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Aécio Neves mostra retrato em que aparece ao lado do avô e "professor de política" Tancredo | Juca Varella/Folhapress
Aécio Neves mostra retrato em que aparece ao lado do avô e "professor de política" Tancredo| Foto: Juca Varella/Folhapress

Em família

"Virei uma lenda urbana", diz Andrea, irmã de Aécio

Qualquer análise sobre a gestão Aécio Neves, seja de apoiadores ou opositores, passa por menções à irmã mais velha do senador. "Virei uma lenda urbana", diz Andrea Neves. Além da atuação na área de assistência social, entre 2003 e janeiro de 2014, a jornalista ganhou destaque pela participação no Grupo Técnico de Comunicação, montado para gerir a propaganda da gestão tucana.

"Há uma concentração de energia em torno de mim porque me atribuem uma importância que efetivamente eu não tenho", afirma. Segundo ela, a lenda tem dois lados. "Pelo positivo, me dão crédito pelo êxito da comunicação do governo; por outro, virei alvo da oposição."

Para o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), a censura criticada pelo bloco oposicionista na Assembleia passa pela concentração dos recursos de publicidade nas mãos de Andrea, que teria poder de pressão sobre os veículos de imprensa. "Foi uma forma de institucionalizar o que o Aécio queria, o controle total do estado", diz o parlamentar.

Andrea diz que a função do grupo de comunicação é racionalizar gastos. "Você às vezes ligava a televisão e via três campanhas do governo ao mesmo tempo no ar. Agora nós trabalhamos com uma visão estratégica."

A jornalista, que não recebeu salário pelas funções que desempenhou no governo, diz que a fama é inflada pelo perfil discreto e por uma "brincadeira" do irmão, que costumava dizer que era ela quem mandava no governo. Andrea também se admite como protetora. "Eu sou a filha mais velha e toda filha mais velha tem essa coisa de proteção, inclusive pela nossa irmã caçula."

Fora do governo, Andrea vai se dedicar à comunicação da campanha presidencial de Aécio.

  • Aécio ao lado do cacique do PSDB Fernando Henrique Cardoso
  • A irmã Andrea: acusada de censura pela oposição
  • Ivan Beck: iniciativas na área fiscal foram inovadoras

Ninguém supera Minas Gerais no queijo, na cachaça e na quantidade de presidentes. De Afonso Pena a Dilma Rousseff, sete mineiros governaram o país no período republicano. Na terra de Tiradentes, o jeito de fazer política é um traço cultural calcado em moderação, diálogo e, principalmente, na capacidade de articulação nos bastidores.

Veja o desempenho de Aécio

Veja vídeo sobre Aécio Neves

Penúltimo representante do estado no Palácio do Planalto, Itamar Franco foi um ponto fora dessa curva. Governador entre 1999 e 2002 pelo PMDB, passou três anos em guerra com seu ex-ministro da Fazenda e então presidente, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No auge do conflito, declarou moratória e colocou a polícia militar para "proteger" a usina hidrelétrica de Furnas da privatização.

No último ano de mandato, Itamar contrariou a aliança nacional dos peemedebistas com os tucanos e apoiou Lula (PT) contra José Serra (PSDB). Em Minas, porém, seguiu um caminho completamente diferente. Além de desistir da reeleição, esvaziou a candidatura do vice, Newton Cardozo (PMDB), e ficou com Aécio Neves (PSDB).

"Aécio apareceu no imaginário mineiro como um nome capaz de retomar a tradição de uma política centrada, cordata, mas com foco técnico para transformar de novo Minas em uma peça importante no cenário nacional", sintetiza o cientista político Rudá Ricci, professor da Escola Superior Dom Helder Câmara. Após minar as alianças adversárias, o tucano venceu no primeiro turno, com 58% dos votos válidos, contra 31% de Nilmário Miranda (PT) e 7% de Cardozo.

Graças aos efeitos da moratória de Itamar, o tucano assumiu com um déficit de R$ 200 milhões ao mês nas contas estaduais. Anunciou, de cara, um corte de R$ 2,47 bilhões (-12,7%) no orçamento de 2003. Para complicar, o estado passava por uma das piores enchentes da história, que provocou 38 mortes nas três semanas iniciais de mandato.

"Você precisa olhar para os primeiros 30 dias da gestão para entender o que veio depois", diz Andrea Neves, irmã do governador e escolhida para presidir o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) e atuar no Grupo Técnico de Comunicação do governo estadual. Ela, o ex-deputado federal Danilo de Castro (secretário de Governo), e um pouco conhecido advogado chamado Antonio Anastasia (secretário de Planejamento) compuseram o tripé que sustentou as mudanças que estavam por vir.

Coube a Anastasia, tratado pelos colegas como "professor", implantar o "choque de gestão". Inspirado em conceitos da teoria da Nova Gestão Pública aplicados na Inglaterra, o secretário implementou um sistema de criação e aferição de metas para melhorar a qualidade dos serviços. O primeiro passo foi cortar custos.

