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Cada vez mais as investigações na Lava Jato e na Zelotes se aproximam do ex-presidente Lula. | Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/Fotos Públicas
Cada vez mais as investigações na Lava Jato e na Zelotes se aproximam do ex-presidente Lula.| Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/Fotos Públicas

Reportagem publicada originalmente em 12/02/2016. Atualizada em 04/03/2016.

“Dois anos atrás, quando essa história começou, eu disse que o Lula seria preso. Riram de mim”, diz um criminalista que defende réus da Lava Jato. “Um ano atrás, começaram a aparecer bonecos dele de roupa de presidiário. Agora, já discutimos a possibilidade de prisão a sério.”

O impensável em 2014 se tornou possível em 2016. E se tornou bastante provável depois de a PF fazer uma condução coercitiva para ouvir o ex-presidente no início de março. Mas será que a prisão do presidente que bateu recordes de popularidade há cinco anos está mesmo por acontecer? E o que ela significaria?

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Ninguém tem como saber hoje qual é o futuro de Lula: nem os integrantes da força-tarefa, nem o juiz Sergio Moro, nem o próprio Lula. As investigações contra ele começaram a se avolumar. Antes simplesmente citado aqui e ali nas delações, o ex-presidente passou a ser investigado em pelo menos duas frentes: na Lava Jato e na Operação Zelotes, que investiga fraudes na Receita Federal.

Embora aliados insistam em desmerecer as acusações, é difícil dizer que as suspeitas deem em nada. No caso do triplex no Guarujá, a suspeita é de que uma empreiteira tenha beneficiado o petista com uma reforma em um apartamento – que não era dele, já que Lula tinha apenas uma cota-parte no empreendimento.

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Na história do sítio de Atibaia, tudo é mais nebuloso. Embora jurem que o imóvel não era de Lula, os petistas estão tendo trabalho para explicar porque o presidente esteve 111 vezes num terreno que recebeu benfeitorias de uma empreiteira e porque tratava o lugar como se fosse seu – dando festas, cultivando hortas e recebendo pessoas. Isso pode leva-lo à prisão? Os advogados que estão envolvidos na Lava Jato têm impressões que variam.

Um deles diz que não há clima no país para prender Lula, até pela importância política e social dele. Há muito se fala que isso causaria uma convulsão social. E, além disso, uma prisão que viesse a se mostrar sem motivo mais tarde, em se tratando de quem se trata, poderia desmoralizar completamente a operação inteira, colocando em risco o trabalho já feito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Se pode ser um marco para a Lava Jato, marcando sua derrocada, pode ser também um ponto de inflexão para os investigados. No PT, não se fala com todas as letras. E obviamente ninguém no partido torce para a prisão de Lula, que acarretaria um imenso desgaste para a já abalada sigla. Mas dá-se a entender que Lula pode ser o mártir de que o partido precisa para sair da defensiva e jogar a população contra supostos exageros da Lava Jato.

“Não tenha dúvidas de que vai haver uma reação”, diz a senadora Gleisi Hoffmann, há quase 30 anos correligionária de Lula. “Este partido não se forjou no ar-refrigerado, se forjou na luta, nas ruas. Lula é um símbolo não só do PT, mas também para os movimentos sociais”, diz ela, alegando que o ex-presidente é alvo de um “direcionamento” das investigações e da cobertura da imprensa.

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O discurso de Jorge Samek, presidente de Itaipu desde os tempos de Lula, apela ainda mais para o martírio. “Pode acontecer com Lula o que aconteceu com todos os presidentes progressistas desse país, como Getulio Vargas e JK. Primeiro desmontam a imagem para décadas depois pedirem desculpas e reconhecerem o tamanho da influência que tiveram para o desenvolvimento do Brasil.”

Como o PT reagiria é algo totalmente incerto. Manifestações de rua? Quase certo. Manifestos impressos? Também. Mas o que mais? O que se sabe é que o partido está encolhendo e se sente nas cordas, apesar de ainda ocupar os cargos mais altos da República. No momento em que seu líder máximo está ameaçado, parece que o clima é de tudo ou nada. Ou o petismo se reergue ou fica marcado para sempre por um escândalo de corrupção historicamente sem precedentes.

Investigações

O nome da mais recente fase da Lava Jato, Triplo X, dá a entender que a força-tarefa está mirando em Lula quando investiga o prédio que a Odebrecht reformou no Guarujá. Seria uma referência ao triplex supostamente reformado para beneficiar o ex-presidente. Não é a primeira “dica” de policiais e promotores nesse sentido.

Quem acompanha as investigações de perto diz que há dois anos era possível ouvir Lula ser chamado de Santo Graal nos bastidores da Lava Jato. Nas coletivas, quando indagados por repórteres sobre se há algo relativo a Lula (que possa levá-lo para a cadeia, por exemplo), a resposta típica tem sido de que “por enquanto, não”. Ou, “ainda nada”.

Seria mesmo a prisão de Lula o grande objetivo disfarçado da Lava Jato. Para o deputado Tadeu Veneri (PT), a explicação é que Lula é “o topo da cadeia alimentar”. Para advogados, de início podia ser que Lula fosse visto como um troféu, assim como Marcelo Odebrecht e José Dirceu – só para citar dois atuais presos da operação. Hoje, como a Lava Jato cresceu, seria possível ver Lula como apenas “mais um”.

Mesmo assim, a investigação sobre Lula é vista com cautela por procuradores, segundo outro advogado. “Lula não tem foro especial, não é mais presidente. Mas certamente não se prende assim um ex-presidente, como se fosse um qualquer”.

No entanto, há quem diga que a cautela é mais do Ministério Público. Se chegar ao juiz Sergio Moro, o processo, apostam, andaria como qualquer outro. “Ele não pensaria duas vezes, desde que ache que tecnicamente é a coisa certa a fazer”, diz um criminalista que sabe do que está falando: teve vários clientes presos por ordem do juiz.

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