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Tendências

Futebolização 1

As desventuras do ex-vereador Juliano Borghetti, ex-funcionário do governo do Paraná, irmão da deputada federal Cida Borghetti (Pros) e cunhado do secretário de Indústria e Comércio, Ricardo Barros (PP), no campo do futebol mostram o quanto o mau comportamento em arena esportiva pode ter impacto na carreira política. Juliano Borghetti foi fotografado no meio da guerra entre as torcidas do Atlético Paranaense e do Vasco, que aconteceu em Joinville no domingo passado. Anteontem perdeu o cargo que tinha no governo.

Futebolização 2

Ele não é o primeiro a sofrer uma queda pública por causa de uma partida futebol. Em fevereiro do ano passado, o então vereador Julio Cesar Sobota, mais conhecido como Julião da Caveira, foi surpreendido ao fazer uma "brincadeira" no Facebook, pedindo um atestado médico falso para faltar à sessão da Câmara de Curitiba e ir curtir um jogo do Atlético. No início daquele mês, ele já tinha faltado à sessão da Câmara para ir torcer pelo time no Ecoestádio. Na ocasião, o ex-vereador justificou a falta dizendo que tinha consulta médica. Foi apoiado por dezenas de torcedores nas redes sociais. A conduta do ex-vereador foi lamentável e a de seus colegas torcedores, também. Ele ridicularizou a imprensa, que na época, cobriu o caso. Seus fanáticos o apoiaram nos impropérios contra a imprensa. Agiram como torcedores quando deviam pensar como cidadãos. Julião, que já foi presidente da Fanáticos, vai reassumir o cargo em 2014.

Futebolização 3

A mistura de política com futebol tem péssimos resultados para a sociedade. Maus exemplos contaminam a política. Vândalos destroem patrimônio público e privado. A violência entre torcidas é recorrente. Enquanto isso, a exploração econômica do futebol continua sendo altamente rentável. A imbecilidade que tomou conta do mundo da bola precisa acabar. Qual é a sua opinião para que isso ocorra?

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Nove medidas e muito barulho por nada. O governo federal anunciou ontem soluções que repetem um padrão brasileiro de ineficácia: criar mais estruturas para fiscalizar, punir ou conter a violência, criar mais regras e procedimentos, criar mais "arenas padrão Fifa". O anúncio veio depois de uma reunião técnica com o Ministério Público, a Justiça Desportiva, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as federações esportivas. É decepcionante notar que, em grande parte das vezes, as autoridades públicas escolhem resolver os problemas por caminhos tortuosos que passam pela criação de novas repartições, comissões e órgãos, ou, ainda, pela elaboração de novas leis, novos procedimentos, novas punições.

O governo federal pretende criar juizados de torcedores e delegacias nos estádios, além de implantar uma câmara do Ministério da Justiça para tratar de segurança em eventos esportivos. Uma aposta na elefantíase do Estado é o primeiro passo para o fracasso. Essas estruturas administrativas custam dinheiro. E boa parte dele terá de vir dos estados, que provavelmente ficarão encarregados da criação dos juizados e delegacias.

Há também um inexplicável fascínio em imaginar que mais leis, regras de segurança ou novas punições irão espontaneamente resolver parte do problema. Acredita-se na arte de se criar efeito sem causa – a segurança nos estádios irá decorrer das novas regras. Como se a segurança nos estádios fosse um efeito direto das normas e procedimentos criados.

Um bom tema para pesquisa acadêmica seria tentar descobrir os motivos que levam os governos a apostar em soluções mágicas. Identificar e punir marginais que se dizem torcedores é necessário. Responsabilizar clubes é imperativo. Estabelecer estratégias preventivas de segurança também. Mas nada disso é preciso a partir de mais estrutura do estado ou novas regras.

A mediocridade vem se tornando a cultura dominante nas torcidas de futebol já faz algum tempo e tem afastado das arquibancadas os verdadeiros torcedores da mesma forma que os black blocs repeliram a multidão de manifestantes de junho. Muito além dos esforços punitivos, será necessária a atuação dos clubes, dos líderes das torcidas organizadas (se é que estão interessados nisso) e de todo o aparato de educação formal e informal para acabar com a violência nos estádios. Não é uma questão de mera atuação estatal. É preciso que clubes e torcidas assumam sua responsabilidade.

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