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Militantes do Centro de Direitos Humanos e estudantes fizeram nesta sexta-feira (28) um protesto, em Foz do Iguaçu, em frente ao edifício onde funciona o escritório de advocacia de um ex-agente da ditadura | Christian Rizzi / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Militantes do Centro de Direitos Humanos e estudantes fizeram nesta sexta-feira (28) um protesto, em Foz do Iguaçu, em frente ao edifício onde funciona o escritório de advocacia de um ex-agente da ditadura| Foto: Christian Rizzi / Agência de Notícias Gazeta do Povo
  • Rosa Cardozo, presidente da Comissão Nacional da Verdade, conduziu as audiências em Foz do Iguaçu

Uma vítima de tortura apresentou-se nesta sexta-feira (28) espontaneamente para prestar declarações à Comissão Nacional da Verdade, em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná. Jorge Borges, 69 anos, era soldado e diz ter sido perseguido, preso e torturado no Batalhão do Exército por manter amizade com militantes camponeses do Grupo dos 11 – uma organização de esquerda. Ele prestou depoimento a membros da comissão que estavam acompanhados por sete testemunhas. O relato ocorreu na tarde desta sexta após o encerramento da audiência pública na cidade.

Além de Borges, a comissão também ouviu, em depoimento reservado após a audiência, Otávio Rainolfo da Silva, ex-agente da repressão. Em relatos anteriores, Rainolfo admitiu ter dirigido o veículo que levou seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) ao interior do Parque Nacional do Iguaçu, local onde cinco deles foram mortos, em 1974. Ele nega ter atirado no grupo formado pelos irmãos Daniel e Joel Carvalho, Víctor Ramos, José Lavéchia e o estudante argentino Enrique Ruggia.

Conhecido como ‘Chacina do Parque Nacional do Iguaçu’ o caso é um dos que mais marcaram o período da ditadura na tríplice fronteira. Também fazia parte do grupo o ex-tenente do Exército Onofre Pinto, assassinado no Batalhão do Exército em Foz do Iguaçu após ter se negado a colaborar com o regime.

Dos quatro ex-agentes da repressão convocados pela comissão, apenas Rainolfo foi ouvido. Outro ex-agente acusado, o advogado Mario Espedito Ostrovski, teria deixado a cidade. Ele é apontado como autor de torturas praticadas contra a professora Izabel Fávero, e seu cunhado, Alberto Fávero, no Batalhão do Exército em Foz.

Protesto

Na manhã desta sexta, o escritório de Ostrovski foi alvo de um protesto conduzido por militantes do Centro de Direitos Humanos e estudantes. Um dos estudantes, Alan Camargo, diz ter sido agredido por parentes do advogado quando colava cartazes na frente do edifício onde Ostrovski trabalha e registrou boletim de ocorrência da Polícia Civil. A reportagem da Gazeta do Povo tentou entrar em contato com Ostrovksi, mas não conseguiu.

A Justiça Federal negou pedido da Comissão Nacional da Verdade, interposto pelo Ministério Público Federal, para determinar a condução coercitiva dos ex-agentes que não compareceram à audiência. No entanto, eles ainda podem ser responsabilizados por crime de desobediência.

Na avaliação do professor e presidente estadual da Comissão da Verdade, Pedro Bodê, a audiência foi um sucesso e atingiu boa parte dos objetivos que se pretendia. "Marcou simbolicamente o papel de Foz do Iguaçu e foram reveladas pessoas que não haviam falado", diz.

No total foram ouvidas 10 testemunhas.Bodê diz que a comissão vai continuar a colher depoimentos e montar um arquivo com vistas ao relatório final que será entregue em março do próximo ano. A próxima audiência, ainda sem data definida, deve ocorrer no município de Apucarana.

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