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Lava jato

Interceptações da PF indicam que Costa foi convidado para ser ministro

Convite para o Ministério das Cidades teria sido recusado pelo ex-diretor da Petrobras poucos dias antes de ele ser preso. Informação é mencionada em troca de mensagens entre doleiro e deputado

O ex-senador Sérgio Guerra: propina para supostamente “travar” CPI da Petrobras que funcionou em 1999 | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
O ex-senador Sérgio Guerra: propina para supostamente “travar” CPI da Petrobras que funcionou em 1999 (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)
Paulo Roberto Costa após sua prisão pela Lava Jato: ex-diretor da Petrobras era ligado ao PP, partido que comanda o Ministério das Cidades |

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Paulo Roberto Costa após sua prisão pela Lava Jato: ex-diretor da Petrobras era ligado ao PP, partido que comanda o Ministério das Cidades

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria sido convidado para assumir o Ministério das Cidades em março deste ano, poucos dias antes de ser preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato. A informação consta de uma troca de mensagens entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA) de 13 março – mesmo dia em que foi anunciada a substituição de seis ministros, entre eles o das Cidades, pela presidente Dilma Rousseff (PT). A conversa foi interceptada pela PF e estava sob sigilo até o início deste mês. Os diálogos não deixam claro se o convite teria sido feito pela própria presidente ou pelo PP, partido que controla o ministério.

Na primeira mensagem, enviada às 19h34, Argôlo pergunta para Youssef: "Vc sabia q chamaram PR pra assumir o Ministério?? E ele n quis. Aguinaldo [Ribeiro, o ministro] saiu hoje" (sic). Segundo as investigações, a sigla PR era usada para citar Paulo Roberto Costa. Youssef responde: "Sabia. Ele já tinha me contado". E em seguida completa: "Foi a melhor coisa q ele fez [não ter aceitado]" (sic).

A troca de mensagens ocorreu exatamente uma semana antes de Costa ser preso por ocultar provas da Operação Lava Jato – que foi deflagrada em 17 de março. À época, Dilma promovia uma reforma ministerial que tinha dois objetivos: liberar ministros que seriam candidatos e pacificar a tensão com o "blocão dos insatisfeitos" do Congresso indicando aliados dos partidos da base.

O Ministério das Cidades faz parte da "cota" do PP, partido que indicou Costa para a diretoria que ele ocupou na Petrobras. Além disso, Youssef é apontado como o operador do esquema de desvio de dinheiro da estatal dentro do partido – que também envolveria o PMDB e o PT, segundo as investigações da PF. Antes de entrar no Solidariedade (SD), Argôlo era filiado ao PP. O deputado responde a processo de cassação de mandato pela relação com o doleiro.

O ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro (PP) deixou o cargo para ser candidato a deputado federal pela Paraíba (e foi eleito). Na época de sua saída, Dilma garantiu à sigla aliada que a pasta continuaria sendo do partido. Publicamente, foi cogitado o nome do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. Mas Gilberto Occhi, que era vice-presidente da Caixa Econômica pela cota do partido, acabou sendo nomeado.

Provável

O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, afirmou que "não acha improvável" que o cliente tenha sido convidado a assumir um ministério. "Ele pediu demissão [da Petrobras] e saiu com os elogios que merecia. Se mais tarde alguém o convidou [para ser ministro], ele deve ter dado coerentemente a negativa", disse. Segundo o advogado, Costa não queria mais ter "nenhum tipo de relação com isso, com o governo, com coisas desse tipo", disse.

Mestieri relata ainda que o desligamento de Costa do governo "foi um processo difícil". E que hoje o ex-diretor, depois de ter firmado o acordo de delação premiada em que detalhou o esquema, está tentando "reencontrar o seu próprio eu". "É um caminho de redenção."

Por e-mail, o Ministério das Cidades respondeu apenas que "desconhece esse assunto". A reportagem procurou ainda a assessoria da Presidência, mas não obteve retorno. Os advogados de Youssef e Argôlo também não responderam aos pedidos da reportagem. O Ministério Público Federal (MPF) e a PF, que conduzem as investigações, não comentaram o assunto.

Ex-diretor da Petrobras diz que pagou propina a tucano

Das agências

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento após o acordo de delação premiada, teria dito que repassou propina ao ex-senador e ex-presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra (PE) para que ele "travasse" o andamento de uma primeira CPI da Petrobras, que funcionou em 2009, durante o governo Lula. A denúncia foi divulgada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo e envolve a parte da investigação que está sob sigilo de Justiça. O jornal diz ter obtido a informação a partir das confirmação de quatro fontes que participam das investigações da Lava Jato.

Segundo o jornal, Costa teria apontado data e valores que teriam sido entregues a Guerra, que morreu em março deste ano – mesmo mês em que foi deflagrada a Operação Lava Jato, que levou à criação de duas outras CPIs para investigar a estatal. No depoimento, segundo o jornal, Costa disse que a propina para Guerra teria sido repassada a pedido de empreiteiras que tinham interesse em neutralizar a CPI. A reportagem da Folha de S.Paulo diz que o ex-diretor da Petrobras não sabe se Guerra de fato recebeu o dinheiro, indicando que teriam sido emissários que teriam procurado o senador. Mas Costa teria relatado no depoimento que acha que Guerra recebeu a propina, pois nunca mais foi procurado por qualquer pessoa para tratar do assunto.

Guerra era integrante da primeira CPI da Petrobras, que funcionou entre julho e novembro de 2009. Ele e o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB) abandonaram a comissão alegando que não conseguiam investigar nada devido ao rolo compressor do governo que impedia os andamentos do trabalho.

Debate

A informação de que um tucano também teria recebido propina de Costa foi citada pela presidente Dilma Rousseff (PT) no debate de ontem do SBT. A petista afirmou ser importante saber como ocorreu o repasse e para quem o dinheiro foi distribuído. Aécio Neves (PSDB) retrucou a adversária dizendo que apenas agora – quando o ex-diretor da estatal citou membro do partido tucano – Dilma dava credibilidade às denúncias sobre a Petrobras. "A senhora tomou alguma providência, pediu o afastamento do tesoureiro do seu partido, candidata?", questionou o tucano em referência a João Vaccari Neto, citado em depoimento à Justiça Federal como responsável por intermediar o repasse de dinheiro desviado da Petrobras para o PT.

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