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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Em novo depoimento na tarde desta quarta-feira (3) ao juiz federal Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato , o delator Fernando Moura afirmou que 3% dos valores dos contratos firmados na diretoria de Serviços da Petrobras durante a gestão de Renato Duque eram divididas em partes iguais pelo grupo petista de José Dirceu, em São Paulo, para o PT Nacional, inicialmente comandado por Delúbio Soares e depois por demais tesoureiros, e por Duque e seus subordinados.

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“As primeiras conversas que a gente teve, negociei eu, ele [Duque] e Silvinho [Pereira] foi em relação às plataformas [de petróleo], da 51 a 56. E depois um oleoduto que ia sair e acabou não saindo. Nesse dia a gente definiu que seria 1% pro núcleo São Paulo, 1% para o núcleo nacional, e 1% para a companhia, Renato Duque e seus gerentse. Três por cento do contrato ao todo”, explicou Moura, esclarecendo que o núcleo São Paulo era composto pelo PT paulista, sobretudo aliados do ex-ministro da Casa Civil e o núcleo nacional era comandado por Delúbio Soares e depois por outros tesoureiros do PT. Segundo Moura, Dirceu usava o dinheiro em campanhas de candidatos aliados.

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Moura falou por cerca de uma hora e meia. O novo depoimento foi feito a pedido da defesa dele depois de o réu contradizer os termos de sua delação premiada ao Ministério Público Federal diante da Justiça Federal há quase duas semanas. Moura afirmou que mentiu diante de Moro porque teria sido ameaçado por um desconhecido um dia antes do depoimento e agiu por “desespero” e “para proteger a família”. Nesta quarta-feira ele se desculpou ao juiz por ter sido “desrespeitoso e jocoso” na audiência anterior.

“Essa delação que eu fiz é integralmente verdadeira. Eu li e assinei”, reafirmou o delator.

Moura relatou ter participado da escolha de Renato Duque para dirigir um setor da estatal. Disse ter falado sobre o nome de Duque com José Dirceu e com o ex-secretário do PT Sílvio Pereira. Segundo ele, houve uma reunião em sala ao lado do local de trabalho do então ministro José Dirceu da qual participaram o presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, o secretário de comunicação Luiz Gushiken, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soare, Dilma Rousseff, no ministério de Minas e Energia, e Silvinho Pereira e todos os nomes foram analisados. No caso da diretoria de serviços havia um impasse entre um indicado de Delúbio Soares e do tucano Aécio Neves e Renato Duque. Dirceu disse que Aécio já havia sido contemplado com uma indicação em Furnas, por isso empossou Duque. Moura soube de tal reunião por intermédio de Silvinho Pereira e assegurou que Dirceu não conhecia Renato Duque até a data de sua nomeação na estatal.

O delator admitiu ter recebido propinas por sua participação na indicação de Duque. De acordo com ele, parcelas trimestrais de US$ 30 mil foram pagas para ele pela Etesco Construções. E depois, como “um cala boca” adicional, passou a receber valores mensais da Consultoria de Recursos Humanos Hope, pagas por Milton Pascowitch e Júlio Camargo. Os pagamentos começaram em 2004. Moura afirmou receber primeiro em dinheiro vivo. Depois, em conta bancária, quando estava no exterior em fuga das investigações do mensalão, a partir 2005.

Ainda em seu depoimento, Moura disse que Milton Pascowitch era seu amigo desde 2002 e atuou como seu emissário para buscar dinheiro de propina nas empresas com contratos com a Petrobras. Isso aconteceu na UTC, Hope, Engevix e GDK. Nesses casos, Moura disse que Renato Duque era quem lhe instruía sobre onde retirar os valores. Questionado sobre exemplos de contratos em que o acordo criminoso incidiu, Moura citou os da consultoria de recursos humanos Hope, das sondas de plataformas petrolíferas, e do oleoduto de Cacimbas, na Paraíba.

O delator ainda demonstrou confusão sobre a própria condição ao dizer que cumpria pena em semi-aberto. Ele foi corrigido pelo juiz. Moura ainda não foi a julgamento e não tem pena restritiva de liberdade.

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