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Requião (ao microfone) discursa durante a sessão da CCJ | Marcos Oliveira/Agência Senado
Requião (ao microfone) discursa durante a sessão da CCJ| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Em meio a uma reunião tumultuada no Senado, com embates acalorados e direito a pane elétrica na cabine de som, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou nesta quarta-feira (9) o parecer do peemedebista Eunício Oliveira (CE) no qual se admite o trâmite da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016 na Casa. O placar registrou 19 votos favoráveis e 7 contrários. A reunião durou quase sete horas.

As 51 emendas apresentadas à PEC – a grande maioria de autoria da oposição – foram rejeitadas, incluindo a que estabelecia a obrigatoriedade de uma consulta popular sobre a vigência ou não das novas regras. A proposta de referendo foi apresentada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

A polêmica ex-PEC 241, na numeração colocada pela Câmara dos Deputados, estabelece uma trava para os gastos públicos pelos próximos 20 anos e é tratada como prioridade para o Planalto neste final de ano. Com a aprovação da proposta na CCJ, o texto segue para votação no plenário do Senado, onde será analisada em dois turnos. O calendário prevê a votação em primeiro turno no dia 29 deste mês e, em segundo turno, em 13 de dezembro. O Planalto, contudo, já trabalha para antecipar o cronograma.

Apesar da vitória da base aliada na CCJ, a oposição fez duros discursos durante a reunião. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) fez um longo voto em separado, encabeçando o protesto dos opositores. Em seu voto, ele mostrou o que seriam pontos inconstitucionais do texto e reforçou o que considera um “grande retrocesso social ao país”.

20 anos

Ao tratar dos pontos considerados inconstitucionais, Requião afirmou em seu voto que a PEC é “autoritária”. “A fixação dos limites das despesas primárias da União já se encontra pré-estabelecida por 20 anos”, o que, na prática, segundo ele, significa que os próximos 5 mandatos no Executivo e no Legislativo estarão “sem poder de ação”. “É um suicídio coletivo do parlamento. Algo semelhante ao que propôs Jim Jones no Equador”, comparou o senador.

Para Requião, trata-se do impeachment antecipado do próximo presidente da República. “A PEC o impedirá de exercer em sua plenitude o mandato que lhe será concedido”, reforçou o peemedebista, alegando violação do princípio constitucional “do voto direto, secreto, universal e periódico”.

Para o relator da matéria na CCJ, Eunício Oliveira, “20 anos é um prazo razoável”. “Além disso, depois de 10 anos, os limites de gastos poderão ser modificados. Prazos inferiores a 10 anos são insuficientes para a dívida pública retornar ao seu equilíbrio”, argumentou ele.

Reunião tumultuada e risco de incêndio

O longo discurso de Requião foi interrompido algumas vezes na reunião da CCJ . O próprio senador do Paraná parou mais de uma vez para reclamar do falatório das pessoas que acompanhavam a reunião no plenário 3, entre assessores, jornalistas, militantes. Mas a confusão maior ocorreu quando funcionários do Senado alertaram para risco de fogo no local, devido a uma pane elétrica na cabine de som da sala.

A reunião foi suspensa e, até sair a definição sobre qual plenário abrigaria os trabalhos da CCJ, senadores, assessores, jornalistas e militantes protagonizaram um vaivém pelos corredores da Casa. Já no plenário 2, o episódio rendeu piadas. Requião, que no dia anterior já havia dito se tratar de uma PEC “feita pelo capeta”, disse que a ameaça de fogo era “um sinal” e que ele deveria fazer um “exorcismo” contra a PEC.

Por volta das 13h30, a leitura do senador Requião foi novamente interrompida, agora pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que aproveitou o cochilo da base aliada para pedir verificação de quórum. Embora o painel eletrônico registrasse a presença de 27 senadores (número total de titulares da CCJ), no local havia menos de dez membros, a maioria da oposição.

Sem quórum mínimo, a reunião poderia até ser suspensa, o que adiaria a votação sobre a PEC, mas o presidente do colegiado, José Maranhão (PMDB-PB), não cedeu ao apelo da petista. Ele afirmou que somente no momento da votação haveria possibilidade de pedir verificação de quórum. Gleisi discordou, Requião reclamou do desinteresse dos senadores, mas a reunião seguiu. A votação final ocorreu por volta das 17h30, aos gritos de “Não à PEC”, que partiam de manifestantes que ficaram do lado de fora da sala. Ao final da votação, três estudantes também começaram a gritar “vergonha” e foram retiradas da sala por seguranças da Casa.

Independência entre Poderes

Requião disse ainda que a PEC afronta o princípio de separação dos Poderes - já que Judiciário e Legislativo foram incluídos nas regras propostas pelo Executivo - e também viola a autonomia financeira do Ministério Público e da Defensoria Pública.

Argumento semelhante já foi colocado pela própria Procuradoria Geral da República (PGR), mas o Planalto nega tal inconstitucionalidade, lembrando que a própria peça orçamentária anual dos Três Poderes é elaborada pelo Executivo.

Saúde e Educação

Requião também sustentou em seu voto que as áreas da saúde e da educação, que já possuem demandas crescentes sem a contrapartida suficiente, ficarão “congeladas” a partir de 2018. “Trata-se de um congelamento de gastos sim, até 2036. Com o agravante de sabermos que os recursos alocados hoje já são incapazes de atender a universalização da saúde e da educação. E já foram submetidos a forte contração devido às medidas adotadas por Joaquim Levy nos últimos dois anos”, disse Requião, em referência ao ex-ministro da Fazenda, na gestão Dilma Rousseff (PT).

Ponto sensível do debate, Eunício Oliveira já havia argumentado em seu parecer que as duas áreas estão “preservadas” na PEC. “É balela, é invenção, dizer que a gente está tirando dinheiro da saúde e da educação. As prioridades serão avaliadas durante a discussão do orçamento e nada impedirá que saúde e educação recebam mais recursos”, disse ele.

Para Requião, a tese do Planalto “é uma ilusão”. “Para aumentar os recursos para saúde e para a educação teríamos que “zerar” os recursos para as outras áreas, como previdência, assistência social, defesa, ciência e tecnologia. Será impossível”, reforçou o paranaense.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que também apresentou voto em separado, leu argumentos semelhantes ao de Requião. “Estamos renunciando à construção de um país”, discursou ele, acrescentando que a oposição está disposta a apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso a PEC seja promulgada pelo Senado.

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