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Edison Lobão era orientado por Fernando Sarney e Silas Rondeau sobre o que deveria dizer a empresários que recebia | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Edison Lobão era orientado por Fernando Sarney e Silas Rondeau sobre o que deveria dizer a empresários que recebia| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram que o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, permite que o filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), interfira na sua agenda. A informação foi publicada na edição de da Folha de S.Paulo. A reportagem teve acesso ao relatório do inquérito da Operação Boi Barrica – renomeada para Faktor.

Segundo o jornal, conversas interceptadas pela PF mostram que Fernando Sarney e um aliado do senador, o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau, têm acesso livre a Lobão, podendo, inclusive ditar compromissos para o ministro ou para assessores e secretárias do gabinete. As interceptações mostram que eles podiam marcar e cancelar reuniões do ministro sem aviso prévio, e orientavam Lobão sobre o que devia dizer a empresários que recebia em seu gabinete. Além disso, podiam sugerir nomeações no governo, debater sobre contratos que posteriormente seriam assinados pelo ministério.

A Operação Boi Barrica investigou negócios da família Sarney, levando ao indiciamento de Fernando Sarney, filho mais velho do senador, sob as acusações de formação de quadrilha, gestão irregular de instituição financeira, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Foi o inquérito dessa operação que teve o sigilo decretado pelo Judiciário e que, posteriormente, levou à censura ao jornal O Estado de S.Paulo, que está impedido judicialmente de publicar qualquer informação a esse respeito.

Segundo a reportagem, a PF considera que as conversas configuram crime de tráfico de influência, cuja pena é de dois a cinco anos de prisão. Tráfico de influência é definido pelo Código Penal como solicitar ou obter vantagem para influir em órgão público. De acordo com o jornal, o relatório do inquérito afirma que o filho de Sarney coordenou tal prática ilícita.

Edison Lobão, ainda segundo a reportagem da Folha, negou a ocorrência de tráfico de influência e que houvesse ingerência nas nomeações da pasta. Negou também que Fernando Sarney controlasse sua agenda e que exercesse influência no ministério. O ministro afirmou que o filho de Sarney fez apenas solicitações de audiências e que, a pedido de Rondeau recebeu empresários no ministério. Disse ainda que o ex-titular da pasta poderia pedir audiências e ser atendido.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, não quis comentar ontem as denúncias. "Cautela e caldo e galinha não faz mal para ninguém", afirmou Dilma. "No Brasil temos o hábito de pegar uma denúncia qualquer e sair condenando. Acho que tem que se ouvir as partes, as explicações, antes de sair condenando."

Os grampos

De acordo com a denúncia publica ontem pela Folha de S.Paulo, em 16 de setembro do ano passado, o filho de Sarney conversou por telefone com o então assessor de imprensa de Lobão, Antônio Carlos Lima, e disse que tinha marcado um jantar de negócios para o ministro. Na ocasião, segundo a reportagem, Fernando teria dito: "Depois eu me acerto com ele (Lobão)". No mesmo dia, Fernando conversou com Lobão sobre dois compromissos que o ministro teria e deu orientações sobre eles.

Um deles dizia respeito à reunião com representantes de emissoras de rádio e televisão, a fim de discutir maneiras de revogar o decreto presidencial que estabelecia o calendário do horário de verão. Lobão teria resistido. Fernando Sarney declarou: "Escuta e vê se é possível. Entendeu?" E Lobão teria respondido, "tá bom".

O segundo deles, diz a reportagem, refere-se a uma reunião com Lauro Fiúza, da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). De acordo com a Folha, Fernando disse: "Eu tinha acertado com ele que de repente você ia fazer um contato mais próximo. (...) Vão fazer uma exposição para você sobre os projetos". Em 2008, afirma a matéria, a ABEEólica fechou contrato no valor de R$ 10 mil mensais com a RV2 Consultoria, de propriedade Rondeau, para prestar serviços de assessoria.

Em outra conversa interceptada, de 30 de junho de 2008, Rondeau teria pedido à secretária de Lobão para agendar um encontro entre o ministro e o grupo espanhol Gás Natural. Após acertar a reunião, Rondeau ligou a um executivo da empresa e, segundo a reportagem, disse que o ministro tinha interesse em ouvir os executivos da empresa a respeito de investimentos no mercado de gás natural no Maranhão.

Rondeau foi mantido no conselho de Administração da Petrobras, apesar de ter sido exonerado do Ministério de Minas e Energia em 2007 e, depois, denunciado à Justiça.

De acordo com a reportagem, o relatório da PF indica também que Fernando Sarney lidava com nomeações na pasta chefiada por Lobão. Uma das interceptações telefônicas, de 27 de agosto de 2008, o filho do senador e o assessor de imprensa do ministro teriam conversado a esse respeito. Fernando Sarney, diz a reportagem, teria pedido que uma amiga dele fosse empregada no ministério.

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