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Dirceu: com seu afastamento da direção do PT, partido passou a ser comandado pelo segundo escalão, sem experiência política. | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Dirceu: com seu afastamento da direção do PT, partido passou a ser comandado pelo segundo escalão, sem experiência política.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Há dez anos, em 6 de junho de 2005, quando o escândalo do mensalão foi detonado pelas revelações do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de recursos a parlamentares da base em troca de apoio ao governo Lula, o PT viveu o que pensava ser a maior crise de sua história. Apesar de não ter interrompido o projeto de poder do partido, que venceria ainda outras três eleições presidenciais, o mensalão deixou marcas profundas, que têm ligação com a situação atual, ainda mais dramática.

Uma década depois, dirigentes da sigla e analistas concordam: as agruras do PT em meio à crise política do governo Dilma e à Operação Lava Jato têm como origem o escândalo mensalão. O efeito imediato da revelação do mensalão por Jefferson foi a destruição de toda a estrutura de comando partidário arquitetada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que brecou os conflitos entre as tendências petistas para viabilizar, assim, a chegada de Lula ao Planalto, na eleição de 2002. “Internamente, foi um desastre. Havia um comando consolidado no PT que foi abatido”, diz um dirigente do grupo majoritário do PT, que pediu para não ser identificado.

Escolha de Dilma para suceder Lula foi consequência do escândalo

Foi o mensalão que possibilitou que Dilma Rousseff, hoje em conflito com o PT por causa do ajuste fiscal, fosse escolhida para suceder Lula. Com amplo controle da máquina partidária, o ex-ministro José Dirceu era o aspirante natural à sucessão de Lula no partido – embora o ex-presidente, à época, desse sinais, segundo petistas, de que o seu preferido era o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

De acordo com um dirigente do PT, Lula mantinha certo “cuidado” na relação com Dirceu, evitando que seu poder crescesse muito. O suposto plano de Lula, porém, cairia por terra no ano seguinte, quando Palocci foi acusado da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que o havia acusado de frequentar uma casa de lobby em Brasília. “Surgiu mais uma janela de oportunidade para Lula, que passou a poder decidir o que bem entendesse sobre a sua sucessão. Dilma passou a ocupar um espaço como técnica sem expressão política, seja no PT ou na sociedade. Isso dava a Lula a tranquilidade de que poderia controlar Dilma como presidente da República”, analisa o cientista político Carlos Melo.

O ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT) entende que a escolha de Dilma solucionou um conflito interno do partido diante da falta de um nome de consenso: “O partido estava em crise, em meio a uma disputa entre as correntes. O presidente teve a capacidade de pacificar o partido naquele momento escolhendo a companheira Dilma, porque ela não era vinculada a nenhuma das correntes. Portanto, pacificava o conflito”. Tarso avalia, porém, que as consequências da escolha de um pessoa desvinculada da vida partidária estão sendo vividas ainda hoje nos conflitos que o PT tem com o Planalto.

Para o ex-governador gaúcho Tarso Genro, da corrente Mensagem ao Partido, opositora à de Dirceu, a legenda ainda vive “sob a sombra do mensalão”. Ele avalia que o escândalo provocou um baque interno ao mostrar que a sigla recorria a métodos que sempre condenou. “O mensalão produziu um impacto muito forte porque toda a militância do partido, suas direções e quadros intermediários, entenderam que o PT estava sujeito a ter as mesmas práticas dos partidos tradicionais”, diz Tarso.

Condução prejudicada

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, avalia que o escândalo, ao abater lideranças petistas como Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoino, João Paulo Cunha, Silvio Pereira e Delúbio Soares, prejudicou a condução do PT. “O partido perdeu quadros importantes, pessoas que tinham experiência e habilidade para manejar a disputa política interna e no Parlamento. Passou a ser dirigido por um segundo time”, afirma Melo, para quem o atual presidente da legenda, Rui Falcão, dificilmente estaria hoje no posto sem o escândalo. “Talvez a direção nacional não fosse tão frágil como é [hoje].”

Líderes petistas entendem que, ao assumir publicamente a defesa de seus dirigentes envolvidos no escândalo, o partido agravou o desgaste diante da população. Num primeiro momento, a Executiva chegou a aprovar uma resolução pedindo “desculpas à nação”, mas, em seguida, passou a contestar provas recolhidas e os critérios do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenaram os réus, entre eles Dirceu e o ex-deputado José Genoino.

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