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"Os candidatos são tão humanos e muitas vezes mais frágeis do que o eleitor. Ninguém gosta de levar porrada. Ou se enfurece e reage, ou se quebranta". Que o digam Marina Silva e Aécio Neves. Contra o ex-governador de Minas, o marqueteiro João Santana — autor da análise acima — saiu-se com acusações de nepotismo em 2014, quando Santana fez a campanha do PT. O tucano acabou chamando Dilma Rousseff de "leviana", no que se voltou depois contra o próprio Aécio: o PT passou a insinuar que, com isso, o senador teria mostrado que era agressivo com mulheres.

Já Marina levou porque chorou — virou aquela que não aguenta a pressão, e onde já se viu isso numa candidata a comandar o país. As estratégias para a reeleição de Dilma — quando Santana, então, passou a ter em sua conta a vitória de sete presidenciáveis — estão em "João Santana: um marqueteiro no poder", de Luiz Maklouf, que chega nesta sexta-feira (23) às livrarias, pela Record. Na avaliação do marqueteiro e jornalista, o pensamento de que quem bate perde eleição é falso, pois perde é quem não sabe bater ou se defender. "A política é, ao mesmo tempo, a sublimação e o exercício da violência", diz.

Para a obra, um "perfil biográfico" de Santana, Maklouf conversou com gente que conviveu com Santana na juventude, no trabalho na grande imprensa e em campanhas, além de ter entrevistado o próprio marqueteiro.

Em determinados momentos, "é mais tático você influenciar os adversários do que o eleitor", resume Santana. E desestabilizar a concorrência foi o objetivo com os ataques, por exemplo, a Marina Silva. Quando ela assumiu a cabeça de chapa do PSB, após a morte de Eduardo Campos — e as pesquisas passaram a fazer de Marina uma rival a ser batida —, o marqueteiro a avaliou e deu o diagnóstico: ela tinha "queixo de vidro". Mas, garante ele, o embate foi "100% político e 200% programático. (...) Marina não revidou ou por ingenuidade, ou por fragilidade teórica, ou por soberba. Talvez mais por soberba". "A campanha de Dilma em 2014 foi o exemplo completo de uso do marketing selvagem e do poder econômico numa eleição", disse Bazileu Margarido, porta-voz da Rede e que participou da campanha da ex-senadora, ao comentar as declarações de Santana no livro.

Os ‘superbombardeios’

Também segundo Maklouf, foi Santana o primeiro na campanha petista a dizer que não seria Marina a companhia de Dilma no 2º turno, mas, sim, Aécio. E o queixo mineiro não era de vidro; contra ele, argumentou o marqueteiro, a presidente tinha de ser mais propositiva. Os ataques mais duros ao senador, que havia perdido para Dilma em sua própria terra no 1º turno, viriam no final: "a ação negativa (contra Aécio) deveria ser feita em ‘ondas superconcentradas’ (...). Ou seja: escolher determinados dias e temas para superbombardeios". Foi assim que os brasileiros começaram a ouvir, sobre Aécio, que "quem conhece não vota". "Aécio quis se fazer de vítima e de superior (...). Chegou a lançar um slogan ridículo e inócuo: ‘A cada ataque, uma proposta’. Isso não produziu nem defesa, nem proposta", diz Santana.

No dia da votação, Dilma não fez discurso de derrota. Quando saiu o resultado, e ao se preparar para a 1ª aparição como reeleita, ela recorreu ao marqueteiro: "Vou com roupa de que cor?".

O início da relação entre a petista e o baiano não foi tranquilo. Em 2010, ao debaterem o 1º programa de TV, Santana conta que Dilma "achou a presença dela muito light (...). Eu disse que o protagonismo (dela) tinha que ser gradativo. Tive que ser duro".

Apesar dos atritos entre a gerentona e o "voluntarismo" que Santana admite ter, ela se decidiu pelo baiano. Mas conversou com Duda Mendonça a pedido do amigo Fernando Pimentel — "a bicha mais invejosa que tem", diz Santana. Além de frases do marqueteiro pontuadas por palavras pejorativas e xingamentos, o livro também traz trechos do romance de Santana, "Aquele sol negro azulado", de 2002, a história de um casal.

Duda e Santana tinham sido sócios e rompido na campanha de Lula em 2002. Santana sairia. Lula "compreendeu, me deu um abraço e me presenteou com um comprimido enorme de Viagra’ ", conta Santana. Ele voltaria a trabalhar com Lula em 2006, quando o reelegeu.

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