O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou ontem a suspensão dos empréstimos consignados feito pelo Banco Cruzeiro do Sul com servidores da Casa. Segundo ele, as operações ficarão suspensas até a conclusão da investigação sobre um suposto esquema de desvio de recursos do Senado que seria chefiado pelo ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi.
De acordo com a denúncia, Zoghbi participava de um esquema que desviava recursos do Senado para empresas de fachada registradas em nomes de laranjas. O ex-diretor ocupava cargos de chefia no Senado desde 1984. Segundo reportagem da revista Época desta semana, Zoghbi abriu no nome de uma ex-babá, Maria Izabel Gomes, de 83 anos, que mora na casa dele, três empresas DMZ Consultoria Empresarial, DMZ Corretora de Seguros Ltda e Contact Assessoria de Crédito Ltda.
A suspeita é de que parte do faturamento dos últimos anos dessas empresas, cerca de R$ 3 milhões, teria como origem contratos assinados pelo Senado. Uma das possíveis fontes de desvio seria um contrato com o Banco Cruzeiro do Sul, instituição que oferecia crédito consignado aos servidores do Senado. O banco nega as acusações.
Zoghbi diz, na reportagem de Época, que as empresas pertencem à sua família. Ele admitiu que colocou os filhos como sócios porque "é proibido a servidores públicos ser donos de empresas que negociam com órgãos públicos.
Esta não é a primeira vez que Zoghbi e sua família são alvo de acusações. Ele pediu demissão do cargo de diretor em março em meio às denúncias de que teria utilizado apartamento funcional da Casa para acomodar parte da sua família. Ele mora em uma mansão localizada num bairro nobre de Brasília. Apesar de ter perdido o cargo de diretor, Zoghbi continua como funcionário do Senado.
Além das suspeitas sobre o suposto esquema com o banco Cruzeiro do Sul, Zoghbi e a família se envolveram em outro escândalo: ele e parentes viajaram 42 com cotas de passagens da Câmara dos Deputados. Dez foram viagens ao exterior.
Investigação
Sarney já havia determinado anteontem a abertura de inquérito na Polícia Legislativa da Casa para investigar Zoghbi. A Polícia Legislativa não descarta firmar parceria com a Polícia Federal e a Polícia Civil para investigar o servidor, mas inicialmente vai designar oito policiais para trabalharem no inquérito que vão ter 30 dias prorrogáveis por um período maior para concluírem a análise do caso.
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), disse que também vai pedir ao Ministério Público Federal para investigar as supostas irregularidades cometidas por Zoghbi enquanto esteve no cargo.
O inquérito vai correr paralelo às duas sindicâncias já instaladas no Senado para investigar a conduta de Zoghbi. Uma delas investiga a suposta utilização de laranjas, enquanto a segunda apura a acusação de que o ex-diretor teria utilizado apartamento funcional da Casa para acomodar parte da sua família mesmo morando em uma mansão em Brasília.
As investigações envolvendo Zoghbi são vistas, dentro do Senado, como uma tentativa de Sarney para atenuar os sucessivos escândalos que estouraram na Casa neste ano. Seria uma forma de mostrar que o Senado não compactua com desvios de conduta.
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