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Insatisfeitas com o tratamento dado pelo governo federal às suas reivindicações, as entidades médicas prometem fazer barulho na eleição presidencial do próximo ano com críticas ao programa Mais Médicos, uma das bandeiras da campanha à reeleição da presidente Dilma.

Em julho, quando Dilma anunciou sua nova política para a saúde, as entidades médicas nacionais romperam com o governo e passaram a colocar obstáculos à estreia do programa federal.

Agora, elas se preparam para não só apontar falhas do Mais Médicos, programa com o objetivo de fixar profissionais nas periferias de capitais e no interior do país, mas também retomar cobranças antigas, como a criação da carreira médica de Estado.

"A classe médica sente que está sendo tratada de forma errada pelo governo, com reivindicações desconsideradas", diz o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo Ferreira Filho.

Em busca de palanques para criticar o Planalto e o programa, médicos já estão até se filiando a siglas de oposição -no Ceará, ao menos 30 médicos entraram no PSDB.

Os médicos apostam em seu poder de influência no eleitorado para movimentar a campanha, principalmente onde a população é mais conservadora e o programa terá menor impacto, como no Estado de São Paulo.

"É comum nós, médicos, sermos indagados por nossos pacientes sobre o que achamos das eleições", afirma o presidente da Associação Médica Brasileira, Florentino Cardoso. "Somos 400 mil médicos atuando e 110 mil estudantes. A maioria dessas pessoas, quando instigadas, certamente irá explicar direitinho à população o que está acontecendo", completa.

O presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D'Ávila, afirma que médicos se opõem ao programa por "identificarem nele uma ação que não resolve o atendimento de forma definitiva".

Motivo de polêmica nos últimos meses, a importação de profissionais da saúde para atuar nos rincões do país poderá ter, em 2014, o peso que a pauta evangélica teve na última campanha presidencial.

Em 2010, a campanha foi marcada pelo debate sobre a legalização do aborto e o casamento entre homossexuais. Adversário de Dilma na ocasião, José Serra (PSDB) explorou o tema e conquistou o apoio de evangélicos e católicos mais conservadores.

Para o cientista político Jairo Nicolau, da UERJ, o Mais Médicos tem até maior potencial de influência sobre o eleitor do que temas religiosos, que têm sobretudo efeito de "reforço de identidade" e pouco peso sobre o voto.

Pesquisas

Dilma, por outro lado, tem a seu favor o apoio crescente da população. De acordo com pesquisa divulgada em setembro pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), 73,9% dos brasileiros apoiam a contratação de médicos estrangeiros pelo programa. Em julho, 49,7% eram favoráveis.

Na avaliação de cientistas políticos, mesmo a oposição precisará de cautela nas críticas. A estratégia, por ora, é dizer que o programa veio tarde e é insuficiente para resolver as carências do setor. "Ninguém pode ser contra o Mais Médicos", diz o deputado Duarte Nogueira, presidente do PSDB paulista. "Somos a favor, mas não é só de mais médicos que precisamos. Tem que ter leito hospitalar, soro, medicamentos."

Para o cientista social e marqueteiro político Antonio Lavareda, o programa de Dilma tem "elevadíssimo potencial" de obter aprovação por focar em uma área que historicamente lidera o ranking de problemas apontados pela opinião pública.

Pesquisa Datafolha de junho deste ano mostra que a saúde é o principal problema para 48% dos brasileiros, à frente de educação (13%), corrupção (11%), segurança (10%) e desemprego (4%).

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