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MAGISTRATURA

Decidir, por si só, já não é uma tarefa fácil. E, quando a profissão exige essa postura – comparada, muitas vezes, com um poder – diariamente, pode até suscitar um sentimento de aflição. Afinal, o que é "fazer justiça" no caso concreto? É com essa pergunta que os magistrados se deparam todos os dias. O juiz que tem mais anos de profissão do que a idade do magistrado recém-empossado no Paraná tira o desafio de letra, mas ressalta que esse sucesso depende de estudo contínuo. Para o mais novo, ainda há muito para aprender, mas os bons exemplos, até agora, já fizeram a diferença.

O carregador de pedrasRui Antônio Cruz

Está difícil conseguir contato com o juiz Rui Antônio Cruz. Não porque ele esteja aproveitando as férias no exterior, mas porque tem usado todo o tempo livre para cuidar da fazenda. "Aproveito para carregar as pedras", diz. Nascido e criado no interior de São Paulo, Cruz se formou em 1972, em Bauru, mas acabou iniciando a carreira como advogado em Assis Chateaubriand, região Oeste do Paraná.

Mas a advocacia não era sua vocação. Desde os 14 anos, quando começou a trabalhar em cartórios, Cruz sonhava em ser juiz. Em um dia de 1977, um amigo advogado ofereceu algumas causas para ele defender. O motivo: tinha passado no concurso para a magistratura. "Aí eu disse: ‘Puxa, também queria fazer!’". Fez e passou em segundo lugar, tomando posse em 1978, em Loanda.

A partir daí, Dr. Rui sabe indicar quantos dias, meses e anos ficou em cada cidade até fincar raízes em Campo Mourão, há 31 anos. "Tudo que é plantado com chuva vinga e, no dia em que cheguei aqui, caía uma chuva torrencial", justifica. Ele indica aos novos juízes que troquem a cidade das suas placas de carro para Campo Mourão. "Vivam a cidade onde vocês atuam, nem que não fiquem por muito tempo", aconselha.

O começo foi difícil. Certa vez, tinha nas mãos um processo de reintegração de posse e foi pressionado a agilizar a sentença. Leu e releu o documento, mas não entendia nada. Até que, em uma noite, despertou às 4 horas da madrugada: "Puxa vida, o autor não provou a posse anterior". Às 7 horas, a sentença estava pronta. "Percebi que a gente tem que meditar sobre o que leu", diz.

Lendo e meditando, ele fez carreira: são 58 anos de trabalho desde a época dos cartórios e muitas histórias para contar, como em uma ocasião recente, quando uma senhora simples quis "pagar" pela sua atenção. Cruz aceitou o pagamento, desde que escolhesse o presente: "Quero que a senhora reze por mim", pediu.

Para o juiz que viu a lei se transformar e a informatização tomar conta da justiça, o futuro da magistratura é promissor. "Tem uma meninada boa vindo por aí", acredita. Para o seu próprio futuro, espera se aposentar e montar um escritório em casa, não para advogar, mas para receber os amigos, tomar um chimarrão e ler o seu jornal. Aos mais novos, daria como conselho: "Estude bastante, seja participativo na comunidade, em clubes de serviços, obras filantrópicas, porque nessas andanças você conhece as pessoas como de fato elas são".

O seguidorMarcelo Quentin

O prefixo 41 do celular denuncia que o recém-empossado juiz Marcelo Quentin ainda não está bem integrado à sua comarca: Jaguariaíva. Curitibano, ele assumiu o cargo na cidade dos Campos Gerais no dia 9 de maio e confessa que ainda está lidando com o baque inicial. "Todo mundo abaixa a cabeça para mim, fica me chamando de doutor, fala comigo em terceira pessoa", conta.

O rapaz de 34 anos, que não gosta de ser chamado de senhor "porque parece muito tiozão", começou a carreira ainda na faculdade, atuando como assessor no Tribunal de Justiça do Paraná. "Recebi bons exemplos de juízes e desembargadores, principalmente no trato com as pessoas", diz. Os exemplos refletem no trabalho. Nas audiências, Quentin pede que as pessoas olhem nos seus olhos e explica que o magistrado não é "nenhum bicho". A tática tem dado certo: já conseguiu algumas conciliações.

Como seu veterano, o magistrado é otimista com o futuro da profissão: "Acredito nos juízes que estão ingressando e no crescimento da justiça. Uma das coisas que mais me anima é a possibilidade de trazer justiça para onde quer que seja, mesmo nos lugares mais distantes do país", afirma.

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