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No filme Karatê Kid, Daniel Larusso aprende artes marciais, lixando tábuas de madeira, pintando paredes e encerando o carro de “Senhor Miyagui”, um mestre de caratê disposto a ensinar o jovem a se defender de gangues de rua. Embora se mostre persistente, no início do filme Larusso se sente muito incomodado em fazer tarefas que aparentemente não têm nenhuma relação com o aprendizado de arte marcial.

Vergonha política 1

A base aliada governista e a oposição prosseguem na sua estratégia de desmoralizar a política brasileira. Oposicionistas só pararam de apoiar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que perceberam o acordo feito entre o peemedebista e a base do governo. E os governistas, de outro lado, continuam a dar sustentação a um deputado que deveria, no mínimo, ser removido da presidência da Casa. Afora todo o mal que tem causado à situação financeira da União, apenas para pressionar o governo federal e satisfazer os próprios interesses, a cada dia surgem fatos novos que reforçam a necessidade de sua saída.

Vergonha política 2

O fato mais recente, divulgado na quinta-feira (12) pela Folha de S. Paulo, tem origem em documentos encaminhados por autoridades suíças à Procuradoria-Geral da República. Em diversas entrevistas aos meios de comunicação, Cunha tem insistido que nunca movimentou o dinheiro depositado pelo lobista João Augusto Henriques em uma de suas contas na Suíça. Porém, extratos das contas dele contrariam essa versão e mostram que seus recursos foram movimentados duas vezes em 2014, parte sendo investida em ações da Petrobras e parte sendo transferida para a conta de uma empresa em Cingapura, em que Cunha é beneficiário.

Vergonha política 3

Não importa de que lado do espectro político você está. Não importa se você se diz de direita ou de esquerda. Qualquer pessoa – em seu pleno juízo, frise-se – vai admitir que condutas como a de Cunha são incompatíveis com o cargo de presidente da Câmara. Aceitar essa situação não combina com um país sério. A atual legislatura de deputados está demostrando ser uma lástima de poucos precedentes para o Brasil.

Para o jovem “Daniel-sã”, é quase uma exploração de trabalho ficar lixando madeira, encerando carros e pintando paredes. “Senhor Miyagui” exige que tudo seja feito com movimentos meticulosos. Mas, no decorrer do filme, fica claro que a repetição de movimentos aprendidos com o mestre japonês são valiosos para o aprendizado do caratê.

O filme é de 1984 e passa uma mensagem que continua válida três décadas depois: se você fizer com atenção plena os atos mais prosaicos em sua vida, certamente irá desenvolver alta performance em atividades mais relevantes. Não é exagero. De atos simples realizados intensamente emergem comportamentos complexos, algo que o Japão de “Senhor Miyagui” sabe muito bem e aplica nas escolas.

Reportagem publicada no site da BBC nesta semana relata que nos colégios japoneses estudantes ajudam a limpar salas, lavar banheiros, servir merendas e varrer o chão. As tarefas fazem parte da rotina dos estudantes do ensino fundamental e médio no Japão e são realizadas sob supervisão de professores numa espécie de rodízio.

Lá ninguém fala em exploração de trabalho infantil. A intenção é fazer da criança um cidadão consciente da importância de se cuidar do espaço público.

O exemplo das escolas do Japão é valioso pela simplicidade. Cuidar da escola com tarefas de limpeza para uma finalidade maior– formar cidadãos conscientes.

Toda a vez que construímos ou cuidamos de algo nos conectamos emocionalmente com o objeto criado ou preservado. Não queremos ver o objeto destruído ou em más condições. Há inclusive estudo do professor norte-americano de psicologia comportamental Dan Ariely a esse respeito, que pode ser encontrado em vídeos de palestras do TED, e que comprova o apreço do ser humano na criação de objetos.

O fato de nos empenharmos em preservar aquilo que cultivamos é uma poderosa chave para desenvolver a cidadania. Ter essa premissa em mente facilita a implementação de políticas públicas pelo Estado e a criação de empreendimentos sociais por cidadãos interessados em transformar a sociedade.

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