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Dilma desfila na Esplanada durante a posse, na quinta-feira passada: passada a festa, série de problemas para a presidente | Rodrigo Viana/Agência Senado
Dilma desfila na Esplanada durante a posse, na quinta-feira passada: passada a festa, série de problemas para a presidente| Foto: Rodrigo Viana/Agência Senado

Atritos na Esplanada

Veja os "pepinos" que os novos ministros criaram para a presidente Dilma Rousseff já nos primeiros dias de gestão:

Desentendimento público

Na segunda-feira, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou que não existem mais latifúndios no Brasil. No dia seguinte, Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, defendeu a reforma agrária e disse que é preciso "derrubar a cerca dos latifúndios".

"Pito" da presidente

Com apenas um dia no cargo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, levou uma bronca da presidente Dilma Rousseff e, por ordem da petista, divulgou nota desmentido o que havia dito na véspera, de que o governo iria propor uma nova regra para o reajuste do salário mínimo.

Imposto polêmico

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, defendeu a discussão sobre a criação de uma contribuição para financiar o setor, que perdeu recursos em 2008 com o fim da CPMF. Já Armando Monteiro, titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirmou que a volta da CPMF seria um "grande retrocesso".

Fogo amigo

Depois de perder quatro ministérios do primeiro para o segundo mandato de Dilma Rousseff, incluindo pastas importantes como Fazenda e Educação, a cúpula do PT cobra da presidente maior espaço na montagem do segundo escalão. Os petistas focam nos principais cargos nos estados em empresas estatais. Já o PMDB e o PTB, insatisfeitos com o espaço que receberam na Esplanada, ameaçam se declarar independentes no Congresso.

Rejeitada pelo partido

Com o objetivo de demonstrar insatisfação com o espaço recebido na composição ministerial, a cúpula do PMDB não compareceu à posse da ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Em resposta, ela fez uma faxina em cargos até então ocupados por apadrinhados do partido.

O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff herdou de 2014 nuvens negras sobre o Palácio do Planalto: rebelião da base aliada no Congresso, denúncias de corrupção na Petrobras, economia patinando. E o cenário político, que já era difícil, se tornou mais problemático nos primeiros dias do ano. Nem bem assumiram, os ministros recém-nomeados começaram a dar dor de cabeça a Dilma.

Com apenas um dia no cargo, por exemplo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, levou uma bronca da presidente e foi obrigado a corrigir a informação de que o governo iria propor uma nova regra de reajuste do salário mínimo. Divergências também marcaram as posses dos ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Kátia Abreu, da Agricultura, que defenderam publicamente posições conflitantes sobre a questão agrária. Também houve divergências entre outros ministros.

Na Esplanada

O suplente de deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) conhece como poucos o dia a dia da Esplanada. Em Brasília, o parlamentar integrou o 1.º escalão de quatro governos diferentes. Foi presidente do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) durante a gestão de Ernesto Geisel (1974-1979); ministro do Trabalho e Previdência de Fernando Collor (1992); da Previdência e Assistência Social de FHC (1995-1998); e da Agricultura de Lula (2007-2010).

Para ele, a receita é simples: divergências entre as pastas devem ser resolvidas internamente. "Você tem que falar o mínimo possível, cuidar sempre com os discursos. É preciso entender que você é ministro de Estado e, até certo ponto, está acima do governo. Por isso, tem de se comportar como tal – o que não quer dizer que você vai deixar de defender suas ideias."

Ele cita como exemplo justamente as pastas da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, que costumam ter visões distintas sobre os assuntos afins. "Se um não tiver compreensão do outro, vai haver choque. Mas há questões básicas − como terras indígenas, quilombolas, meio ambiente − que a Presidência deve indicar o caminho a seguir", afirma.

Segundo Stephanes, o Palácio precisa se antecipar e indicar o limite até onde cada ministro pode atuar nos casos limítrofes. O parlamentar conta uma situação vivida no 2.º governo Lula em torno dos transgênicos, em que os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente se posicionavam contra a liberação dos produtos. "Ironicamente, foi a Dilma, então na Casa Civil, que chamou todos os atores envolvidos e disse que esse assunto estava decidido. E nunca mais houve discussão." O porém no atual governo, analisa Stephanes, é que Dilma é mais uma "gerentona", que não tem a mesma habilidade de negociação de Lula. "O entendimento entre os ministérios depende da capacidade do governante maior de chamar todos e mostrar qual linha técnica deve ser seguida."

A partir de agora, briga será por cargos no segundo escalão

Além dos problemas na atuação dos ministros, a presidente Dilma Rousseff tem de conviver com a histórica briga por espaço no governo federal. Depois de sofrer para acomodar parte dos aliados nos 39 ministérios, agora a petista se vê pressionada pelos cargos do segundo escalão.

O deputado federal Reinhold Stephanes (PMDB-PR) argumenta que a disputa por cargos não é novidade no mundo político. O problema, na visão dele, está no fato de o governo federal aceitar as indicações partidárias de quadros sem qualificação, sobretudo quando não tem tanto respaldo popular. "Posso contar nos dedos quem, dos 39 ministros atuais, são efetivamente bons, com capacidade gerencial. O mesmo vai ocorrer nos escalões inferiores", lamenta Stephanes. "O correto seria pedir aos partidos a indicação de quadros competentes, para que a própria presidente escolhesse, e não esse loteamento em que a legenda já indica o nome do ministro", diz o paranaense.

Assessor da vice-presidência da República no mandato anterior, o paranaense Rodrigo Rocha Loures (PMDB) classifica como natural a briga por postos no governo e atribui a isso os "ruídos" que ocorrem logo após as nomeações dos ministros. "Isso [as divergências] é típico de todo processo seletivo. Muitos gostariam de ser ministros, mas só há como nomear uma pessoa por pasta", afirma. "É quase que um ritual os que entram serem questionados e os que não entram ficarem na posição de criticar."

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