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Renato Duque era um dos principais diretores da Petrobras: propina em envelopes pardos. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Renato Duque era um dos principais diretores da Petrobras: propina em envelopes pardos.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Parte da propina do esquema de corrupção da Petrobras circulava dentro da estatal em envelopes pardos. O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou na quarta-feira (11) à Justiça Federal que entre o fim de 2004 e o início de 2005 começou a entregar os pacotes semanalmente para seu chefe, o ex-diretor da área Renato Duque. O sistema, porém, tinha um problema: em cada envelope cabiam somente R$ 60 mil, e os repasses irregulares feitos pelas empreiteiras era muito maiores que isso. Barusco teve, então, que transferir de uma só vez US$ 12 milhões a Duque no fim de 2012 para quitar os débitos.

O ex-gerente da Petrobras foi interrogado como réu em um processo da Operação Lava Jato em que são investigados apenas contratos da Andrade Gutierrez com a estatal. Delator, Barusco foi denunciado em outras quatro ações penas; em uma delas foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na quarta-feira, ele contou ao juiz Sergio Moro que recebia propina da Andrade em contas que mantinha no exterior e a repassava para Duque. No início, enquanto o ex-diretor não abrira contas para movimentar o dinheiro, os repasses eram feitos em espécie:

“No final de 2004, início de 2005, comecei a passar para ele [Duque] volumes em dinheiro. Normalmente R$ 60 mil reais. Eu sei porque passava [o dinheiro] em envelope pardo. E a forma de ajustar dinheiro em envelope pardo era R$ 60 mil reais. Começou com 15 dias, depois passou para semanal e ficou semanal”, afirmou o delator.

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Barusco relatou que o modelo causou um “desequilíbrio”, pois Duque tinha “direito a volume grande” de propina, mas ele conseguia dar “vazão de forma pequena”. Com o tempo, afirmou Barusco, seu chefe abriu contas para que os repasses pudessem ser maiores. Ele não deixou claro, no depoimento, por quanto tempo utilizou os envelopes pardos. O delator fazia a contabilidade dos repasses que recebia das empreiteiras e de quanto deveria encaminhar para Duque. No fim de 2012, segundo o relato dele, ainda havia um débito de US$ 12 milhões com seu superior.

“No final de 2012 tive grande acerto com ele [Duque], em cima de tudo que a gente tinha [recebido] da Keppel [Fels, empresa estrangeira que está sendo investigada sob a suspeita de ter pagado propina para a construção de uma plataforma da Petrobras], tinha uns US$ 14 milhões para receber. E, nesse acerto, foram US$ 12 milhões pra ele e ficaram US$ 2 pra mim. Essa diferença foi para cobrir o que eu devia a ele”, disse.

Durante seu interrogatório, Barusco voltou a falar sobre como era a divisão da propina entre as diretorias da Petrobras e partidos que davam suporte políticos aos diretores: “Quando o cliente era da diretoria de Abastecimento, a propina era 1% para Paulo Roberto [Costa, ex-diretor que também é investigado pela Lava Jato] e 1% para a diretoria de Serviços. Dessa parte, era metade para o PT e metade para o que a gente chamava de “casa”: eu, Duque, eventualmente mais alguém e mais o operador [no caso da Andrade Gutierrez, ele apontou Mario Goes como sendo o operador]”.

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