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"Ô segurança, tem homem no vagão das mulheres!", grita uma moça segundos antes do vagão com o adesivo cor de rosa, exclusivo para mulheres nos horários de mais movimento, sair da estação de metrô de Colégio na manhã desta segunda-feira. No primeiro dia de funcionamento dos vagões exclusivos para mulheres, os vagões da "Luluzinha", houve muito cochicho e risada, quando os homens, sem querer, invadiam o vagão proibido, e nenhuma confusão. A lei, de autoria do presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), obriga a SuperVia e o Metrô Rio a destinarem vagões só para mulheres nos horários das 6h às 9h e das 17h às 20h, nos dias úteis.

Na estação da Pavuna, ponto final da linha 2, agentes do Metrô avisavam os homens para se retirarem do vagão, sob aplausos da mulherada. Nas estações seguintes, algumas mulheres assumiram o papel e passaram a alertar os desavisados que teimavam em entrar no carro:

- Ei! Este é o vagão das mulheres! - alertou uma mulher, orgulhosa de seu vagão exclusivo.

- Ô moço, aqui só pode entrar mulher, não está vendo o aviso rosa? - ralhou outra.

Por todo o lado, o que mais se ouvia eram risinhos e comentários:

- Isso não vai dar certo, eles não obedecem...

- Devia ter um segurança impedindo.

- Podiam avisar pelos alto-falantes, tem gente que não está sabendo.

E em poucos minutos:

- Entrou mais um homem, olha lá - dedurava.

Ana Cristina Santos, que sai todos os dias de Colégio até a estação Uruguaiana, no Centro, onde trabalha numa firma de representação de empréstimos, mudou de vagão só para conferir a novidade. Segundo ela, a viagem foi mais tranqüila e divertida do que o normal.

- Eu tinha entrado no vagão misto, mas me lembrei que hoje começava o carro exclusivo e mudei para ver como ia ser. Estou achando engraçado. Mesmo com alguns homens, o vagão não está tão lotado quanto costuma ficar nesse horário. Se for assim todo dia, vai ser ótimo. Só de não ficar aquele empurra-empurra... Quando eu tiver com meu marido, uso o vagão normal. Quando estiver sozinha vou dar preferência a esse, mais cômodo e mais seguro.

Apesar de animada com a novidade, Ana Cristina acredita que dificilmente a exclusividade será garantida:

- Hoje foi só o primeiro dia. Com o tempo, talvez os homens comecem a obedecer, mas acho que isso não vai vingar. Brasileiro não obedece lei - afirmou.Foto: MArco Antonio Cavalcanti/O Globo

A leitora Cláudia Lopes contou por e-mail que, no percurso que fez esta manhã, de Vicente de Carvalho até o Estácio e depois pela linha 1 até Botafogo, o vagão feminino também não foi respeitado. "Os homens entraram e nenhum agente ou alto-falante informava sobre a lei. Não tinha nenhuma placa avisando na entrada do metrô. Acho inclusive que os próprios condutores deveriam avisar, como fazem todos os dias alertando sobre outros assuntos, como não ficar na porta, respeitar os assentos laranjas. Faltou organização e comunicação já que alguns passageiros não sabiam da lei".

Aos poucos, a agitação do início foi dando lugar ao silêncio. O que se via eram mulheres ouvindo música; lendo revistas, jornais, livros e a Bíblia. Nas rodinhas de conversa, amigas discutiam, claro, sobre a nova lei.

Homens têm opiniões divididas

A reação dos homens também foi variada. Na Pavuna, o último rapaz a sair levou embora a namorada e duas amigas com quem viajava.

- O vagão é exclusivo para mulheres? Então tá, eu saio, mas vou levar três mulheres comigo - disse em tom de brincadeira.

Os avisos, apenas uma tarja rosa no lado de fora do vagão, não foram suficientes. Durante o trajeto no sentido Estácio, o número de homens dentro do vagão foi aumentando, mas todos eram recebidos com olhares curiosos. Um se deu conta que estava em domínios femininos e saiu correndo antes que a porta se fechasse, provocando risos. Outro, para não demonstrar que estava sem graça comentou com uma amiga:

- Logo vi que tinha alguma coisa errada. Eu entrei no vagão e todas as mulheres me olharam e sorriram pra mim... não entendi nada. Agora tá explicado - disse, bem-humorado.

Um ainda perguntou:

- E se for homossexual assumido, pode andar nesse vagão?

E outro, para conquistar a simpatia da mulherada elogiou:

- Não tem vagão mais bonito. Quem vai querer andar em outro?

Mais cedo, indo para a Pavuna, vagões vazios - já que o movimento maior era no sentido oposto -, duas mulheres observavam os carros exclusivos que passavam do outro lado, cheios de homens. Para a técnica de enfermagem Cláudia Araújo de França, nos horários de grande movimento, o ideal seria aumentar o número de vagões:

- Tem gente que não pode se dar ao luxo de esperar um vagão vazio. A pessoa tem hora pra chegar no trabalho e vai entrar no primeiro que der, mesmo que seja o feminino. O mesmo vai acontecer com os portadores de deficiência. No meu caso, não terei problemas já que viajo sempre no sentido contrário do fluxo porque trabalho à noite, vou continuar escolhendo o vagão mais vazio, mesmo que seja com os homens. Aliás, eles devem estar se sentindo injustiçados já que nós, além de termos um carro exclusivo, também podemos entrar nos outros vagões - afirmou.

Já a auxiliar de serviços gerais Maria da Penha Rocha dos Santos ficou curiosa e confessou que estava ansiosa para usar o serviço:

- Eu estava louca para estrear. Um amigo de trabalho que veio comigo, mas entrou no vagão normal, ficou debochando, dizendo que uma mulher poderia sentar ao meu lado e ir me cantando até a Pavuna - riu.

Metrô informa que está cumprindo lei de vagão exclusivo para mulheres

A concessionária Metrô Rio informou, na tarde desta segunda-feira, que está cumprindo todas as determinações da lei. Devido às reclamações de muitos usuários pela manhã, que alegaram não estar cientes das leis a empresa informou, ainda, que caso seja necessário poderá gravar avisos sonoros que serão veiculados dentro dos trens para orientar os passageiros sobre o uso dos vagões exclusivos.

Deputado estudará formas para lei ser cumprida

O deputado estadual Jorge Picciani, autor da lei, esteve na Central do Brasil e viu de perto que muitos homens não respeitaram a lei neste primeiro dia. Ele prometeu reunir-se com as concessionárias para ver de que forma a lei poderá ser cumprida.

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