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A possibilidade da derrota é assunto proibido em público para políticos e partidos que se preparam para disputas eleitorais. Reza a regra do jogo que todos se posicionem, a princípio, como vencedores. Manda também a etiqueta que não se menospreze o adversário na frente das visitas – no caso, o eleitorado. É de bom tom – além de prudente – que se considere a peleja "difícil". Às vezes isso denota senso de realidade, às vezes traduz apenas a intenção de cada um valorizar o próprio passe.

Dessa forma supostamente respeitosa, feita na medida exata para transparecer humildade sem deixar de exalar confiança na vitória, é que se apresentam ao embate da sucessão presidencial as forças de governo e oposição reunidas sob os guarda-chuvas do PT e do PSDB.

Mas essa é apenas metade da história. As reais motivações não são postas à mesa, embora sejam elas que de fato mobilizem partidos, candidatos e aliados. Os de oposição têm verdadeiro pavor de continuar mais quatro ou oito anos fora do poder. PSDB e DEM perderam espaço, correligionários, parlamentares no Congresso e, consequentemente, perderam também influência e destaque no noticiário.

Em público, os oposicionistas nem às paredes confessam. Mas é isso que está por trás da aflição para que o governador de São Paulo, José Serra, assuma logo ou desista de uma vez da candidatura em favor do governador de Minas, Aécio Neves.

Eles temem que o adiamento da decisão os faça perder terreno e, com ele, a eleição. Não pelo sabor da vitória, mas pela certeza de que não sobrevivem a mais uma temporada como oposição. No campo governista, há diferentes situações. A do PMDB é mais tranquila, já que seja qual for o resultado o partido tem lotes assegurados na administração pública.

Já para o PT a coisa é mais complicada. Embora haja a expectativa de que em caso de vitória do PSDB nem Serra nem Aécio promovam expurgos radicais, a hipótese da derrota no plano nacional aponta para o desemprego de uma massa considerável de companheiros.

Esse pessoal espera ter abrigo em algum lugar, bem como o PT precisará manter algumas ilhas de poder não só por uma questão de sobrevivência, mas até para ter como se reorganizar para uma nova disputa em 2014 sem precisar recomeçar quase do zero.

Esses nichos são justamente os governos dos estados. E estados de robusta máquina pública e significativa presença política no cenário nacional. Quando se diz que Lula prefere que o PT se componha com o PMDB concorrendo ao Senado e deixando de lado a disputa de alguns estados porque os governadores, mesmo de partidos de oposição, tenderiam a se compor com o governo federal, considera-se apenas a hipótese da vitória na Presidência.

Mas, como nas avaliações internas a possibilidade da derrota é levada sempre em conta, as coisas não funcionam bem assim. Para o PT é crucial conquis­­­tar governos para abrigar seu pessoal. Nessa equação não se perde de vista o fato de que quem tem prioridade no comando do preenchimento dos cargos é o governador, não o vice nem o senador.

Por isso são tão importantes candidaturas próprias em estados onde o PT tem chance real de ganhar, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Na seção gaúcha tudo foi resolvido com a antecipação da candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao governo. São Paulo é tido como jogo perdido, o Rio de Janeiro quase isso, mas Minas é essencial sob a lógica da conquista de trincheiras estaduais.

Daí que dificilmente se pode esperar que o PT aceite uma aliança com o PMDB no estado, a menos que houvesse garantia total da permanência do partido na Presidência da República.

Uso do cachimbo

O poder está tão acostumado a desconsiderar a existência de regras, que o avião da Presidência carrega 15 convidados do filho do presidente e o governo acha que o público não tem o direito de saber quem são as pessoas que viajam às suas custas.

O Ministério da Cultura paga propaganda indevida e o ministro se irrita quando é cobrado pelo uso de recursos destinados a promover a cultura na promoção de deputados. As medidas provisórias existem para ser usadas em caso de urgência, mas o governo edita uma MP para entrar em vigor só em 2011 e considera que é muito natural.

E por que isso acontece? Porque a sociedade, o Ministério Público e o Congresso deixam que aconteça.

Adaptação

Não é o curto espaço de tempo até a Copa de 2014, como alega o governo, que impede a execução do prometido plano de privatizações de aeroportos. Dilma Rousseff sempre foi contra e agora que o PT se prepara para dar à eleição uma conotação de Fla-Flu com o governo de Fernando Henrique Cardoso qualquer privatização tornaria incoerente o discurso da confrontação.

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