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Está cada vez mais fácil entender a ultrapassada ética que rege a cabeça dos deputados paranaenses. Em sua maioria aceitam pronunciamentos descabidos e desrespeitosos contra mulheres, reverenciando o corporativismo, em detrimento do decoro parlamentar, da democracia e da aceitação do poder fiscalizatório da sociedade. É uma ética descasada do século XXI que precisa ser reformada.

O ataque do deputado estadual Edson Praczyk (PRB) contra a jornalista Paola Manfroi, da RPC, contrariou a decência apropriada ao cargo. Na segunda-feira (10), o parlamentar abusou de suas prerrogativas e questionou de forma indecorosa os meios que a jornalista teria usado para conseguir informações sobre um processo que tramita contra ele. Paola Manfroi noticiou que o Poder Judiciário determinou o bloqueio de R$ 308 mil em contas correntes de Praczyk e um assessor, em uma ação movida pelo Ministério Público.

Da tribuna da Assembleia, Praczyk questionou o que a jornalista teria feito para conseguir informações que até aquele momento ele não tinha conhecimento e que, segundo o parlamentar, estariam sobre sigilo. Mesmo com processo sob segredo de Justiça, algo que não se vincula necessariamente à atividade jornalística, a declaração foi lamentável.

Praczyk teve uma atitude machista, desrespeitosa – quebrou o decoro. Para a sua atitude não cabe invocar a imunidade parlamentar, já que o ato do deputado não trata de atividades do mandato. A imunidade não o protege de ataques pessoais a uma jornalista que, no exercício de sua profissão, divulga atos de inequívoco interesse público.

Ironia

O deputado abusou de seu direito à manifestação e de sua autoridade, ao usar a tribuna da Assembleia, um espaço que deveria ser utilizado para discutir temas relevantes para o desenvolvimento do estado e para o aprofundamento da democracia. A falta de decoro deveria ser investigada.

Mas, por uma ironia do Legislativo, o presidente da Comissão de Ética é Praczyk. Foi ele, inclusive, quem arquivou o pedido da abertura de processo de cassação contra o ex-presidente da Assembleia Nelson Justus, acusado de desvio de salários de servidores no famoso caso dos Diários Secretos.

Dois caminhos

À exceção do pronunciamento do deputado Tadeu Veneri (PT) na tribuna da Assembleia, não há notícia de outro parlamentar que tenha censurado o comportamento indecoroso de Praczyk. Nem mesmo as deputadas estaduais condenaram o ato. Esse espírito de corporativismo merece reprimenda. É de se imaginar o que teria acontecido se, em vez de apenas quatro eleitas entre 54 deputados, a proporção fosse mais ajustada ao porcentual de mulheres presentes na sociedade brasileira.

Há dois caminhos possíveis para desenvolver um ambiente político mais igualitário. A via legal é a mais fácil e resolve o problema do ponto de vista formal. Há projetos de lei que estabelecem 10%, 15% ou 30% dos cargos eletivos para serem ocupados por mulheres.

O caminho mais poderoso, entretanto, trabalha com a alteração drástica da mentalidade vigente. Essa via descarta mudanças legislativas porque entende que cotas legais são uma condição limitante à mudança que pode ser operada na sociedade.

O cenário do século XXI é propício à segunda via. O conhecimento é o ativo mais importante dessa era. Os novos meios de difusão de aprendizagem permitem realizar uma revolução em proporções semelhantes ao do renascimento ou do iluminismo. Há tecnologias e ferramentas que dão condições de realizar uma transformação massiva na política brasileira – igualando a quantidade de homens e mulheres na vida pública.

Um programa de desenvolvimento de lideranças femininas altamente qualificado pode formar – em pouco tempo e em larga escala – mulheres com os recursos necessários para pressionar essa mudança. Assim, com uma enorme quantidade de mulheres ingressando na militância política e com o acesso a conhecimentos e ferramentas úteis a baixo custo, os partidos podem ser dominados por lideranças femininas.

Por consequência, as candidatas mulheres aos parlamentos superarão em muito os níveis atuais. Ao longo de poucos anos, um poderoso programa de formação de líderes pode virar o jogo em favor das mulheres, tornando-as mais influente que homens nos legislativos.

Quebras de decoro, fundadas no machismo e no desrespeito ao trabalho alheio, serão atropeladas por essa revolução. A vergonhosa ética dominante em parlamentos, como a que ocorreu na Assembleia Legislativa, ficará relegada ao passado.

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