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A presidente Dilma Rousseff procurou aparentar tranquilidade diante do gestual animoso escolhido pela senadora Marta Suplicy para deixar o Ministério da Cultura. Acabou, porém, tropeçando nas palavras e atropelando a realidade.

Principalmente quando, na mesma entrevista dada no Catar a caminho da reunião do G-20, na Austrália, Dilma considerou que a reforma do Ministério não é uma questão urgente. "Vou fazer por partes", anunciou a presidente.

De duas, uma: ou se trata de mero despiste ou a chefe da nação parece ser a única a não se dar conta de que o seu segundo mandato já começou. As circunstâncias não lhe oferecem período de carência. Carrega o ônus da vitória, sendo alvo de pressões de todo o lado. Não bastasse a oposição fortalecida e o maior partido aliado, o PMDB, em estado de rebelião surda, há movimentos estranhos partindo dentro do próprio PT, todo cheio de insatisfações.

Isso sem falar no que não se sabe que vem por aí em decorrência das investigações dos ilícitos cometidos na Petrobras. Só se sabe que não é coisa de pequena monta. Nada está mais sob o controle do governo, há investigação no âmbito internacional, trata-se, pois, de um fato que ganhou pernas próprias. Estava desde o início claríssimo que o menor dos problemas nesse episódio era a repercussão eleitoral.

Desse caso é bem possível que se extrai uma terceira hipótese para alegada falta de pressa na reforma ministerial. Como envolve políticos da base governista e partidos que seriam contemplados com cargos na administração federal, é de se imaginar que a presidente esteja atuando com cautela.

Provavelmente aguardando informações mais seguras decorrentes dos acordos de delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef para não correr o risco de indicar pessoas que estejam envolvidas no esquema de corrupção montado na estatal sobre cuja existência já não resta dúvida.

De qualquer forma, a pasta da Fazenda estaria fora dessa zona de perigo. Ademais, a presidente havia indicado que anunciaria o nome após a reunião do G-20. Ontem deixou a questão em aberto. Esse tipo de ambiguidade pode até ter razões estratégicas, mas não ajuda a reconstruir o capital de confiabilidade, cuja erosão foi ainda mais aprofundada na campanha eleitoral. A palavra da presidente saiu dela gravemente ferida no quesito credibilidade e continua sendo massacrada. Em questões de maior ou menor relevância.

Por exemplo, a versão de que os termos e o rito da demissão de Marta Suplicy estavam previamente combinados entre as duas é inverossímil. Fosse assim, não teriam sido de surpresa e perplexidade as reações em Brasília. O ministro da Fazenda tampouco teria rebatido as críticas de Marta à equipe econômica.

Guido Mantega, aliás, ficou falando sozinho depois que Dilma resolveu dizer que a ministra demissionária nada havia feito de diferente "de outros ministros", todos, segundo a presidente, donos do pleno direito de "dar opinião".

Não foi o que se viu ao longo dos últimos quatro anos, não é o que se depreende das palavras e atitudes de Dilma, de Mantega e agora mesmo na justificativa da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao Congresso sobre a proposta de alteração da meta fiscal. Não obstante as evidências de que há descontrole nas contas – expressas em todas as medidas pós-eleitorais – para o governo vai tudo bem e quem diz o contrário é mensageiro do fracasso.

A respeito do que entende como o perfeito direito "das pessoas de dar opinião", a presidente teve oportunidade de detalhar ao desautorizar especulações sobre a reforma ministerial: "O Palácio não fala. O Palácio é integrado por paredes mudas, só quem fala sobre reforma ministerial é esta modesta pessoa que vos fala aqui". Modéstia à parte.

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