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| Foto: Ana de Oliveira/ AIG-MRE/

Na última sexta-feira (18), dia em que manifestantes foram às ruas defender o mandato da presidente Dilma Rousseff, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) enviou telegramas a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior recomendando a difusão de mensagens de entidades alertando para o risco de um golpe político no país.

A mensagem partiu da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty (SERE). O texto pedia que cada posto designasse um diplomata para dialogar com as organizações da sociedade civil locais. A ordem acabou abortada por determinação da Secretaria Geral do Itamaraty na própria sexta-feira, mas depois que as mensagens já haviam sido disparadas para postos diplomáticos em todo o mundo.

Nos telegramas despachados de Brasília havia reprodução de comunicados que conclamavam à resistência democrática. O jornal O Globo teve acesso à comunicação diplomática, que já foi invalidada pelo MRE.

Manifesto de ONGs

Perto do meio-dia da última sexta-feira, o Itamaraty disparou o telegrama ostensivo de número 100.752, em que pedia a designação de um servidor — de preferência um diplomata — para ficar responsável por “apoiar adequadamente” o diálogo entre o Itamaraty, a sociedade civil brasileira e a local.

“A ideia era espalhar pelo mundo que há um golpe aqui. E que os governos e a sociedade civil do mundo inteiro se solidarizassem com o PT”, disse um diplomata ouvido pelo jornal sob a condição de anonimato.

A mensagem do Itamaraty foi enviada pelo ministro Milton Rondó Filho, responsável pela área de combate à fome do MRE. Segundo colegas de trabalho, ele é um ferrenho defensor do governo.

Às 16h18, o Itamaraty enviou outro comunicado, novamente feito por Rondó. O telegrama 100.755 retransmite uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que reúne 250 entidades.

O texto começa com a seguinte frase: “É momento de resistência democrática!”, fala em “profunda preocupação” com os rumos do processo político e ataques dos grandes grupos econômicos e da mídia a governos legitimamente eleitos, e conclama, independentemente das posições políticas e ideológicas, a sociedade para a luta pela democracia : “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.

Cerca de uma hora e meia depois desse telegrama, o secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, enviou outro comunicado aos postos no exterior em que pedia para que fossem ignorados os comunicados anteriores.

“Dou instruções. Rogo desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100752 e 100755”.

Mesmo após essa instrução, outra comunicação foi enviada. O telegrama 100.757 reproduziu a “Carta aos Movimentos Sociais da América Latina”, que denuncia um “processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”. A correspondência, assinada por centrais sindicais e outras ONGs, diz que retrocessos não serão admitidos.

Sem autorização superior

“A situação agravou-se nos últimos dias”, afirmam as ONGs ao citarem a ação da Polícia Militar na União dos Metalúrgicos em Diadema e o ataque à sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). Para elas, isso revive os ataques que precederam o golpe militar de 1964 no Brasil.

Segundo o Itamaraty, mesmo que esse telegrama tenha sido enviado após a ordem que anulava a comunicação do ministro Rondó, ele também estaria cancelado. Isso porque o secretário derrubou o primeiro comunicado que pedia a divulgação desse tipo de correspondência.

Consultado, o Ministério das Relações Exteriores informou que essas circulares foram expedidas sem autorização superior e, por isso, foram anuladas. De acordo com fontes do órgão, assim que os primeiros telegramas foram enviados, houve uma reação dos funcionários que criticavam o uso da máquina do Estado para defender o atual governo.

O responsável foi advertido pelo Itamaraty e perdeu o direito de emitir qualquer circular ou telegrama.

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