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Ney Leprevost admite que não resiste à polenta. Ele conta como um programa de rádio o aproximou da política. | Antônio More/Gazeta do Povo
Ney Leprevost admite que não resiste à polenta. Ele conta como um programa de rádio o aproximou da política.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Candidato a prefeito de Curitiba, Ney Leprevost é o que se pode chamar de um político tradicional. Com cabelo impecavelmente repartido e dono de um discurso fluido, define-se como “um homem de centro-direita”, alinhado ao “lado do bem”. Talvez pelo perfil clássico, tenha escolhido o restaurante Madalosso para receber a Gazeta do Povo, onde, assim que chegou, fez questão de visitar a cozinha com a familiaridade de quem é habitué. “Meu avô sempre gostou muito daqui. Eu venho desde que tinha dois anos. Eu era enjoadinho pra comer, mas aqui eu comia super bem”, disse o candidato. “Polenta é comigo mesmo”, acrescentou, diante da mesa farta.

O perfil tradicional de Leprevost, no entanto, se forjou ao curso de um caminho longo, permeado por particularidades. Aos 13 anos, vivia pelos cantos, imitando cronistas esportivos do rádio ou narrando jogos de futebol de botão. Ao sentir que o menino tinha jeito pra coisa, o pai – Luiz Antônio Leprevost – pediu uma chance ao jornalista Carneiro Neto. O pré-adolescente fez um teste, foi aprovado e se tornou um jovem repórter esportivo da Rádio Globo.

Dessa forma, de 1986 a 1989, os domingos de Leprevost eram de trabalho à beira dos gramados. Saía cedo de casa, tomava dois ônibus e só retornava ao fim da jornada, sempre depois das 22 horas. Mesmo menino, não se intimidava diante dos atletas profissionais ou dos técnicos mais falastrões, como Émerson Leão. “Além do próprio Carneiro Neto, eu tive profissionais incríveis, como o [ex-jorgador e comentarista Barcímio] Sicupira, que sempre me ajudaram muito. A gente acabava conquistando o respeito”, relembrou.

Confira as informações sobre a candidatura de Ney Leprevost no Guia dos Candidatos

Após três anos, Leprevost deixou a Rádio Globo – e os campos de futebol –, mas não abandonou o microfone. Passou para os estúdios da Rádio Difusora, onde passou a comandar um programa de variedades – entre 1990 e 1993. O candidato conta que ali começou a nascer seu interesse pela política. “Eu ouvia muito a população, me aproximei de pessoas muito humildes e conheci a fundo os problemas delas. Isso foi fazendo crescer a minha indignação e a vontade de fazer alguma coisa pra mudar.”

Empresário de festas

Paralelamente, o jovem Leprevost quis empreender. Criou uma empresa – a Prêmio Comunicação – por meio da qual promovia festas, em um tempo em que não eram chamadas de “baladas”. Em um dos primeiros eventos, pegou carona do sucesso da dupla Leandro & Leonardo e realizou um baile sertanejo, embalado por “Pense em mim”. O evento lotou a extinta Ópera Prima, que agitava o Largo da Ordem. “Só com o dinheiro daquela festa, eu comprei um Santana Quantum verde.”

Naquela época, começou o gosto de Leprevost pela “noite”. Frequentava as festas e pontos badalados. Não dispensava uma cerveja e, para conquistar as garotas, apelava mais para o bom “papo”. Manteve a empresa até ser eleito vereador de Curitiba, aos 22 anos de idade. “Eu acho que a política é incompatível à atividade de empresário. Não concordo que o político enriqueça e alegue que foi por causa da empresa. É como diz o [ex-presidente do Uruguai, Pepe] Mujica: política não é pra ficar rico”, apontou. Leprevost chegou a começar o curso de Direito, mas acabou largando e se formando em Administração.

Polêmicas-clichês

Paraná, Coxa ou Atlético?

Sou Atlético, mas não sou fanático. Já fui em estádio, mas não sou de acompanhar futebol

Sobre a maconha: o que pensa sobre a descriminalização ou legalização? Já usou?

Mesmo se tivesse usado, eu não te contaria. Eu acho um absurdo políticos terem que tomar decisões sobre este tema. Isso tem que ser analisado por autoridades policiais, para analisar o ponto de vista do impacto que teria no tráfico; e por autoridades de saúde pública.

Em relação ao aborto, qual seu posicionamento?

Sou contra qualquer medida que represente a institucionalização do aborto, mas tenho profunda compaixão às mulheres que foram impelidas a fazer [aborto] e que sofrem com isso. Certamente, a maior vítima do aborto é a própria mulher.

Origens

Filho do gerente de banco Luiz Antônio e da professora Jussara, Ney Leprevost cresceu no bairro Santa Quitéria, em Curitiba, em plena década de 1970. A infância foi de liberdade na rua da casa em que morava – que tinha um grande jardim, com três araucárias vistosas. Gostava de descer até a “rua de baixo” com os irmãos, onde faziam rampas com tábuas e tijolos para, em seguida, saltar com as bicicletas.

Ainda menino, viu crescer dentro de si o gosto pela leitura. Em uma temporada em que foi diagnosticado com hepatite – “pelo competente pediatra Plínio Matos Pessoa” –, teve que passar 40 dias na casa da avó, para evitar que seus irmãos fossem contagiados. Naquele período, leu toda a coleção de Monteiro Lobato. “Eu ficava lendo, comendo gelatina e chocolate Nhá Benta”, disse.

Na adolescência, fez natação, basquete e karatê – esporte no qual chegou a ser faixa azul. “Ganhei até medalha”, orgulha-se. Apesar de ter atuado como repórter de campo, não se deu bem nos gramados sem o microfone. “Em futebol, eu era péssimo”, confirmou. Hoje, a rotina o afastou das práticas esportivas. “Meu esporte, agora, é caminhar no Tatuquara, é fazer campanha”, brincou.

Família

Ney Leprevost não chegou a ser o que se pode chamar de um boêmio, mas frequentou “a noite” com afinco por anos a fio. Só abandonou a vida noturna sete anos atrás – aos 35 anos de idade – quando conheceu Carina Zanier, que trabalha em um centro de diagnósticos. “Eu posso dizer que aproveitei bastante a minha vida. Até por isso, hoje sou um marido fiel e dedicado”, resumiu. “Pra mim, o amor chegou mais tarde. Na época, me atraiu o olhar dela [de Carina]. Hoje, eu destaco o caráter”, completou.

Do relacionamento – o casal mantém união estável – nasceu Pedro, que tem cinco anos e para quem Leprevost lê todas as noites. O nome do filho foi escolhido com base na religião: “Era o melhor amigo de Jesus”, justificou o candidato. Os ensinamentos católicos, aliás, se constituem em um dos grandes interesses de Leprevost. Tem predileção por Santo Antonio, mas também gosta de citar São Thomas More, considerado o santo dos políticos. “Ele [Thomas More] não abriu mão de seus valores para continuar amigo do rei”, resumiu.

Antônio More/Gazeta do Povo

Corpo a corpo

No restaurante Madalosso, uma senhora que estava sentada na mesa ao lado interrompeu a entrevista para cumprimentar Leprevost. Ela ouviu algumas declarações do político e fez questão de parabenizá-lo. “É isso que me faz continuar”, disse o candidato. Antes de deixar o local, Leprevost também cumprimentou a proprietária do estabelecimento, Flora Madalosso, de quem levou um puxão de orelha, em tom de brincadeira. “Ele roubou meu oftalmologista”, disse a empresária, em alusão ao fato de Ney ter convocado o médico João Guilherme Moraes para ser seu vice na chapa.

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