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Quando eu tinha sete anos de idade passei por uma experiência na Escola Imaculada Conceição que iria alterar profundamente a forma como vejo o mundo. A professora Sandra, do segundo ano do que hoje corresponde ao Ensino Fundamental, quase toda a semana fazia a turma praticar técnicas de relaxamento, muito semelhantes a algumas práticas de Yoga. Era algo superbacana, reduzia a ansiedade da moçada que vinha do recreio numa adrenalina parecida com a da lebre que foge do lince.

Em uma das ocasiões, minha consciência se dobrou sobre si mesma, e tive a sensação fisiológica de finitude. Percebi que a morte acabaria com aquela minha consciência. Depois sabe-se lá o que aconteceria. Mesmo criança, não me importava se haveria vida após à morte, vida eterna, ou se, como alguns sistemas religiosos acreditam, a morte não existe. Não me importava nem mesmo se tudo aquilo era uma ilusão infantil.

Esse texto não é sobre filosofia ou religião. Mas sobre educação, criatividade e empreendedorismo.

Depois daquele acontecimento, esse estado de consciência ainda volta hoje, de forma recorrente, e traz um senso de urgência extremo. As mudanças que a sociedade precisa são para hoje. A transformação cultural para um país mais criativo e sustentável precisa ser acelerada. Acho esse um propósito relevante pelo qual entendo que vale a pena lutar.

Sou muito grato à professora que, de forma colateral, me proporcionou aquela experiência. Não fazia parte do currículo escolar, mas ela ousou fazer algo diferente. Fico imaginando o quanto os estudantes podem ganhar, se a visão de educação for alterada – sob os auspícios dos visionários corajosos que existem nas redes de ensino – para um viés mais prático e colaborativo, com a introdução de disciplinas que explorem yoga ou mindfulness, design thinking, artes com foco em design, prototipagem de projetos, programação de software e jogos. Ensino com experiência prática transforma.

A gente foi doutrinado por muito tempo para aceitar o dogma de que as obras dos gênios da humanidade são mera decorrência de talentos ou estudo diligente. Essa visão equivocada permeia o mundo das artes, da tecnologia, da política. Até pouco tempo não se estudava o processo criativo. Felizmente já há alguns anos o cenário mudou.

Em A história secreta da criatividade, Kevin Ashton mostra que os “gênios” da humanidade diferenciam-se dos demais seres humanos, não por terem, num lampejo de iluminação, ideias fantásticas que materializam em feitos extraordinários. Mas porque eles simplesmente têm mais ideias, boas e ruins, o que os permite a descartar as que não prestam, selecionar as melhores e desenvolver obras notáveis.

Ele explica também que o boom inovador dos dias atuais é em grande medida devedor da quantidade de gente criativa que atua no mundo. O raciocínio é simples: quanto maior a população, maior a capacidade de criar, porque tem mais gente desenvolvendo atividades criativas. E daí pessoas capacitadas, conectadas, e com as ferramentas certas, recombinam ideias, constroem conhecimentos, testam até acertar.

Não nascemos criativos. Os estímulos adequados e a quantidade de gente que aprendeu a ser original e inovador desde criança é que fazem a diferença. Isso precisa acontecer desde o ensino fundamental, de forma estruturada, numa rede de colaboração que possa gerar proveito para toda a comunidade.

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