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Marcelo Odebrecht: preso desde junho do ano passado, decidiu colaborar com a Justiça. | Antônio More/Gazeta do Povo
Marcelo Odebrecht: preso desde junho do ano passado, decidiu colaborar com a Justiça.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Integrantes do Palácio do Planalto e aliados do governo comentavam a portas fechadas desde o fim da semana passada que havia o risco de o empreiteiro Marcelo Odebrecht, ex-presidente do Grupo Odebrecht, fechar um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato. Se confirmado, diziam, a colaboração seria “uma bomba atômica” capaz de atingir o governo, partidos da base e até mesmo a oposição. Nos bastidores, comenta-se que a decisão de Odebrecht de colaborar com as investigações de forma “definitiva”, conforme comunicado da própria empresa, pode ter sido a senha para costurar um acordo político que tente frear a Lava Jato.

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O potencial das revelações que podem ser feitas pelos executivos da empreiteira preocupa o Planalto e reforça o discurso que vem sendo feito a dirigentes de partidos aliados: o de que a Lava Jato montou um cerco não só “ao PT, mas a todos os partidos que ajudam o governo”. Segundo a narrativa de aliados da presidente Dilma Rousseff, seria preciso compreender que “nem a oposição” sairá ilesa dos avanços da operação. Em conversas privadas, integrantes do governo têm dito que siglas como o PMDB cometerão um erro se acreditarem que o impeachment da petista vai pôr um fim à crise política.

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“Sistema ilegal”

Os temores da classe política se justificam porque a Odebrecht é a maior empreiteira do país e uma das principais doadoras de campanha eleitorais. Costumava distribuir recursos a políticos de todas as legendas. E, segundo as investigações da Operação Lava Jato, usava esse tipo de financiamento (além do pagamento de propina para agentes públicos) com o objetivo obter contratos públicos. Inicialmente, a Lava Jato descobriu ilegalidades nos contratos da Odebrecht com a Petrobras, estatal federal. Mas a 26.ª fase da operação, deflagrada na terça-feira (22), levantou indícios de que a empreiteira também estaria envolvida em esquemas de desvios de recursos públicos de obras de governos estaduais e prefeituras.

A disposição dos executivos da empreiteira e do próprio Odebrecht de fecharem o acordo foi oficializada no mesmo dia da deflagração da 26.ª etapa da operação, quando foi revelado que a empresa mantinha um “departamento” exclusivo para pagar propinas. Na nota em que noticiou publicamente sua decisão de colaborar com as investigações, a Odebrecht informa que a Lava Jato “revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país”, dando a entender que poderá revelar detalhes desse esquema que não se restringiria ao governo federal e a seus aliados.

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PSDB e PMDB

Um dos alvos potenciais da delação da integrantes do Grupo Odebrecht pode ser o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB. O presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Junior, afirmou à força tarefa da Operação Lava Jato que trocou mensagens em novembro de 2014 com o presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, sobre doação eleitoral a Aécio, que havia sido derrotado no mês anterior na disputa eleitoral pela Presidência da República.

No depoimento à Polícia Federal em 24 de fevereiro, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo na segunda-feira (22), Barbosa disse que na mesma oportunidade comentou sobre preocupação de Aécio em relação a possível investigação contra o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ).

No fim de seu interrogatório em fevereiro, Barbosa disse à delegada Renata da Silva Rodrigues que gostaria de esclarecer o teor de mensagens trocadas com Marcelo Odebrecht e que foram citadas pela PF em representação datada de 5 de fevereiro. No texto da petição, a PF colocou tarjas pretas em palavras que pudessem indicar políticos com foro privilegiado.

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Na mensagem interceptada pela PF e reproduzida na representação, Marcelo escreveu a Barbosa: “Vc [você] acabou não falando depois. [tarja preta] está preocupado com SCF e outros no tema MF”. Barbosa então respondeu: “Ok, preciso resolver R$ 100 mil [tarja preta]. Vou aproveitar esse momento PT/PSDB”.

Para a PF, essa troca de mensagens confirma “a noção de que Benedicto é funcionário acionado por Marcelo para a tratativa de assuntos escusos, certamente não se limitando a obter recursos para financiamento oficial de campanhas eleitorais”.

Porém, em seu depoimento de fevereiro, Barbosa afirmou que em tais mensagens tratou “de doação eleitoral relacionada a Aécio e Piciani e não há nada de criminoso a respeito da tal doação”. Nas eleições de 2014, Jorge Picciani (PMDB-RJ) foi eleito deputado estadual e ocupa o cargo de presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e seu filho, Leonardo Picciani, foi eleito deputado federal (hoje ele é líder do PMDB na Câmara).

Porém, no texto do depoimento não há explicação sobre qual deles recebeu a doação eleitoral. No depoimento, Barbosa ainda indicou que na troca de mensagens mencionou preocupação de Aécio sobre investigações ligadas a Márcio Faria, ex-executivo da Odebrecht preso na Lava Jato.

Aécio Neves já havia sido citado como envolvido no esquema da Lava Jato na delação premiada do senador Delcídio do Amaral.

Outro lado

Em nota, a assessoria de Aécio Neves informou que “o depoimento mencionado pelo jornal apenas confirma as informações prestadas à Justiça Eleitoral. É de conhecimento público que a empresa Odebrecht, assim como diversas outras, fez doações à campanha do PSDB, inclusive, como prevê a lei, depois das eleições, para cobrir débitos existentes”. “Com relação aos diálogos, o senador não é parte de nenhum deles não tendo, portanto, nada o que acrescentar”, completa a nota.

A assessoria de Jorge e Leonardo Picciani relatou que “não constam recursos da Odebrecht para nenhuma das campanhas da família Picciani, nem de forma direta nem indireta”. De acordo com a assessoria, “a única explicação que pode haver para que o nome de Picciani ter sido citado neste contexto é o fato de ele, como é sabido, ter coordenado, no Rio, a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, tanto no primeiro quanto no segundo turno”. “A atuação de Picciani, entretanto, era apenas política. Ele nunca tratou de questões relativas ao financiamento da campanha de Aécio, cujas despesas eram de responsabilidade exclusiva do comitê financeiro do candidato”, segundo a assessoria dos políticos cariocas.

Nota de Benedicto Barbosa Junior e da Odebrecht aponta que “Benedicto Junior prestou todos os esclarecimentos em sua oitiva, buscando apenas esclarecer o que considera equívocos em relação à análise feita pela Polícia Federal de suas conversas com Marcelo Odebrecht. No mesmo depoimento, Benedicto Junior detalhou claramente como se dá o processo de definição das doações eleitorais no grupo Odebrecht”.

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