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A mulher do empresário Marcos Valério de Souza, Renilda de Souza, afirmou nesta terça-feira na CPI dos Correios que o deputado José Dirceu (PT-SP) sabia dos empréstimos que seu marido fez ao PT.A revelação sobre Dirceu deverá precipitar a convocação do ex-ministro da Casa Civil, o que vinha sendo adiado estrategicamente por representantes da base governista.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) considera que a partir de agora a convocação passa a ser inevitável. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) chegou a prever que o depoimento será marcado para a primeira quinzena de agosto.

Cauteloso, o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu que o assunto deverá ser debatido na sessão administrativa desta quarta.

- Sem dúvida, essa é uma novidade que ela trouxe. Mas o Delúbio disse que só ele sabia. Portanto, temos de refletir e investigar qual é a verdade. Temos de saber se Dirceu realmente sabia. Ele será ouvido no dia 2 de agosto na Câmara. Temos de avaliar quando ele virá à CPI - ponderou.

Renilda afirmou ter ouvido do marido que Dirceu, então ministro, sabia dos empréstimos tomados por Valério em nome do PT com bancos Rural e BMG. Segundo Renilda, Valério lhe contou que Dirceu participou de uma reunião com a direção do Banco Rural em Belo Horizonte para resolver o pagamento dos empréstimos.

- Fiquei preocupada e perguntei: como vai ser? Não temos bens para pagar. Ele disse que não poderia ter negado esse empréstimo e que tinha sido pedido pelo Delúbio Soares (então tesoureiro do PT). Valério me falou que não teria vantagem e preocupou-se só em não ter desvantagens, como perder as contas (publicitárias) que tinha no Banco do Brasil. O que acabou perdendo, não adiantou nada - relatou Renilda.

Em nota divulgada no início da noite, Dirceu afirmou que se reuniu em ocasiões diferentes com diretores dos Bancos Rural e BMG no período em que era ministro da Casa Civil, mas negou que nesses encontros tenha tratado de empréstimos ao PT.

A assessoria do Banco Rural também confirmou a realização de um encontro, segundo a rádio CBN. De acordo com a nota, foi um jantar oferecido pela instituição no Hotel Ouro Minas, para "aproveitar a passagem" de Dirceu por Belo Horizonte. O Banco Rural afirma que o objetivo do encontro foi tratar com Dirceu da liqüidação do Banco Mercantil de Pernambuco e não discutir o pagamento de dívidas do PT.

Renilda, no entanto, não envolveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema. Segundo ela, Lula não tem qualquer envolvimento com Marcos Valério:

- Ele não conhece o presidente Lula e nunca manteve encontro, isso eu perguntei a ele (Marcos Valério).

Em outro momento do depoimento à CPI, Renilda de Souza negou que o marido tenha mandado queimar documentos de suas empresas. Há duas semanas, a Polícia Civil de Minas Gerais encontrou em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, documentos fiscais das empresas de Valério queimados em dois tambores. O material estava na casa do irmão do contador do empresário, Marco Aurélio Prata. A polícia conseguiu ainda apreender 12 caixas com mais de duas mil notas fiscais da empresa DNA. Valério, segundo Renilda, teria ficado bastante preocupado com o fato.

Ao depor, Renilda aparentava estar segura nas respostas, demonstrando estar bem orientada por seus advogados. Horas depois, com a pressão dos parlamentares, ela chegou a chorar e se disse esgotada emocionalmente. Após quase nove horas, como Renilda estava visivelmente abalada, o presidente da CPI, senador Delcidio Amaral (PT-MS), decidiu encerrar a sessão.

A mulher do publicitário se descreveu como uma dona de casa, dedicada à vida doméstica, e reafirmou várias vezes nunca ter participado dos negócios das empresas DNA, SMP&B e Grafite, das quais é sócia. Ela explicou que Valério cuida das empresas, com uma procuração sua, e argumentou que é muito comum que esposas que se dedicam às tarefas do lar façam isso com os maridos.

- Eu optei, apesar da minha formação acadêmica (é pedagoga), por cuidar dos meus filhos (uma menina de 14 anos e um menino de 4) e entreguei procuração de confiança que dei ao meu marido. E faria de novo. Sou casada há 18 anos e conheço Marcos Valério há 25. Se não confiasse nele, não haveria justificativa de ser casada - afirmou ela.

Depois, no entanto, Renilda disse que se arrepende de nunca ter procurado se informar melhor sobre esses negócios:

- Eu me sinto um pouco errada, alheia, até covarde de não ter me interessado pelas empresas. Mas foi uma opção minha, de extrema confiança no meu marido. Pelo momento que eu passo, se pudesse voltar atrás hoje eu queria voltar.

A mulher de Valério não soube explicar como foram movimentados R$ 4 milhões em um ano em sua conta no Bank Boston. Segundo Renilda, Marcos Valério não tem procuração para usar essa conta, mas ela mesma nunca fez pagamentos que expliquem uma movimentação dessa magnitude.

Renilda disse que só ouviu falar de mensalão pela imprensa e declarou que Valério só falou com ela sobre empréstimos.

- Ele nunca falou em mensalão, foi essa afirmação que ele me deu. Eu acredito que não seja mensalão, acredito nessa versão que seja alguma conta de partido - disse Renilda

Ela disse ainda que não acredita que o marido seja um operador de fundos para campanhas eleitorais. Para Renilda, é infundada a afirmação de que Valério seria responsável na agência SMP&B por manter contatos com empresários e políticos para captar recursos para campanhas políticas.

- Não acredito que ele seja um arrecadador de fundos eleitorais - declarou ela.

Renilda confirmou que Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações durante o governo Fernando Henrique, recebeu dinheiro de seu marido, a título de honorários advocatícios.

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