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Uma reportagem exclusiva do Jornal Nacional da Rede Globo desta quinta-feira (14) mostra divergências nos recibos de rendimentos rurais apresentados pelo senador Renan Calheiros para comprovar a origem do dinheiro da pensão paga por ele à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos.

Calheiros é dono de três fazendas. Ainda arrenda outras três. Segundo ele, 1,7 mil cabeças de gado são criadas nessas terras, todas vizinhas. Que renderam um ganho de R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos.

Mas o gerente das fazendas, Everaldo de Lima Silva, diz que o número de animais é bem menor do que esse. Seriam na verdade 1,1 mil cabeças, ao todo.

Conselho de Ética

Há uma semana, o senador Renan Calheiros entregou ao Conselho de Ética uma relação de cópias de alguns cheques, extratos bancários e 70 recibos em folhas de papel sem timbre ou numeração, assinadas por ele. As cópias referem-se à venda de gado. A papelada, segundo a defesa do senador, comprovaria a origem do dinheiro da pensão paga por ele à jornalista Mônica Veloso.

O Conselho de Ética investiga a suspeita de que as contas de Calheiros foram pagas por Claudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Junior.

O Jornal Nacional recebeu cópias dos recibos enviados por Renan Calheiros. E tentou localizar as empresas e pessoas que teriam comprado animais de suas fazendas. Encontrou situaçoes que contradizem a defesa do senador.

Os compradores

De acordo com o cadastro da secretaria de Fazenda do estado de Alagoas, os donos de três das seis empresas que compraram animais do senador Renan Calheiros moram numa rua do bairro de Rio Novo, subúrbio de Maceió. Duas delas foram multadas por extravio de notas fiscais.

João Teixeira dos Santos, de 82 anos, é sócio gerente da Carnal carnes de Alagoas limitada, já inativa. O senador apresentou três recibos para a Carnal no valor de R$ 127 mil. João Teixeira diz que nunca deu cheque, nem comprou animais de Renan Calheiros.

A empresa GF da Silva Costa também é de Rio Novo. Segundo os recibos, teria comprado R$ 164 mil em bois do senador. No endereço de Genildo Ferreira, dono da empresa, ninguém o conhece. O CPF dele consta como suspenso na Receita Federal. A sede da empresa fica em uma casa em Satuba, uma cidade vizinha. As correspondências da empresa estão acumuladas. Ninguém vai buscar.

A locatária do imóvel, Givanete Maria da Silva, que mora lá há três anos, diz que ali, nunca funcionou negócio de carne. "Aqui nessa casa não", garante ela.

Na secretaria de Fazenda, a reportagem do jornal Nacional descobriu que a empresa também está inativa. E foi multada em R$ 680 mil por extravio de notas fiscais. Cinco recibos apresentados pelo senador são posteriores ao fechamento da empresa.

Roberto Gomes de Souza foi contador da empresa. O mesmo contador da Carnal. Ele disse que não lembra de negócios das duas empresas com o senador.

A Stop carnes é um pequeno açougue. Apesar de estar em funcionamento, também aparece como inativo no cadastro da fazenda estadual. Recibos mostram que o senador Renan teria vendido R$ 47 mil em gado para a stop.

O dono é Elzir de Souza Silva. Ele confirma que comprou animais do senador, mas não sabe dizer quantos, nem tem recibos. "Você me vende o boi. Sei lá se é do Renan Calheiros ou não. Eu paguei a você. Tô comprando a você. Agora se você tá atrás de Renan Calheiros, não sei como é", diz ele. E completa: "Eu nem conheço ele, já viu pobre conhecer rico?"

O maior cliente do senador Renan Calheiros é o açougue São Jorge, em Benedito Bentes. Os recibos estão em nome da MW Ricardo da Rocha, uma microempresa, que teria comprado do senador R$ 429 mil. A empresa, no entanto, declarou faturamento de apenas R$ 23 mil no ano passado. Procurados, os proprietários Maria Waldeci Ricardo da Rocha e José Acácio da Rocha não quiseram dar entrevista.

Outro lado

O senador Renan Calheiros não quis gravar entrevista ao Jornal Nacional. Por telefone, disse que tem como provar com notas fiscais e guias de transporte animal e cheques - a legalidade da venda do gado. Disse ainda que todo o dinheiro foi depositado em sua conta pessoal.

O senador afirmou que todos os negócios foram fechados pelo veterinário Gualter Peixoto - que presta serviço a ele em Alagoas. Renan disse também que não é problema dele se algum empresário tiver enganado o fisco. E que pediu à Secretaria da Fazenda de Alagoas documentos sobre os negócios realizados.

E rebateu as declarações de Everaldo de Lima Silva, gerente de suas fazendas. Segundo o senador, Everaldo é peão da fazenda e não tem noção do tamanho do rebanho.

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