O número de secretarias foi reduzido de 21 para 15, 3 mil cargos comissionados foram extintos e auditorias setoriais foram criadas para aprimorar o controle de gastos. "Havia uma intenção inicial de elevar a capacidade fiscal da máquina pública e, por outro lado, de entendê-la melhor. Nesse sentido, foi um governo inovador, já que quase ninguém falava disso naquela época", avalia o professor de Administração Pública da Universidade Federal de Minas Gerais Ivan Beck Ckagnazaroff.

O enxugamento fez com que, em 2004, Aécio anunciasse que havia alcançado o "déficit zero", ou seja, o equilíbrio entre receitas e despesas do estado. Com as contas em ordem, faltavam realizações – e a estratégia para fazer investimentos passou pela negociação de empréstimos internacionais. Ao todo, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento financiaram US$ 1,21 bilhão para a gestão do tucano.

O principal legado dos recursos foi o asfaltamento das vias de acesso de 270 municípios. Com isso, das 853 cidades mineiras, só quatro não são ligadas com asfalto (as estradas que chegam a elas são de responsabilidade do governo federal). Na educação, apontada como prioridade por Aécio, o estado variou entre o segundo e terceiro melhor colocado nas quatro avaliações do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica para a rede pública de ensino médio (2005, 2007, 2009 e 2011).

Reeleito em 2006 novamente no primeiro turno e com 77% dos votos válidos, Aécio emplacou Anastasia como vice. Começava uma segunda fase do choque, com a criação dos cargos de empreendedor público. Na época, 130 "executivos" com a responsabilidade de entregar resultados passaram a monitorar todos os programas considerados estratégicos para o governo.

Em relação à riqueza, o PIB per capita de Minas subiu em uma proporção similar à média nacional, mas avançou no ranking entre estados: do 16º lugar, em 2003, para o 13º, em 2010. Na segurança pública, o número de homicídios por arma de fogo a cada 100 mil habitantes caiu no mesmo período de 16 (18ª maior taxa entre estados) para 13,4.

Como síntese da gestão, Aécio entregou em 2010 a Cidade Administrativa, complexo no subúrbio de Belo Horizonte que reúne todos os órgãos do Executivo estadual. Polêmica, a obra consumiu R$ 1,2 bilhão – além do custo, bancado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, ela é criticada pela distância do Centro. Chamada pela oposição de "Brasilinha", o projeto arquitetônico é assinado por Oscar Niemeyer, parceiro do mais ilustre presidente mineiro, Juscelino Kubitschek. O nome oficial do complexo é ainda mais óbvio: Tancredo Neves.

Oposição fala em censura e manipulação

Os 21 deputados estaduais de PMDB, PT e PCdoB que fazem oposição à gestão tucana se uniram em um bloco chamado "Minas Sem Censura". Líder do grupo, Pompílio Canavez (PT) reclama de um "bloqueio" dos veículos de comunicação locais às notícias negativas em relação à dupla Aécio Neves e Antonio Anastasia.

"Estamos falando de gestões pródigas em gastos com propaganda e todos sabemos no que isso resulta", diz o petista. Para ele, o "retrato" de como age o tucano é a tentativa judicial recente de bloquear buscas na internet em sites como Google, Yahoo e Bing e que relacionam seu nome a desvios de recursos e uso de entorpecentes.

Levantamento comparativo com dados de todos os estados publicado pelo jornal Folha de S.Paulo em fevereiro de 2013 aponta que o governo de Minas gastou, entre 2004 e 2011, R$ 683 milhões em publicidade. O número é inferior apenas aos gastos do Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Na relação entre despesa com publicidade e o total do orçamento do estado, no entanto, Minas aparece em 24º no ranking.

Secretário estadual de Administração durante a gestão Itamar Franco, o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB) diz que o dado é "maquiado". Nas contas dele, entre 2003 e 2010, o governo teria gasto R$ 3 bilhões em propaganda. "Existe uma Minas real, que a população vive no cotidiano, e uma ilha da fantasia inventada pelo marketing dos tucanos", afirma Souza Cruz.

Segundo o deputado, o modelo de gestão implantado por Aécio se sustenta em um plano de poder que avança em todas as instituições. "Aqui temos um Tribunal de Faz de Contas, um TRE-cio e uma Assembleia Homologativa, na qual os deputados revogariam até a Lei da Gravidade se isso fosse um pedido do governo", afirma.

Presidente do PSDB de Belo Horizonte e membro do grupo parlamentar de situação, batizado de "Transparência e Resultado", o deputado estadual João Leite e defende o estilo do ex-governador. "Ele persegue sempre o entendimento, mesmo que isso algumas vezes deixe até os companheiros com raiva", diz o parlamentar, que é ex-goleiro do Atlético-MG.

Responsável pela missão de manter o PSDB no governo mineiro, o pré-candidato Pimenta da Veiga diz estar preparado para um embate sobre censura na campanha. "Na falta de algo objetivo para criticar o governo, a oposição aparece com um tema abstrato, que o eleitor não está disposto a comprar", diz o ex-deputado federal, afastado de cargos eletivos desde 2002.

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