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Izabel Fávero segura foto montada pela ditadura em que ela e colegas aparecem com armas para serem incriminados | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Izabel Fávero segura foto montada pela ditadura em que ela e colegas aparecem com armas para serem incriminados| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

5 militantes da Vanguarda Popular Revolucionária foram mortos por agentes da repressão, em episódio que ficou conhecido como a Chacina do Parque Nacional do Iguaçu.

Vítimas de tortura e testemunhas de violações dos direitos humanos na tríplice fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina foram ouvidas ontem no primeiro dia da audiência da Comissão Nacional da Verdade em Foz do Iguaçu. Informações sobre a chacina no Parque Nacional do Iguaçu, na qual cinco militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram assassinados, e relatos de tortura no Batalhão do Exército em Foz dominaram os relatos. Nenhum dos agentes da repressão convocados compareceu à audiência.

O primeiro depoimento foi do jornalista Aluízio Palmar, autor no livro Onde foi que enterraram os nossos mortos. Com base em documentos e informações de testemunhas, Palmar relatou que as vítimas da chacina do Parque Nacional – os irmãos Daniel Carvalho e Joel Carvalho, Víctor Ramos, José Lavéchia e o estudante argentino Enrique Ruggia – caíram em uma emboscada feita pelo ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Alberi Vieira dos Santos.

Outra vítima foi o ex-sargento Onofre Pinto, um dos fundadores da VPR. Pinto, que acompanhava os cinco militantes, teria sido morto com uma injeção letal no Batalhão do Exército, em Foz do Iguaçu, após o assassinato dos companheiros. O corpo dele teria sido jogado no Rio São Francisco, em Santa Helena, onde hoje é o Lago de Itaipu.

O policial Adão Almeida, que a partir de 1980 colaborou nas investigações na tentativa de localizar os corpos dos militantes, foi o segundo a depor. Conforme Almeida, a primeira operação para buscar os restos mortais dos desaparecidos ocorreu em 2003, no município de Nova Aurora, Região Oeste, sem resultados positivos. Após uma nova fase de investigações e com base em informações obtidas com um ex-agente da repressão, três expedições foram feitas no Parque Nacional do Iguaçu, mas sem sucesso. Ex-preso político, Ivan Seixas, presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva, também prestou declarações como testemunhas do caso.

A psicóloga argentina Lilian Ruggia, irmã de Enrique Ruggia, compareceu à audiência. Emocionada, ela disse que Enrique, estudante de medicina veterinária, era adepto ao peronismo de esquerda e deixou Buenos Aires quando tinha 18 anos para ir ao Brasil com os amigos que conheceu na capital portenha. Com muita dificuldade de obter informações no Brasil, ela só pôde confirmar a morte do irmão mais de oito anos depois do desaparecimento.

Um dos depoimentos mais fortes foi da professora Izabel Fávero. Quando militava na VPR, Izabel foi presa em Nova Aurora. Levada para Foz do Iguaçu, foi vítima de choque elétrico, agressões físicas e crueldades. "Essa passagem pelo Batalhão de Fronteira deixou marcas indeléveis. Eu minto se disser que as superei", diz a professora. Alberto Fávero, cunhado de Izabel, e a empresária Ana Beatriz Fortes também relataram torturas sofridas.

Presidida pela coordenadora da Comissão Nacional da Verdade Rosa Cardoso e pelo professor Pedro Bodê, coordenador da Comissão Estadual, a audiência será encerrada hoje. Para Rosa, "o caso dos mortos e desaparecidos e esclarecimentos das violações de direitos são as questões mais importantes da comissão". Caso não compareçam na audiência de hoje, os agentes convocados poderão responder por crime de desobediência.

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