ceder para Aécio ficar que os tucanos comprarem uma briga do tamanho do segundo colégio eleitoral Brasil.

De qualquer modo, os peemedebistas se sentiram fortalecidos. Começaram a sonhar com palanques regionais robustos, livres da dicotomia PSDB-PT e com uma candidatura própria passível de vir a conquistar o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva como alternativa a Dilma Rousseff.

Um acréscimo considerável ao cacife político do partido e um sinal de que a sorte definitivamente se decidira por uma aliança com o PMDB, um colecionador de vitórias.

O estigma

Assim estava em regozijo o espírito pemedebista até o fim de semana passado, quando a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à Veja tachando o partido de "corrupto" fez baixar a apreensão e acendeu a desconfiança.

Teria o senador escolhido estrategicamente esse momento de glória para dizer de público o que há muito diz em particular?

Se o lance obedeceu a uma lógica política, entraria ele nesse jogo desguarnecido, sem munição suficiente para revidar a um contra-ataque imprudente?

Sob a marca de "corrupto" impressa na testa por um correligionário, o PMDB não veria se esvaziar seu papel até agora tido como decisivo na definição dos rumos da sucessão presidencial?

E Aécio Neves, ficaria tão à vontade para entrar no partido, como dissera havia poucos dias, se à legenda fosse pregado o estigma de má companhia?

Logo agora que corria tudo bem e o país já se esquecera daquele dia de dezembro de 2002 quando o recém-eleito Luiz Inácio da Silva desistira na última hora de entregar três ministérios ao PMDB por não considerá-lo à altura do governo "plural" e imune a "feudos" com o qual iniciaria a era da mudança.

O mal-estar, o constrangimento e a cautela pautaram a decisão da Executiva do PMDB de sair pela tangente com uma nota oficial de sete linhas totalmente anódinas.

Qualquer movimento brusco poderia ser fatal.

Havia dois caminhos a seguir: partir para a briga de rua na base da desqualificação do senador ou questionar ponto a ponto as acusações, exigir provas e perguntar a ele por que não fizera denúncias formais aos canais competentes.

Uma terceira possibilidade foi sugerida – a intervenção da Executiva Nacional no diretório regional de Pernambuco, sob a alegação de mau desempenho político-eleitoral –, mas, por ora, arquivada.

Analisadas as perdas e os ganhos, decidiu-se tentar não provocar, trabalhar em silêncio para a poeira baixar e esperar o carnaval passar.

Do PMDB diga-se tudo, menos que lhe falta senso de realidade para perceber que Jarbas Vasconcelos prega em terreno fértil, atira em dois símbolos do estigma (José Sarney e Renan Calheiros) e, por mais dispersas que possam ser suas razões para bater, o partido sabe precisamente porque apanha.

Assim é

Autoridades governamentais, partidárias e parlamentares, situacionistas e oposicionistas, cumprem o acerto tácito de formalizar o vácuo em torno das declarações do senador Jarbas Vasconcelos sobre o PMDB.

É de se notar, porém, que, se todas elas evitaram corroborar as afirmações, nenhuma delas tampouco se dispôs a oferecer as mãos ao fogo em prol do desmentido.

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