Duas décadas de democracia
A eleição presidencial deste domingo vai marcar o maior período de eleições efetivamente democráticas na história da República no Brasil. Desde o retorno das eleições diretas depois do regime militar, em 1989, já são 21 anos com presidentes eleitos democraticamente, sem revoluções ou golpes de Estado. Esta será a sexta eleição seguida realizada sem os contratempos que marcaram praticamente todo o período republicano no país.
Logo no primeiro mandato presidencial, iniciado em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca renunciou três anos antes da data prevista para deixar o cargo. Desde esse período até 1930, o Brasil teve eleições diretas para presidente. Os pleitos, no entanto, eram marcados pelo domínio das oligarquias da época e pelas fraudes eleitorais.
Em 1930, houve a primeira revolução na República. Vencedor da disputa nas urnas, Júlio Prestes foi derrubado por Getulio Vargas e sequer chegou a tomar posse. Vargas ficou 15 anos no poder, até ser destituído pelos militares.
A partir de então, o Brasil voltou a ter eleições diretas. Isso, porém, não impediu que mais um episódio conturbado marcasse a República, com a renúncia de Jânio Quadros, que governou por apenas sete meses. Na sequência, em 1964, os militares retiraram do poder João Goulart, o Jango, sob a justificativa de que ele seria comunista. A ditadura militar, marcada por inúmeras mortes, se estendeu até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral. Entretanto, em mais um imprevisto político, Tancredo morreu antes de tomar posse e quem assumiu o cargo foi José Sarney.
O contratempo mais recente na história da República no Brasil se deu em 1992. Na ocasião, o então presidente Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo devido à abertura de um processo de impeachment no Congresso por suspeitas de corrupção no governo. Antes da decisão dos parlamentares, Collor renunciou ao cargo. Apesar disso, teve os direitos políticos suspensos por oito anos. (ELG)
Os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) disputam neste domingo quem ocupará o posto político mais importante do país a partir de 1.º de janeiro do ano que vem. O vencedor do pleito, que deve ser conhecido ainda na noite deste domingo, será o 42.º presidente da história do Brasil. Sobre os ombros do eleito, pesará a responsabilidade de substituir um governante que deixa o Palácio do Planalto com aprovação superior a 80%. Outro desafio será manter e ampliar o crescimento econômico do país acompanhado de diminuição da desigualdade social, que marcou os oito anos de governo Lula.
Apesar de representarem correntes político-partidárias completamente antagônicas ao menos na teoria , qualquer que seja o eleito vai enfrentar a mesma dificuldade: governar sob a sombra da comparação com os oito anos de governo do presidente Lula. "Independentemente de quem vença, terá a obrigação muito maior de acertar. O período Lula foi um governo de erros, mas, inegavelmente, de muitos acertos", avalia o professor de Ciência Política e Direito Constitucional Carlos Luiz Strapazzon.
A opinião é compartilhada pelo cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Oliveira. "O presidente Lula é reconhecido como um dos maiores líderes mundiais e, graças a isso, o Brasil teve um aumento de projeção internacional. Quem for eleito terá de lidar com esse papel de destaque exercido pelo presidente", afirma. "Além disso, há a questão social, uma vez que, pela primeira vez na história, tivemos crescimento econômico com redução da desigualdade social."
Por outro lado, Strapazzon destaca que, além dos avanços do período Lula, o legado de estabilidade econômica e a alta preocupação com a eficiência da administração pública que caracterizaram o governo de Fernando Henrique Cardoso também pesarão sobre o eleito. "O novo presidente terá de respeitar as principais conquistas dos últimos 16 anos, que já se transformaram de política de governo em um bem público. Será preciso reconhecer os avanços e manter as coisas boas", argumenta.
Eleições 2014
Ricardo Oliveira alerta ainda para o resultado dos últimos pleitos a partir de 1997, quando a reeleição passou a ser permitida no Brasil. Desde então, todos os candidatos que disputaram a Presidência (FHC e Lula), o governo do Paraná (Jaime Lerner e Roberto Requião) e a prefeitura de Curitiba (Cassio Taniguchi e Beto Richa) foram reeleitos. "Quem for eleito hoje terá uma tendência forte de ser reeleito, desde que apresente um comportamento de governo considerado positivo", analisa.
Outro ponto ressaltado por Strapazzon é a possibilidade de o Brasil eleger a primeira mulher presidente da República. "A sociedade brasileira se acostumou com a igualdade de oportunidades. Uma eventual vitória da Dilma deverá ser olhada pelo fenômeno de uma época marcada pela plena igualdade de gênero", afirma. "Mas isso não pode ser superestimado, afinal ela não se tornou candidata na condição de líder, mas como uma personagem marcada pela continuidade do governo Lula; de perfil técnico e não político."
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