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Tiro curto 1

Está na hora de se repensar a extensão das campanhas políticas no Brasil. Elas são de tiro curto. Entre julho e outubro um enorme volume de informações é despejado sobre os eleitores, sem a preocupação de se discutir políticas públicas.

Tiro curto 2

Com dificuldades para apresentar suas ideias, os candidatos de primeira viagem são os mais afetados pela curta duração das campanhas. Enquanto isso, os pretendentes que disputam a reeleição – tanto do Executivo quanto do Legislativo – acabam tendo mais uma, entre tantas outras, vantagens sobre os concorrentes. Para melhorar a qualidade do debate político – se partidos e sociedade quiserem que ele aconteça – será necessário também repensar o pouco tempo que duram as campanhas eleitorais.

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A campanha eleitoral de 2014 vai se encerrando marcada por ser a mais contundente, desinformativa, desarrazoada e despropositada desde pelo menos 1989. O cenário é desalentador.

No horário eleitoral em rádio e televisão, a campanha foi pautada essencialmente na desconstrução de candidaturas. Os debates, em especial os do segundo turno, foram muito agressivos, pautados mais em estratégias de marketing que na preocupação de se estabelecer uma discussão de um projeto de país. Sem propostas para uma política de Estado, a eleição vai caminhando para um desfecho pautado pela emoção.

Nestes quatro meses as redes sociais foram evidenciando uma tendência de polarização dos eleitores em dois grupos antagônicos, radicais e intolerantes. Esse radicalismo de Facebook tem potencial para fazer emergir movimentos autoritários descomprometidos com a democracia e as instituições republicanas.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos arautos dos novos tempos radicais. Prestou um enorme desserviço na última segunda-feira ao atacar mais uma vez a imprensa, em evento de campanha de reeleição de Dilma Rousseff. Ao lado da presidente, Lula ultrapassou a linha da crítica institucional que corriqueiramente faz à imprensa e citou explicitamente jornalistas: "Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão e a gente falando bem dela [Dilma] na periferia. É o Bonner falando mal dela no 'Jornal Nacional', e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles".

Retórica dessa natureza é lamentável. Primeiro, porque estimula o extremismo. O bordão "nós contra eles" é simplificador da realidade e tenta criar uma polarização artificial. Segundo porque não é verdadeiro. Lula tenta desqualificar a imprensa para evitar ter de responder a críticas e a escândalos de corrupção. Colocar jornalistas como inimigos é apenas um mecanismo de defesa, para não precisar ter de explicar denúncias ou eventual desempenho ruim do governo.

A sociedade vai ter de reinventar a forma de fazer e de discutir política se quiser evitar o acirramento de radicalismos emocionais e pouco razoáveis. Meios para tanto estão em desenvolvimento por cidadãos engajados. O Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, por exemplo, está desenvolvendo uma nova plataforma de participação, para discutir com os cidadãos políticas públicas no próximo governo brasileiro, seja quem for o vencedor das eleições. O projeto está sendo preparado para poder ter a participação dos 200 milhões de brasileiros.

A política partidária deveria se ocupar de projetos dessa magnitude. É muito mais rico estimular as pessoas a discutir programas de governo que fomentar uma fictícia guerra social. O uso da retórica pueril não é um privilégio de Lula. Apesar de mais de duas décadas de continuidade democrática os partidos e seus militantes continuam num estado de natureza infantil.

Há uma necessidade extrema de romper com esse modelo de discussão política em que se tenta enganar o eleitor e fazer dele um soldado engajado numa luta entre o "bem" e o "mal". O papel da sociedade nesses tristes tempos é de fazer a política dos partidos amadurecer.

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