• Carregando...

Por ocasião dos 50 anos do golpe de 1964, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou hoje em nota que a tomada do poder naquele ano foi "um erro histórico" do qual setores da Igreja Católica fizeram parte.

Apesar de dizer que alas da igreja inicialmente apoiaram o golpe, a entidade ressalta que houve mudança de posição após a constatação de atos que vinham sendo adotadas pelo regime militar -como perseguição, violência e morte de presos políticos.

Em sua manifestação desta quinta-feira (03/04), a CNBB disse que nem todos os danos causados pelo regime militar foram devidamente reparados.

"Se é verdade que, no início, setores da igreja apoiaram as movimentações que resultaram na chamada 'revolução', com vistas a combater o comunismo, também é verdade que a igreja não se omitiu diante da repressão tão logo constatou que os métodos usados pelos novos detentores do poder não respeitavam a dignidade da pessoa humana e seus direitos", diz a nota.

De acordo com o presidente da CNBB, o cardeal d. Raymundo Damasceno, "aos poucos a igreja foi percebendo que a finalidade desse movimento, desse golpe, que foi para preservar o país do comunismo, foi tomando outra direção, tortura, arbitrariedade, repressão a todas as formas de expressão".

"Com o passar do tempo, a igreja foi percebendo seus excessos, seus desvios, então a igreja se opôs", avaliou.

Responsabilidades

O consultor da Comissão Nacional da Verdade Jorge Atílio Iulianelli disse não ver avanços na manifestação da entidade católica.

"A nota, infelizmente, não é um avanço, na medida em que a igreja não reconhece a responsabilidade institucional, atribuindo a culpa a apenas uma parcela da instituição", afirma.

Iulianelli atua na análise do papel da Igreja Católica durante o regime militar. Ele recorda que, três meses depois do golpe de 1964, a CNBB divulgou nota elogiando a ação militar, que acudiu os brasileiros da "marcha acelerada do comunismo", sem derramamento de sangue.

A declaração dizia o seguinte: "Transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada. Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da nação, e gratos somos a quantos concorreram para libertarem-na do abismo iminente".

O papa à época, Paulo 6º, também se manifestou a favor do regime.

Iulianelli diz ainda que a igreja também foi um espaço para críticas à ditadura e para o fortalecimento democrático da política brasileira. "A igreja tem essa situação de ambiguidade. A resistência ao regime teve muito mais força do que a complacência. Mas não reconhecer a complacência é um erro." O QUE DISSE A CNBB

Em 1964 "Logo após omovimento vitorioso da Revolução, verificou se uma sensação de alívio e de esperança [...]. Deus nos livrou do perigo comunista [...], agradecemos aos Militares" Hoje `Aos poucos, a igreja foi percebendo que a finalidade desse golpe, que foi para preservar o país do comunismo, foi tomando outra direção tortura, arbitrariedade, repressão"

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]