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O rabino Pablo Berman: crescimento do papel das mulheres na política é visto com bons olhos | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
O rabino Pablo Berman: crescimento do papel das mulheres na política é visto com bons olhos| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Como o Alcorão e a Torá podem ajudar na eleição?

Quem diria: nas eleições de 2010, Islamismo e Judaísmo também foram inscritos na agenda dos candidatos ao governo da República. Se não diretamente, ao menos como parte de um menu que pretende fazer do Brasil um player geopolítico global, com direito a opinar sobre temas tão espinhosos como a situação do Oriente Médio.

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Nos últimos 40 anos, a pequena comunidade judaica de Curitiba (formada por cerca de 600 famílias) produziu personagens relevantes para a política local, caso do ex-governador do Paraná Jaime Lerner e do ex-prefeito Saul Raiz. Por si só, esse fato evoca questões a respeito de como o Judaísmo conforma o pensamento político de seus fiéis. Para o líder da comunidade judaica no Paraná, o rabino Pablo Ber­­man, os livros sagrados do Judaísmo são pródigos em mensagens e lições para os políticos. "A Torá é muita clara ao observar que Deus manifesta a percepção de que seu povo, em algum momento, terá um líder temporal, um rei. Uma das coisas que esse rei deve fazer é copiar de próprio punho a Torá, o Pentateuco, para ganhar consciência de que o poder mais alto pertence a Deus. Isso, evidentemente, tem a ver com reconhecer Deus e com reconhecer a justiça", observa.

Ao longo de sua história, explica, o Judaísmo produziu obras que se aprofundaram em relação à política. Uma delas é o Pirkei Avot, A Ética dos Pais. "Nesse livro – que se dirige a toda a humanidade – afirma-se que o mundo se sustenta sobre três coisas, sem as quais não pode existir: justiça, verdade e paz", explica o rabino. "Das três, a mais importante é a paz." O bom governante pauta sua conduta pela promoção dos três valores.

Questionado sobre o que o Judaísmo mais condena nos maus políticos, o rabino Pablo Berman explica que a religião atribui uma importância muito grande à relação palavra x ação. "A tradição judaica tem muito cuidado em relação a promessas. É muito fácil falar coisas que, mais tarde, não serão cumpridas. O melhor é tomar cuidado com as palavras, fazer mais e falar menos e, principalmente, cumprir o que for prometido", diz. Algo que coloca boa parte dos políticos brasileiros em maus lençóis.

Receio

Quando o assunto se volta às atuais eleições, o rabino se torna mais circunspecto. Segundo ele, o pluralismo que caracteriza o pensamento judeu faz com que a comunidade não apele a seu líder religioso em momentos de escolha política. "Isso pode acontecer em Israel, onde religião e política estão mais próximas, mas não fora de lá." Mesmo assim, acredita, certos temas são objeto de preocupação do grupo. Deles, o mais premente em termos locais é o que se refere à aproximação entre os presidentes Lula e Ahmadinejad.

"O líder iraniano fala o tempo todo em destruir Israel. Ao mesmo tempo, nega repetidamente o Holocausto, episódio em que morreram 6 milhões de judeus", observa. "Eu, como rabino, vejo com tristeza e preocupação um político que se apóia em argumentos como esse. Da mesma forma, me preocupo com líderes mundiais que apóiam personagens tão sinistros." O rabino, no entanto, evita afirmar que a posição brasileira pró-Irã possa interferir no voto do eleitorado judaico. "As pessoas são livres. Eu, pessoalmente, porém, estou preocupado."

O rabino vê com bons olhos o crescimento do papel das mulheres na política brasileira. "Na tradição judaica, a mulher tem importância fundamental na vida institucional, na formação da família e na educação. Há, inclusive, um episódio bíblico no qual Abraão leva um problema a Deus, que lhe diz: 'Para solucionar a questão, você deve escutar sua mulher, Sarah'".

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