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O mais grave obstáculo a ser enfrentado pela Força-Tarefa da Lava Jato é a operação desmanche que, se já não iniciou, certamente logo vai começar a ser articulada em múltiplas frentes e por diversos atores da política nacional. A campanha de desinformação e factoides deflagrada na internet será, em pouco tempo, vista como uma banalidade perto do que pode estar prestes a ocorrer, especialmente se não houver atenção da opinião pública.

Motivos de temor por parte da classe política não faltam. A planilha apreendida pela Polícia Federal (PF) na casa de um ex-executivo da Odebrecht traz nomes de pelo menos três centenas de agentes públicos das mais diversas cores partidárias, que teriam recebido recursos da empreiteira para campanha eleitoral. Os nomes e valores, por si, nada provam. Mas delações premiadas em curso e outras que estão por vir podem, aliadas a outros meios de prova, abalar boa parte da elite política brasileira.

Diferentemente da militância mais emotiva do PT, os principais dirigentes políticos do país já se deram conta do caráter rigoroso, apartidário e sistemático dos procedimentos empregados pelos órgãos investigadores e do exame realizado pela Justiça em suas diversas instâncias e tribunais superiores. E com uma lista tão eclética para investigar, não acreditam que a Força-Tarefa vá cair no erro de explorar apenas nomes vinculados a alguns partidos em detrimento de outros.

Ainda que de forma atrapalhada, as ameaças à Lava Jato já começaram. A mais recente veio de uma declaração lamentável do ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que disse que a sua primeira atitude seria advertir à PF que, havendo “cheiro” de vazamento em uma investigação, toda a equipe seria trocada.

Segundo o ministro, ele não precisaria de prova alguma de que houve vazamento por agentes da PF. Bastaria o “cheiro”. Uma declaração tão surreal quanto essa – e tão temerária – não poderia passar incólume. E felizmente não passou. A ministra Assusete Magalhães, do Superior Tribunal de Justiça, determinou que Eugênio Aragão explique a ameaça no prazo de 72 horas.

A atitude do ministro é grave porque, recém-empossado, já vai dando indícios de quais são suas reais intenções em cargo que é peça-chave do tabuleiro político na conjuntura de hoje. Afinal, o ministro da Justiça pode facilitar o trabalho da PF, mas pode também criar obstáculos e até mesmo inviabilizar as ações do órgão, especialmente se resolver fazer uma “simples troca” de equipe sob o pretexto de que “cheirou” um vazamento na PF. Para cumprir o papel que lhe foi destinado pela Constituição, a Polícia Federal precisa estar blindada de quaisquer influências político-partidárias.

A tentativa de derrubar a Lava Jato pode ocorrer também pela via legislativa. Caso se sintam ameaçados, os poderosos dirigentes partidários com cargo no Congresso Nacional podem se unir para aprovar uma série de dispositivos legais a fim de inviabilizar a operação e a cobertura da imprensa. Podem criar obstáculos para a publicidade das investigações e decisões judiciais. Podem criar constrangimentos ou punições que impeçam a realização de procedimentos investigatórios e a divulgação de fatos noticiosos a respeito de denúncias contra políticos. Podem, até mesmo, aprovar normas criativas que assegurem a impunidade dos envolvidos na Lava Jato. Como a experiência histórica já demonstrou, a astúcia no campo legislativo não tem limites.

É para esse cenário, de união dos grupos partidários investigados na Lava Jato, que a sociedade, a imprensa, o Judiciário e os órgãos investigadores precisam estar atentos e bem preparados.

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