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O hacker-ativismo cívico aos poucos vai fazendo a cabeça das instituições brasileiras. Em São Paulo, há o bom exemplo do Café Hacker – uma proposta da Controladoria Geral daquela cidade, que organiza periodicamente um encontro em alguma das secretarias municipais, de portas abertas a cidadãos interessados, jornalistas, programadores, pesquisadores e designers.

O objetivo é aproximar as pessoas da burocracia, e discutir ideias e criação de ferramentas para ampliar a transparência, participação e fornecimento de dados públicos. No próximo dia 9 de junho, às 18h30, o Café Hacker de São Paulo (cafehacker.prefeitura.sp.gov.br/) vai debater o sistema de compras públicas do município. A ideia é discutir formas de facilitar o acesso a informações e tornar mais eficiente o sistema de compras da prefeitura.

Uma aproximação também se observa na prefeitura de Curitiba. Na última semana, servidores da prefeitura se reuniram em dois dias com hacker-ativistas do Open Brazil – Code for Curitiba, para trocar ideias sobre cases nacionais e internacionais do uso prático de dados abertos. Foi o primeiro contato oficial entre ativistas e poder público da capital do estado.

Brasil aberto

Curitiba tem potencial para se tornar uma cidade entusiasmada pelo ativismo, da participação cidadã e da transparência. Braço da ONG norte-americana Code For America, o Open Brazil teve serendipidade de nascer na capital paranaense em outubro do ano passado e, agora, está se articulando em todo o país. “Desenvolvedores, designers e interessados reúnem-se todas as semanas para bater papo e fazer o que mais gostam – programar”, explica o fundador da organização não governamental, Stephan Garcia.

A ideia geralmente é usar dados públicos para construir ferramentas colaborativas. Segundo Garcia, o Open Brazil acredita que o governo pode trabalhar para o cidadão do século 21 de várias formas inovadoras. “Construímos tecnologia open source e organizamos uma rede de pessoas dedicadas a fazer serviços governamentais de forma simples, eficaz e fácil de usar. Encorajamos e capacitamos os moradores a assumirem um papel ativo na sua comunidade, facilitamos a colaboração entre funcionários de governo e cidadãos.”

Ideias que valem a pena

Um exemplo já consagrado de atuação hacker ativista vem do Code for America e pode ser encontrado nas palestras do TED – “Ideas worth spreading”. A fundadora da ONG, Jennifer Pahlka, apresenta o caso de um aplicativo em que as pessoas podiam adotar hidrantes perto de suas casas. Removiam a neve para mantê-los em funcionamento. Não precisavam esperar uma ação do poder público. Autogovernavam suas vidas e colaboravam pelo bem-estar da comunidade.

Garcia afirma que o movimento estimula uma abordagem de vanguarda para resolver os problemas da cidade. “Oferecemos suporte para empreendedores e startups com consciência cívica.”

Visão inovadora

A visão por trás das abordagens do Open Brasil é que o governo funciona melhor quando segue não o modelo de uma empresa ou de uma companhia de tecnologia, mas quando segue a dinâmica da rede – aberta, criativa e livre. A lógica de abertura é um convite à participação. Segundo Garcia, todos podem ajudar. “Se uma empresa quer ajudar, pode oferecer espaço para o pessoal trabalhar. Se o governo quer ajudar, pode fornecer os dados públicos.”

Os movimentos de hacker-ativismo cívico devem servir de inspiração para toda a sociedade. Devem ter sua voz ouvida pelos cidadãos e pelos bons agentes públicos no que diz respeito à necessidade de transparência, clareza na divulgação de dados públicos e de participação popular orientada para o autogoverno. Devem lutar para conseguir fazer sua voz reverberar nas cabeças de juízes, promotores, conselheiros de tribunais de contas.

Até pouco tempo atrás, os ativistas cívicos estavam praticamente desconectados da burocracia estatal. Isso era muito ruim para os ativistas, que ficavam com baixo poder de intervenção na realidade e para as administrações públicas, que permaneciam (e ainda permanecem) exageradamente burocratizadas e ineficientes. As intervenções bem-sucedida nas comunidades em que atuam os hacker-ativistas serão a prova definitiva de que a velha burocracia estatal deve se desapegar de seus dogmas e aderir à lógica da abertura, transparência e participação popular. Muda-se a lógica e o que se tem é um governo feito por cidadãos.

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