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Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil| Foto: Reprodução

Ferreirinha e Disque-Quércia fizeram história

A fama de Roberto Requião (PMDB) e de seus factóides vêm de antes do primeiro mandato dele como governador (1991 a 1994). Já na campanha ao governo do estado, em 1990, um fato de grande impacto nos eleitores foi amplamente usado em sua campanha política: Requião denunciou a existência do personagem Ferreirinha, um suposto matador de agricultores que servia à família Martinez. Na ocasião, José Carlos Martinez, filiado ao PRN, partido do então presidente Fernando Collor de Mello, disputava o segundo turno das eleições para governador com Requião.

João Ferreira, o Ferreirinha, foi apresentado durante o programa eleitoral de Requião, que venceu as eleições. Depois disso, a Polícia Federal descobriu que Ferreirinha era, na verdade, o motorista Afrânio Luís Bandeira Costa. Com base nos fatos reais, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) chegou à conclusão de que houve crime eleitoral e cassou o mandato do peemedebista. Requião recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e reassumiu o cargo. No fim de 1994, o TSE arquivou o caso, concluindo que houve erros processuais. A justificativa foi de que o processo havia sido aberto apenas contra Requião e não incluía o nome do vice-governador, Mário Pereira. Legalmente, os dois teriam de ter sido citados na ação judicial.

Outra atitude famosa de Requião foi a criação do "Disque-Quércia", com o objetivo de conseguir informações, por intermédio de denúncias, contra o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia. Na época, os dois tinham a pretensão de ser candidato a presidente da República pelo PMDB, nas eleições de 1994. Recentemente, os dois adversários voltaram a circular juntos, como se nunca tivessem sido "inimigos" e como se fossem parceiros, motivados por interesses políticos convergentes.

Oposição também faz denúncias vazias

A oposição ao governo Roberto Requião na Assembléia Legislativa também tem seus factóides. Neste ano, criou suspeitas contra o governo, amplamente divulgadas à imprensa, sem conseguir apresentar ou obter provas consistentes.

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Boa oratória. Estilo imponente. Postura firme. Olhar contundente. Essas são algumas das características dos maiores geradores de factóides – fatos, verdadeiros ou não, divulgados com sensacionalismo para impressionar ou influenciar a opinião pública. No Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) é o personagem político que mais se enquadra nesse figurino.

O último fato repetido à exaustão pelo governador e que teve grande repercussão, principalmente na mídia, foram as denúncias de supostas irregularidades nas aposentadorias de membros do Ministério Público Estadual (MP). Requião denunciou que promotores e procuradores de Justiça se aposentaram como membros do poder público contando tempo de serviço da época em que eram advogados e estagiários.

A notícia não é uma inverdade. Mas, de acordo com os membros do MP, as aposentadorias estão dentro da legalidade. A ira requianista começou quando o MP entrou com ação na Justiça para acabar com o nepotismo praticado pelo governador, que emprega irmãos e outros parentes no Executivo. Atacar a instituição que o está fiscalizando seria a forma encontrada por Requião para tirar a credibilidade do órgão e dizer que o MP também comete imoralidades.

O governador tem investido contra o MP há um mês. Às terças-feiras, durante as reuniões semanais com o secretariado, Requião critica o MP, chamando procuradores e promotores de "marajás da República", dentre outros nomes. O governador chegou a dizer que os verdadeiros nepotistas eram os membros do MP, que têm privilégios na carreira. Dessa maneira, Requião levou parte da população a também se voltar contra o Ministério Público.

Antes da briga com o MP, porém, o governador já havia produzido uma série de outros factóides, como o discurso contra o pedágio e os transgênicos. Requião, durante a campanha eleitoral de 2002, prometeu que o pedágio teria suas tarifas reduzidas ou acabaria. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Pelo contrário, uma nova praça de pedágio começou a funcionar durante sua administração, na Lapa.

Agora, o governador inclusive pretende concorrer à exploração, por meio da Copel, de estradas pedagiadas federais, que serão leiloadas pelo governo Lula no próximo dia 9. A alegação é de que uma empresa pública no ramo do pedágio cobraria tarifas muito baratas. No meio político, porém, especula-se que seja mais um factóide. A Copel não teria capacidade para concorrer com empresas especializadas no ramo. E, mesmo que vencesse o leilão, haveria uma avalanche de ações judiciais contra a participação da Copel. Em qualquer hipótese, porém, Requião continuaria a posar de defensor dos interesses públicos.

Já quanto aos transgênicos, Requião queria que o Paraná fosse uma área livre dos organismos geneticamente modificados (OGM). Ele chegou a sancionar lei estadual proibindo o cultivo, manipulação, importação, industrialização e comércio de transgênicos no estado. O problema é que esse é um tema cuja responsabilidade de normatização é do Congresso Nacional. E a lei paranaense foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Recentemente, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) posicionou-se contra leis estaduais para regulamentar transgênicos. De acordo com Lula, é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTN-Bio) que deve definir critérios para o uso de OGMs. Mas, mesmo assim, Requião ganhou pontos políticos: conta com a simpatia de ambientalistas.

Requião também lançou factóides na área de energia. Disse que a Usina Elétrica a Gás de Araucária (UEG), construída na gestão Jaime Lerner, ia explodir se entrasse em operação. Após anos de ociosidade da usina, disputas judiciais e discursos, o governo comprou as ações da UEG que pertenciam à norte-americana El Paso, por cerca de R$ 430 milhões. Hoje a usina opera normalmente.

O governador ainda disse que uma fissura na barragem da Hidrelétrica de Salto Caxias obrigaria a Copel a esvaziar o reservatório da usina. Especialistas em engenharia hidráulica desmentiram o governador: havia monitoramento constante na barragem e a ela não corria riscos.

A própria Gazeta do Povo chegou a ser alvo de um factóide de Requião, que espalhou outdoors por Curitiba dizendo que o jornal mentia. O motivo foi uma reportagem, no verão de 2006, mostrando que o Paraná tinha o litoral mais poluído do que o de estados vizinhos. Os dados informados na reportagem eram do próprio Instituto Ambiental do Paraná (IAP), ligado ao governo.

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